Última atualização em 5 de maio de 2025
Recentemente, a música “Borderline” da dupla Maiara e Maraisa gerou uma onda de críticas nas redes sociais. O motivo? A maneira pejorativa com que o transtorno de personalidade borderline (TPB) foi retratado na letra da canção.
Na atualidade, estima-se que até 2 milhões de pessoas sofram com a condição, segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria. E em vez de abrir espaço para empatia, a canção reforça estereótipos dolorosos contra essas pessoas diagnosticadas
Mas esse episódio também trouxe uma oportunidade: a de transformar a polêmica em ponto de partida para uma conversa séria e urgente sobre saúde mental.
Hoje a Telavita ajuda a esclarecer, com base na ciência e na escuta empática, o que é o transtorno borderline. Vem desconstruir junto com a gente nesse artigo os preconceitos sobre essa condição.
O que é o transtorno de personalidade borderline?
O transtorno de personalidade borderline é uma condição de saúde mental definida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como um padrão persistente de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nas emoções, além de uma impulsividade marcante.
Entre os principais sintomas estão:
- Medo intenso de abandono (real ou imaginado)
- Oscilações emocionais intensas e rápidas
- Relacionamentos instáveis e intensos
- Comportamentos impulsivos (como gastos excessivos, sexo de risco ou automutilação)
- Sensação de vazio constante
- Raiva intensa ou dificuldade em controlar a raiva
- Dificuldades de identidade
Vale destacar que o TPB não é “frescura”, “drama” ou “manipulação”, como ainda se ouve por aí. Estamos falando de um transtorno mental sério que afeta cerca de 1,6% da população geral — com impactos profundos na qualidade de vida de quem convive com ele.
Por que o uso pejorativo da palavra “borderline” é prejudicial?
Quando a mídia usa o termo “borderline” para descrever comportamentos exagerados ou pessoas “difíceis”, reforça um estigma que já pesa demais sobre quem tem o transtorno. A banalização da palavra transforma uma condição clínica real em adjetivo ofensivo — algo que impede diagnósticos, tratamentos e, acima de tudo, empatia.
O estigma é um dos maiores obstáculos enfrentados por quem vive com TPB. Pode levar ao isolamento social, à dificuldade de manter empregos, ao abandono de tratamentos e até ao agravamento do quadro, incluindo risco aumentado de suicídio.
Palavras têm poder. E quando mal usadas, podem causar danos reais. É preciso repensar o vocabulário que usamos, especialmente quando falamos sobre saúde mental. Trocar julgamento por escuta e preconceito por compreensão é o primeiro passo para uma sociedade mais justa.
Diagnóstico e tratamento: o que é importante saber?
O diagnóstico de TPB só pode ser feito por um profissional de saúde mental qualificado — geralmente um psiquiatra ou psicólogo clínico. E isso exige tempo, empatia e escuta qualificada. Muitas vezes, o transtorno é confundido com bipolaridade, depressão ou outros quadros que compartilham sintomas semelhantes.
A boa notícia é que existe tratamento eficaz. A abordagem mais recomendada é a Terapia Dialética-Comportamental (TDC), desenvolvida especificamente para pacientes com TPB. Ela trabalha com regulação emocional, habilidades sociais e enfrentamento de crises.
Outros recursos incluem:
- Psicoterapia individual
- Uso de medicamentos para tratar sintomas como ansiedade ou depressão
- Grupos de apoio
- Acompanhamento psiquiátrico
- Participação ativa da família, com suporte e informação
O tratamento não “cura” o transtorno, mas melhora significativamente a qualidade de vida do paciente. Com apoio adequado, é possível viver bem, manter vínculos e construir uma trajetória com mais estabilidade e sentido.
Como promover empatia e combater o preconceito?
Todos nós temos um papel na construção de uma sociedade mais acolhedora — inclusive no que diz respeito à saúde mental. Quando ouvimos alguém usar o termo “borderline” de forma pejorativa, podemos corrigir com gentileza. Quando escutamos alguém em sofrimento, podemos oferecer acolhimento em vez de julgamento.
Aqui estão algumas formas práticas de combater o estigma:
- Informar-se: conhecimento é a principal arma contra o preconceito.
- Ouvir com empatia: em vez de tentar “consertar”, apenas escute.
- Compartilhar conteúdos sérios e confiáveis sobre saúde mental.
- Evitar rótulos e piadas sobre transtornos psicológicos.
- Respeitar os limites e a dor do outro.
Se você convive com alguém com TPB, lembre-se: seu apoio pode ser essencial no processo de tratamento. E, mais do que isso, na vida como um todo.
Conclusão
O transtorno de personalidade borderline não é exagero, nem drama, nem “falta do que fazer”. É uma condição real, complexa e desafiadora — que merece acolhimento, informação e respeito.
A polêmica gerada por uma música pode até passar. Mas o impacto do preconceito, infelizmente, fica. Por isso, que tal transformar essa discussão em aprendizado? Em vez de apontar o dedo, estender a mão. Em vez de zombar, entender. Em vez de estigmatizar, cuidar.
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