Não é segredo para ninguém que o universo criado por George R.R.Martin é povoado por uma grande sorte de atrocidades e carnificina. O autor da dos livros “As Crônicas de Gelo e Fogo”, que deu origem à série de TV “Game of Thrones transmitida pela HBO, coloca seus personagens em grande sofrimento e não exita em matá-los das formas mais chocantes possíveis. 

Na lista de personagens mais azarados das terras de Westeros, Theon Greyjoy com certeza está no Top 5. No primeiro livro de Game of Thrones, o personagem já está há anos longe de sua terra natal, destinado a viver como refém da família Stark, a quem jura lealdade e aprende a conviver como se fosse um deles. Nota-se que Theon, desde muito cedo, já apresenta um desligamento com as suas origens e passa a não saber ao certo onde realmente é o seu lugar.

Os conflitos internos estão sempre presentes, principalmente quando se vê obrigado a odiar os seus captores, mas não consegue, pois foi criado com os garotos de Winterfell, o reino dos Stark. Diferentemente deles, Theon, vivido pelo ator Alfie Allen, na série de TV, sempre apresentou valores morais baixos e se tornou um dos personagens menos queridos da série. Mas a coisa fica pior quando o seu encontro com Ramsay Bolton acontece.

Quando o herdeiro de Roose Bolton, Ramsay, captura Theon, ele o sentencia a um destino muito pior do que a morte. Novamente vivendo sob as terras de um captor, Theon sente na pele que, com o sádico Ramsay, a vida não seria tão boa quanto a que tinha com os Stark. Ramsay tortura, mutila e faz uma perfeita lavagem cerebral no jovem herdeiro de Pyke, que abandona toda a sua essência ao adotar uma nova personalidade chamadaFedor. 

Com tanto sofrimento e terror psicológico, Theon não mais se lembra do seu passado e muito menos do próprio nome, e passa longos meses sob o espectro de Fedor, seu novo eu. 

O que é estresse pós-traumático?

Segundo o site do Dr. Dráuzio Varella, “o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais em decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros.”

Ao recordar dos fatos passados que lhe causaram o trauma, o paciente tende a reviver o episódio como se ele estivesse acontecendo novamente, despertando as mesmas sensações e emoções. Essa recordação é conhecida como revivescência e gera alterações neurofisiológicas e mentais.

“Aproximadamente entre 15% e 20% das pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas em casos de violência urbana, agressão física, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, sequestro, acidentes, guerra, catástrofes naturais ou provocadas, desenvolvem esse tipo de transtorno. No entanto, a maioria só procura ajuda dois anos depois das primeiras crises”, informa o site do Dr. Drauzio Varella.

As causas do TEPT são um tanto incertas, mas segundo uma pesquisa desenvolvida pela UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo), existe a hipótese de desequilíbrios dos níveis de cortisol ou na redução de 8% a 10% do córtex pré-frontal e do hipocampo, áreas localizadas no cérebro, serem a raiz do problema. 

Sintomas de estresse pós-traumático

O estresse pós-traumático pode se manifestar da forma aguda cujo início se dá dentro de 6 meses, e também de forma crônica com mais de 6 meses de duração dos sintomas. Os sintomas podem ser divididos nas seguintes categorias, de acordo com o Dr. Drauzio Varella:

a) Reexperiência traumática: pensamentos recorrentes e intrusivos que remetem à lembrança do trauma, flashbacks, pesadelos;

b) Esquiva e isolamento social:  a pessoa foge de situações, contatos e atividades que possam reavivar as lembranças dolorosas do trauma;

c) Hiperexcitabilidade psíquica e  psicomotora: taquicardia, sudorese, tonturas, dor de cabeça, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, hipervigilância.

Theon e o trauma

O consultor em segurança e escritor Myke Cole, leitor das obras de Martin, notou que os sinais de Theon se assemelhavam aos que ele mesmo já havia presenciado após servir três vezes no Iraque. ele, mais do que ninguém, conhece os traumas mentais e emocionais que a guerra e eventos traumáticos têm nas pessoas. 

“Quando terminei “A Dança dos Dragões”, percebi em um estalo que Martin tinha capturado a gama de reações associadas ao transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)”, escreveu para o livro Além da Muralha (Ed Leya).

Sobre Theon e a reexperiência traumática, ele apresenta constantes pensamentos que remetem ao trauma, mesmo quando se livra de Bolton. A imagem fornecida através de flashbacks e pesadelos o deixaram mais sério.

O jovem ainda experimenta o isolamento social em que se sente incapaz de firmar vínculos nem mesmo com a própria irmã Asha (Yara, na série de TV). Em um episódio da sétima temporada, Theon tem a chance de salvar a irmã, mas a abandona à própria sorte, pois a situação estressante o lembrava do próprio trauma.  

Em entrevista à Newsweek, Gemma Whelan, atriz que vive a irmã de Theon na série de TV, comentou o episódio do abandono. “Ele tem transtorno pós-traumático. Ele fica assustado. Ele não pode fazer nada para ajudá-la daquele jeito. Eu não sei se ele teve o pensamento ‘se eu sair agora, eu posso salvá-la’. Eu acho que ele tem um trauma e depois ele ficará chateado com ele mesmo. Ele pode fazer algo sobre isso… Nunca se sabe.”

Os tratamentos para o transtorno pós-traumático envolvem a terapia cognitivo-comportamental e a indicação de medicamentos ansiolíticos, quando necessários. O acompanhamento psicológico é vital na recuperação do paciente que sofre TEPT, não só para reduzir os sintomas, mas para fazê-lo entender a própria história e se perdoar.

Ainda não sabemos como Theon vai se recuperar do transtorno e se é que vai, afinal não existem psicólogos em Westeros. A esperança é a de que o personagem consiga ultrapassar essa fase obscura da vida e se redimir de todas as coisas erradas que fez.

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