Síndrome do impostor em mulheres: As mulheres são mais inseguras que os homens no trabalho

118 gols pela Seleção Brasileira, 6 vezes eleita a melhor jogadora do mundo e 15 gols em Copas do Mundo. Marta é, sem sombra de dúvidas, o nome do futebol brasileiro e mundial. Mas quantas Martas existem por aí sem serem notadas — e que talvez nunca serão? Esse ano o reconhecimento pelo futebol feminino teve um grande avanço com a transmissão dos jogos na televisão aberta. Porém, ainda estamos anos luz em retrocesso quando comparamos o futebol masculino e feminino.

Mas por que isso acontece? Por que o reconhecimento no futebol e em tantas outras áreas não é o mesmo em ambos os gêneros? Quando nascem, as crianças são ensinadas a gostarem de assuntos e áreas que a sociedade pré-determinou como  corretas: meninos gostam de carrinhos, ciência e computação, e meninas precisam gostar de arte, música e culinária. Mas quando segregamos crianças dessa maneira, cortamos as asas de quem nasceu para voar. Quantas Martas nunca chutaram uma bola porque meninas não podem gostar de futebol? E quantas mulheres tiveram filhos mas nunca desejaram ser mães?

A síndrome do impostor em mulheres

Maria Carolina Higo, 39 anos, sempre teve aptidão tanto para o mundo das artes quanto para o dos números e tecnologia. Primeiro, ela seguiu a carreira como designer, mas viu que queria expandir sua área de atuação, então, decidiu estudar programação e desenvolvimento por conta. Pense em um currículo extenso, projetos grandes e um conhecimento vasto sobre os mais variados campos? Uma profissional completa, dedicada e que se considera workaholic. Uma mulher forte, inteligente, mas que já se olhou no espelho e pensou: “eu acho que eu não sou tudo isso”. 

Saiba mais sobre o que é a Síndrome do Impostor!

Esse sentimento experimentado por Carolina tem nome: a Síndrome do Impostor. Mas o que é síndrome do impostor em mulheres? Segundo Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, as psicólogas responsáveis por detectar a condição, a síndrome se caracteriza por pessoas que “mantém uma forte consciência de que não são inteligentes e de que estão enganando todo mundo”. Para os indivíduos que sofrem do problema, em algum momento a farsa será descoberta e todos saberão de que não são bons o bastante.

As pessoas que sofrem dessa síndrome podem desenvolvê-la em qualquer ambiente, situação e faixa etária. Seja no trabalho, na família ou na escola, ter uma visão inferior de si mesmo e de que todos os méritos de suas conquistas não são realmente seus é extremamente depreciador e causa grandes impactos psicológicos, seja ao afetar a autoestima ou até prejudicar os laços sociais.

Em geral, as vítimas da síndrome do impostor costumam ser pessoas bem-sucedidas, inteligentes e genuinamente brilhantes, mas que creditam o seu sucesso ao acaso, sorte, terceiros, menos para suas competências, inteligência ou habilidades. “Não importa o que tenha realizado ou o que as pessoas pensam, no fundo, você está convencido de que é um impostor, uma farsa, uma fraude”, explica a psicóloga americana Valerie Young.

A Universidade Dominicana da Califórnia, nos Estados Unidos, realizou um estudo em que provou-se que essa síndrome acomete cerca de 70% dos profissionais bem-sucedidos, principalmente mulheres! Será coincidência? Mas por que a síndrome do impostor em mulheres é a mais comum? 

Desde que nascem, as mulheres precisam sempre provar o seu valor, pois em meio à sociedade machista em que ainda estamos inseridos, elas não são valorizadas academicamente, profissionalmente e socialmente como os homens, pois foram criadas para desempenhar  A autoestima e sensação de inferioridade crescem junto delas e é preciso uma boa transformação interna para que esses sentimentos a abandonem. Quando elas conseguem realizar seus objetivos, as frases machistas que ouviram a vida inteira de que não são capazes, ou que um homem faria o trabalho melhor do que ela ou que era melhor ela ficar em casa com os filhos, voltam à tona.

Se você é mulher e está lendo esse artigo, com certeza vai se identificar com essa situação se você gosta de futebol. Você está assistindo ao jogo, vestindo a camisa do seu time e vibra quando sai um pênalti. Mas sempre tem alguém que vai duvidar que você realmente entende de futebol, e aí te faz uma série de perguntas para que você prove que realmente sabe. Essas situações acontecem de forma descarada ou velada diariamente na vida das mulheres.

Carolina aprendeu a desenvolver sozinha, assim como muitos profissionais da área de T.I. Porém, por ser uma mulher na área de T.I, o preconceito já é grande por si só, imagine para ela que aprendeu sozinha explicar que realmente sabe e entende? Pois ela se viu forçada a validar seus conhecimentos ingressando em uma segunda graduação. Lá, mesmo sendo a mais experiente no assunto, os professores sempre perguntavam a ela, em meio a 50 alunos homens — e muito mais jovens e inexperientes –, se ela estava conseguindo acompanhar a matéria. Mas por que não perguntavam isso aos alunos homens, não é mesmo?

Esse tipo de situação só reforça o sentimento de cobrança extra que as mulheres e se colocam. Elas costumam trabalhar dobrado para provarem a si mesmas de que são capazes, e, mesmo assim, o sentimento de síndrome do impostor aparece.

Dá pra acreditar que Michelle Obama, a ex-primeira dama dos Estados Unidos e advogada, escritora e uma das mulheres mais influentes atualmente, já teve a tal síndrome? “Eu tive de trabalhar duro para superar aquela pergunta que (ainda) faço a mim mesma: ‘eu sou boa o suficiente?’. É uma pergunta que me persegue por grande parte da minha vida. Estou à altura disso tudo? Estou à altura de ser a primeira-dama dos Estados Unidos?”, afirma. 

Maria Carolina trabalha desde os 16 anos e, como já foi dito aqui nesse artigo, tem um currículo invejável. Ela reconhece que já se pegou duvidando de suas conquistas diversas vezes, mas também sabe o motivo. Ela sabe que a área profissional em que está inserida tem machismo e cobrança dobrada em cima de quem é mulher. “A gente nasce sendo ensinada que não pode chegar onde um homem chegou. Mas não é assim que funciona”. E não é mesmo. Por que, aos poucos, faremos o mundo entender que mulheres brilhantes como Marta, Michelle e Maria Carolina inspiram para que outras mulheres deixem o sentimento de insegurança e fraude para trás e voem alto como elas. 

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