O aborto espontâneo não permite adeus. A morte súbita e dolorosa do bebê é vivida e sentida pela mulher, assim como suas consequências físicas, emocionais e psicológicas. Em conversas com médicos, familiares ou mesmo em artigos, costuma-se usar o termo “feto” com a mãe para tratar do aborto, seja ele de qual tipo. Mas a questão é que muitas mulheres já se sentem mães mesmo em uma gravidez descoberta há poucos dias. Não seria banalizar a dor da mãe ao tratar como “feto” o filho(a) que esta esperava com tanta expectativa?

Um dos grandes problemas acerca do problema é justamente a banalização e a falta de humanidade por parte dos familiares, da equipe médica que atende as mulheres e, principalmente, por parte da sociedade que enaltece a gravidez, mas esquece do impacto psicológico causado pelo aborto.

Esse é um problema antigo, mas pouco discutido por conta dos tabus e da falta de tato em lidar tanto com o bebê, quanto com a mãe. Muitas mulheres que sofreram esse aborto nutrem traumas para a vida toda, por isso, é importante saber do apoio psicológico correto a ser procurado e oferecido.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “Nos países desenvolvidos, o aborto espontâneo ocorre em 10 a 15% de todas as gravidezes clinicamente reconhecidas, embora muitos abortos espontâneos ocorram antes da mulher saber que está grávida.”

Mas o problema pode piorar muito nos países subdesenvolvidos. “As taxas de aborto espontâneo podem, contudo, serem muito mais elevadas nos países em desenvolvimento devido à prevalência de malnutrição e de outros problemas de saúde. A maioria dos abortos espontâneos ocorre numa fase inicial da gravidez, sendo 80% no primeiro trimestre.”

O que é aborto espontâneo?

É a gravidez que foi interrompida naturalmente até a 22a semana de gestação, quando o bebê ainda pesa menos de 500 gramas. Até a 12a semana, o aborto é considerado precoce; depois disso, é chamado de tardio. 

Segundo dados da OMS: “A maioria dos abortos espontâneos ocorre numa fase inicial da gravidez, sendo 80% no primeiro trimestre.”

O que causa um aborto espontâneo?

Muitos fatores podem causar o aborto espontâneo, sendo que, mais da metade deles, do primeiro trimestre, são ocasionados por problemas genéticos que se dão durante o desenvolvimento embrionário. Esse problema ocorre com mais frequência em mulheres acima dos 35 anos, em que os problemas gestacionais podem acontecer.

A OMS também listou outros fatores que causam o aborto espontâneo:

  • doença febril;
  •  infecções genitais e sistêmicas como sífilis, tuberculose sistêmica, doença de Chagas, vírus da rubéola, citomegalovírus, vírus Herpes simplex, clamídia, micoplasma, Toxoplasma gondii, listeria e brucella;
  • doença crônica materna;
  • causas hormonais;
  • toxinas ambientais;
  • causas dietéticas;
  • anomalias anatômicas; 
  • gravidez na presença de um dispositivo intra uterino (DIU).

Vale ressaltar também que em muitos casos pode não existir algum fator específico que cause o aborto espontâneo.

Fatores de risco

  • Idade (mulheres acima dos 35 anos possuem 20% a mais de riscos em sofrer um aborto espontâneo);
  • Doenças crônicas (diabetes não controlada e trombofilias);
  • Abortos sofridos anteriormente;,
  • Abuso de álcool, cigarro e drogas ilícitas;
  • Peso (abaixo ou acima do indicado);
  • Infecções;
  • Problemas hormonais;
  • Doenças da tireoide;
  • Problemas no útero ou colo do útero.

Sintomas de aborto espontâneo

Seguem abaixo alguns sinais de aborto espontâneo frequentemente relatados:

  • Sangramento vaginal: ocorre com ou sem cólicas;
  • Dor lombar, abdominal ou cólicas constantes;
  • Diminuição de sinais de gravidez, como a perda da sensibilidade da mama ou náuseas.

Cuidados pós-aborto espontâneo

A mulher que sofreu a perda está em um momento de extrema fragilidade física, emocional e psicológica. O tratamento recebido nesse momento tão impactante é de vital importância sua recuperação.

Primeiro, é essencial que a mulher receba os cuidados médicos
adequados e de forma rápida. A urgência nesse caso é necessária tanto por parte da mulher e dos familiares, quanto da equipe médica em socorrê-la por conta das complicações que podem se seguir caso os procedimentos apropriados não sejam prontamente tomados. A OMS lista as seguintes medidas primordiais: 

  • Tratamento urgente das complicações do aborto espontâneo ou induzido de forma insegura;
  • Aconselhamento e serviços de PF (planejamento familiar);
  • Acesso a cuidados de saúde reprodutiva compreensivos;
  • Educação comunitária para reduzir a necessidade de aborto e melhorar a saúde reprodutiva.

A OMS descreve a importância que o tratamento dado às mulheres pela equipe médica tem na sua recuperação: “Todos os profissionais de saúde, que têm contato com mulheres com aborto, devem tratá-las profissionalmente, com respeito e com compreensão pelas complicações do aborto. As mulheres devem sentir-se em casa, na instituição de saúde, e devem estar confiantes para lá regressarem se tiverem necessidade. Eles necessitam de compreender a dor e o stress.”

Como superar um aborto?

Não é fácil lidar com um momento como esse. As mulheres “requerem empatia, compreensão, compaixão e aconselhamento durante os cuidados.”, afirma a OMS. O aborto e suas consequências transformam a vida da mulher.

Muitas mudanças ocorrem durante esse processo de cura, como o isolamento, inquietação, cansaço e choro constante.  É muito importante que os familiares também participem do processo pois a mulher pode se sentir desamparada e sozinha. Sentimentos como desespero, culpa, ansiedade, tristeza e apatia assolam a mente dessa paciente.

Também podem existir possíveis alterações físicas e cognitivas como:

  • Problema na memória;
  • Problema com a autoestima;
  • Não consegue se concentrar;
  • Alucinações visuais ou auditivas com crianças;
  • Insônia;
  • Falta de apetite;
  • Uma grande frequência de queixa.

Apoio psicológico

O primeiro e mais importante passo é permitir a ajuda. Procurar um psicólogo é de suma importância nesses casos, já que qualquer cuidado é pouco. Nem sempre os amigos e familiares saberão como prestar o apoio psicológico e emocional correto. Qualquer frase dita com as palavras e tom errados pode gerar extrema angústia, tristeza e até depressão pós-aborto.

“Não era pra ser”, “tudo vai ficar bem”, “logo você engravida de novo”. Nenhuma mulher se sente bem ao ouvir essas frases após o aborto espontâneo, e, infelizmente, elas aparecem mais frequentemente do que se espera. 

O psicólogo não só vai ajudar na recuperação, como vai respeitar o tempo dessa paciente. Ele escuta e respeita a dor da perda com a metodologia profissional e compaixão humana. Através de técnicas como Gestalt, Junguiana, Cognitivo-comportamental, entre outras, o psicólogo investiga, analisa e ajuda a paciente a compreender o que ocorreu e foca em como lidar com o futuro. 

Mesmo que a dor pareça eterna, tudo pode ser transformado e adaptado à nova vida que surge, mesmo que esse novo caminho não seja o esperado. Tratar do aborto é sempre um assunto muito delicado e que requer atenção, preparo e empatia. Caso tenha passado por isso ou esteja lidando com esse problema neste exato momento, comunique, converse e procure ajuda! Não lute sozinha. 

 

 

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