Sempre achamos que estamos no controle das nossas ações. Pensamos e realizamos, certo? Entretanto, existem aquelas situações em que simplesmente recorremos ao irracional. É involuntário, mas acontece. Pode vir na forma de realizar um comportamento que você havia prometido deixar para trás ou fazer algo que prejudica a si mesmo. Bem, a psicanálise pode explicar tais questões.

Nesse sentido, devemos lembrar das descobertas de Sigmund Freud no campo de estudo da psicologia. O fundador da psicanálise procurou compreender as instâncias psíquicas, além de decifrar as intenções e vontades do inconsciente.

As transformações causadas pela teoria psicanalítica permitiram avanços no entendimento da mente humana. Dessa forma, os conceitos teóricos apresentados por Freud foram capazes de revelar uma nova vertente de conhecimento.

Sendo assim, conheça mais sobre o assunto e aprecie essa introdução à psicanálise.

História da psicanálise

Para entender o que é psicanálise precisamos conhecer a trajetória de Freud e de seus colaboradores e tutores. Dessa forma, será preciso voltar até o final do século XIX e rever o desenvolvimento das ideias iniciais do fundador dessa escolástica.

Sendo assim, podemos compreender o início dessa jornada em 1881, ano em que Freud se formou em Medicina pela Universidade de Viena. O pai da psicanálise, então, especializou-se em psiquiatria e demonstrou ser um renomado neurologista.

Nesse sentido, Freud começou a trabalhar na área clínica, porém encontrou diversos pacientes com “problemas nervosos”, o que aguçou o seu interesse sobre as questões mentais e como resolvê-las.

Então, o pai da psicanálise acabou indo para Paris, entre 1885 e 1886, para trabalhar junto com Jean-Martin Charcot, neurologista francês. Dessa forma, Freud estudou o tratamento de histeria realizado pela hipnose.

Depois disso, Freud continuou estudando sobre doenças nervosas e estabeleceu uma nova teoria: as pessoas que não colocavam os seus sentimentos para fora acabavam ficando com a mente doente. Nesse sentido, ele procurou estabelecer novas conexões entre as emoções e as decorrentes consequências.

LEIA MAIS: Qual a diferença entre psicólogo e psiquiatra?

Entretanto, um grande avanço no desenvolvimento dos conceitos da psicanálise aconteceu com a parceria de Freud com Joseph Breuer, médico austríaco da época. Juntos acompanharam o caso clínico de Anna O e escreveram suas descobertas no livro “Estudos sobre a histeria”.

Durante a parceira, eles procuravam utilizar uma intervenção na qual permitia os pacientes reviverem suas experiências passadas através do estado hipnótico. Sendo assim, buscavam acessar os sintomas histéricos dessas pessoas.

No entanto, Freud e Breuer discordavam em relação à etiologia do transtorno psíquico da histeria. Nesse sentido, Freud acabou percebendo algumas limitações do tratamento com a hipnose, pois nem sempre eram garantia de sucesso.

Então, Freud continua os seus estudos e decide abandonar a intervenção pela hipnose como forma de tratar as pessoas. Dessa forma, passa a utilizar o método da livre associação, em que os pacientes eram convidados a falar tudo e sem censuras. Essa mudança, que acabou sendo a técnica definitiva de Freud, acaba marcando o início da psicanálise.

Psicanálise: o que é?

Acabamos de compreender todo o processo histórico que culminou no surgimento da psicanálise, entretanto, o que é a psicanálise? Nesse sentido, existem diversas definições que podem ser utilizadas, mas iremos nos ater aos conceitos básicos.

Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA), “a psicanálise é uma especialidade da psicologia que se distingue de outras especialidades pelo seu corpo de conhecimentos e suas abordagens intensivas de tratamento. Ele visa mudanças estruturais e modificações da personalidade de uma pessoa”.

Basicamente, trata-se de um método utilizado para investigar a mente e, principalmente, compreender o inconsciente das pessoas. Ou seja, procura entender as nossas atitudes que acontecem quando estamos no “piloto automático”.

“A psicanálise promove a consciência de padrões inconscientes, não adaptativos e habitualmente recorrentes de emoção e comportamento, permitindo que aspectos anteriormente inconscientes do eu se integrem e promovendo o funcionamento ideal, a cura e a expressão criativa”, completa a APA.

Dessa forma, a psicanálise procura reestruturar a personalidade, entender a vida emocional e os modos de funcionamento dos pacientes. Além disso, realiza um trabalho a longo prazo com aspectos conscientes e inconscientes do eu.

Sendo assim, não é preciso ter dúvidas quanto ao que significa psicanálise. Afinal, é uma técnica específica usada para explorar os limites da mente, além de ser bem efetiva quando utilizada dentro das terapias.

Fundamentos da psicanálise

A psicanálise de Freud possui diversos conceitos e estruturas, entretanto, conseguimos dividir tais questões em duas formas de compreender o aparelho psíquico. Então, a disposição da mente pode ser dividida entre primeira tópica (modelo topográfico) e segunda tópica (modelo estrutural).

Sendo assim, iremos nos aprofundar nas fases teóricas de Freud. Vale ressaltar que cada uma delas conta com três elementos que constituem a divisão da mente humana. Além disso, uma não substitui a outra, porém demonstra a evolução histórica das concepções mentais.

Primeira Tópica

A primeira tópica, também conhecida como modelo topográfico, procurava estruturar o aparelho psíquico em padrões e transições entre as partes, além de explorar os elementos do sistema perceptivo-consciente.

Dessa forma, a primeira concepção do funcionamento do psiquismo de Freud trabalhou com os conceitos de pré-consciente, consciente e inconsciente.

Pré-consciente

O pré-consciente corresponde as partes latentes do cérebro que estão prontamente disponíveis para a mente consciente, embora não estejam em uso no momento. Dessa forma, mesmo esses conteúdos não estando na consciência, eles podem ser acessados.

Sendo assim, o pré-consciente é referente àqueles fatos dos quais ainda não estamos conscientes, mas que existem na latência e podem ser facilmente chamados quando necessário.

LEIA MAIS: A hora de procurar ajuda psicológica

Além disso, vale ressaltar que esse estado é acessível conforme a nossa própria vontade, diferentemente do inconsciente, que é inacessível. Ainda, o pré-consciente manifesta as representações de palavra, ou seja, as memórias das palavras que escutamos.

Consciente

A mente consciente contém todos os pensamentos, memórias, sentimentos e desejos dos quais estamos conscientes a qualquer momento. Dessa forma, trata-se de um aspecto do nosso processamento mental sobre o qual podemos pensar e conversar racionalmente.

Nesse sentido, a consciência é um fenômeno baseado na percepção do imediato. Ou seja, a mente consciente inclui aquilo que estamos cientes a nossa volta, além de ser constituído de fatores que podem ser facilmente levados à tona.

Freud e o inconsciente

A mente inconsciente inclui tudo aquilo que está fora da nossa consciência. Sendo assim, pode incluir dos mais secretos desejos até as primeiras memórias da infância. Nesse sentido, trata-se de um reservatório de pensamentos, impulsos e sentimentos.

Além disso, Freud acredita que o inconsciente pode conter conteúdos desagradáveis, como traumas e dores vividas. Então, como tais situações podem gerar conflito interno e repercussões negativas, elas ficam enterradas no inconsciente.

Mesmo assim, esses pensamentos e impulsos continuam a influenciar na maneira como agimos e nos comportamos. Dessa forma, a abordagem psicanalítica procura compreender esse aspecto para ajudar os pacientes. O inconsciente pode ser acessado através da livre associação, sonhos e atos falhos.

Segunda Tópica

A segunda tópica, também conhecida como modelo estrutural, procurou ampliar e desenvolver os conceitos presentes do seu antecessor. Sendo assim, atualizou caracterizações e apresentou novas noções sobre a psique humana.

Dessa forma, a segunda concepção do funcionamento do psiquismo de Freud trabalhou com os conceitos de id, ego e superego.

Id

O id é a parte impulsiva (e inconsciente) da nossa mente, além de responder direta e imediatamente a impulsos, necessidades e desejos básicos. Sendo assim, ele se envolve no processo primário de pensamento, que é primitivo, ilógico, irracional e orientado à fantasia.

Dessa forma, é possível observar que o id é regido pelo prazer, ou seja, é orientado pelos instintos e paixões internas. Trata-se de um grande reservatório da libido, do qual o ego procura se distinguir através de vários mecanismos de repressão.

Nesse sentido, todo impulso desejável deve ser satisfeito imediatamente, independentemente das consequências. Para Freud, o id opera no princípio do prazer, isto é, quando atinge as demandas, experimentamos contentamento.

Ego

Enquanto o id reforça o princípio do prazer, o ego está relacionado com as demandas da realidade. Dessa forma, está preocupado em atender as percepções do mundo real, além de estar associado a questões de razão e sanidade.

Desse modo, o ego é importante, pois ajuda a controlar os impulsos do id e faz com que as pessoas atuem de forma socialmente aceita e realista. Trata-se de atuar como um equilíbrio entre os nossos impulsos básicos, nossos ideais e a realidade.

O ego também possui certos mecanismos de defesa para se proteger da ansiedade. Sendo assim, utiliza ferramentas como salvaguardas para impedir que determinados aspectos desagradáveis do inconsciente entrem na consciência.

Superego

O superego é o último aspecto da personalidade presente e ele contém nossos ideais e valores. Nesse sentido, representa os valores e crenças que aprendemos desde pequenos pelos nossos pais e pela sociedade, então, serve para reforçar o sentido de agir de acordo com a moral.

Dessa forma, o superego atua duas formas: pretende persuadir o ego a se voltar para objetivos moralistas, além de controlar os impulsos do id, principalmente aqueles proibidos pela sociedade, como sexo e agressão.

LEIA MAIS: Psicologia online é melhor do que a presencial? Entenda as diferenças

Teoria psicanalítica: escolas de pensamento

Ao falarmos de teoria da psicanálise não é possível citar somente uma escolástica. Apesar de Freud ser o criador dos primeiros conceitos, os termos evoluíram conforme o tempo e diversos autores contribuíram com novas visões sobre a área.

Dessa forma, iremos compreender os diferentes campos de conhecimento que existem em relação ao conceito de psicanálise.

Teoria freudiana

Como vimos, a teoria de Freud foi a primeira a tratar sobre psicanálise. Além disso, o arcabouço conceitual está amplamente baseado nos conceitos encontrados na Segunda Tópica, que abordam o id, o ego e o superego.

Mesmo assim, ainda podemos apontar algumas técnicas criadas e desenvolvidas dentro dessa teoria para tratar os pacientes. Um dos principais elementos que encontramos é a associação livre, que consiste, basicamente, na pessoa expressar livremente as ideias que surgem na mente e sem qualquer julgamento prévio.

Ainda, Freud trabalha com a ideia de conflitos psíquicos, que são o resultado do embate entre nossas forças instintivas e repressoras. A teoria freudiana também considera importante a análise dos sonhos como uma forma de acessar o inconsciente.

Psicanálise lacaniana

Essa escola de pensamento é resultado dos trabalhos de Jacques Lacan, um filósofo que implementa a visão de sua formação na psicanálise. Dessa forma, a teoria enfatiza a construção do “eu” e a estrutura linguística.

De acordo com Lacan, para conseguirmos entender a pessoa precisamos entendê-la como um todo, ou seja, é necessário compreender o íntimo de cada um junto com a ligação dessa concepção com o mundo exterior.

Além disso, a psicanálise lacaniana acredita que o indivíduo é formado pela linguagem. Nesse sentido, entende que o mundo é construído de símbolos e as pessoas somente consegue reconhecer tais atributos por conta da linguagem.

Psicanálise winnicottiana

O pediatra e psicanalista Donald Winnicott é o responsável por adotar uma postura de análise na relação entre a criança e a mãe. Sendo assim, o teórico procura entender o elo dos dois e o resultado para a construção da psique do indivíduo.

Desse modo, a psicanálise winnicottiana acredita que a constituição mental do bebê é estruturada e desenvolvida a partir das relações maternas. Então, a evolução da psique está diretamente relacionada com a satisfação das necessidades básicas e relacionamento com a genitora.

Nesse sentido, vale ressaltar que o entorno familiar e social influencia a formação de caráter da pessoa, sendo a mãe o principal fator envolvido dentro dessa equação. Isto é, caso a criança esteja num ambiente favorável ela conseguirá desenvolver aspectos positivos, porém, o contrário também pode ser aplicado.

Escola dos Teóricos das Relações Objetais de Klein

A teoria desenvolvida por Melanie Klein procurou compreender a mente das crianças. Dessa forma, utilizou da análise de comportamento para descobrir os medos, angústias e fantasias presentes no universo infantil.

Sendo assim, a escola propõe o uso das brincadeiras como forma de ter acesso ao inconsciente dos pequenos. Ainda, procura compreender as fantasias inatas das crianças através de um tratamento utilizando ferramentas lúdicas.

Além disso, a agressividade é vista como componente principal no desenvolvimento das crianças, diferente dos aspectos sexuais como aponta Freud. Aliás, conforme Klein, tal elemento é o resultado de um ego primitivo existente desde o nascimento.

Teoria do Pensar de Bion

A teoria desenvolvida por Wilfred Bion procurou compreender a forma como lidamos com a frustração, além de servir como um método para criar novas realidades capazes de satisfazer nossos desejos não satisfeitos.

Nesse sentido, o teórico acreditava que o pensar seria uma saída para o desapontamento e que ele dependia de dois componentes: a faculdade de pensar e os próprios pensamentos. Dessa forma, o indivíduo está em contato com o universo simbólico pelos seus pensamentos e interpretações, conseguindo enfrentar a decepção pelo meio dos sentimentos.

Terapia psicanalítica e suas técnicas

Os psicanalistas usam uma variedade de técnicas para entender melhor os pacientes e permitir que eles tenham uma compreensão mais profunda do significado de seus comportamentos e sintomas. Sendo assim, confira a seguir alguns desses métodos:

Livre associação

A livre associação é uma técnica que consiste, basicamente, na pessoa falar o que vier primeiro à mente. Dessa forma, o psicólogo acaba lendo uma lista de palavras e o paciente devo responder imediatamente o que aquilo remete, então, é esperado que alguns fragmentos de memórias reprimidas apareçam.

Por outro lado, essa técnica pode não ser tão útil se o cliente mostrar resistência e relutar em dizer o que está pensando. Aliás, a resistência – que pode vir na forma de uma pausa excessivamente longa – dá um indício de que o paciente está próximo de algo reprimido e importante no seu pensamento. Desse modo, o psicólogo precisa realizar uma investigação mais profunda para entender o contexto.

LEIA MAIS: Psicólogas famosas: As 5 mulheres mais importantes da psicologia e psiquiatria

Além disso, é possível perceber que algumas pessoas experimentam uma memória tão vívida e intensa capaz de “quase reviver” a ocasião. Essa espécie de flashback é chamada de ab-reação e quando alguém se sentem melhor depois de tal experiência podemos chama-la de catarse.

Análise de sonhos

De acordo com Freud, a mente consciente atua como sensor e ela é menos vigilante quando estamos dormindo. Por conta disso, é possível dizer que a análise dos sonhos funciona como um caminho para o inconsciente.

Sendo assim, diversas ideias reprimidas aparecem durante esse estado. Então, é importante distinguir o conteúdo manifesto do sonho (o que realmente lembramos) e o conteúdo latente (o que ele significa). Entretanto, devemos ter cuidado com a análise, pois alguns conceitos podem ser alterados durante o processo do sonho.

Deslizamento freudiano

Diversos pensamentos e sentimentos inconscientes podem ser transferidos para a mente consciente na forma de deslizamentos de língua, também conhecidos como deslizes freudiano. Basicamente, esses pequenos “erros” acabam revelando o que está realmente na nossa mente ao dizermos algo que não pretendemos.

Segundo Freud, os deslizamentos de língua fornecem uma visão da mente inconsciente, pois não existem acidente, ou seja, todo comportamento (incluindo esses “erros”) são significativos. Um exemplo disso é quando uma pessoa chama o parceiro pelo nome do anterior.

Teste de Rorschach

O teste de mancha de tinta de Rorschach é um tipo de teste psicológico utilizado para avaliar a personalidade e o funcionamento emocional. Sendo assim, procura compreender a interpretação das pessoas nas imagens apresentadas.

Cada indivíduo visualiza algo diferente e não existe algo como certo ou erro. Trata-se de um teste projetivo, ou seja, visa entender as ideias inconsciente do paciente utilizadas para interpretar a mancha de tinta.

Psicanálise: como funciona na prática?

A psicanálise, geralmente, requer um investimento de esforço e tempo. Inclusive, existem terapias de curta duração nessa área, porém, o trabalho psicanalítico requer, na maioria das vezes, um maior prazo para fazer efeito.

E o que faz um psicanalista? Bem, o tratamento envolve incentivar o paciente a recordar suas experiências e a desembaraçar as fixações que se acumularam em torno dela. Desse modo, o objetivo é tornar as pessoas menos dependentes, além de desenvolver uma maneira mais funcional de entender e aceitar mudanças da vida.

As sessões psicanalíticas

As primeiras sessões, geralmente, assumem a forma de uma avaliação. Durante esse período, o terapeuta pode fazer perguntas sobre a história e os problemas de uma pessoa, ou pode simplesmente ouvir o que tem a dizer. O objetivo principal aqui é entender a natureza das dificuldades do paciente.

Nos contextos de longo prazo, os terapeutas adotam posturas menos ativas e deixam o indivíduo conversar mais e definir a direção. O terapeuta ouvirá com muita atenção e, com o tempo, ajudará o paciente a reconhecer padrões e o significado mais profundo do que foi dito e como isso se relaciona com os desafios de sua vida.

Nesse sentido, é comum que as sessões comecem com o paciente transformando todos os pensamentos e sentimentos em palavras. Apesar disso parecer desconfortável a princípio, tal conduta permite que problemas apareçam de forma mais evidente.

Além disso, alguns terapeutas podem sugerir que os pacientes se deitem num sofá para que o profissional fique fora da vista atrás do cliente. Essa configuração pode parecer estranha, mas torna mais fácil para o cliente olhar para dentro. Inclusive, essa configuração permite o terapeuta perceber as preocupações subjacentes do indivíduo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.