A série americana “This Is Us“, transmitida pela NBC, acompanha a história da amorosa família Pearson, que embora muito unida, não escapa aos dramas que o vício pode causar. Jack Pearson é o modelo de marido e pai presente e carinhoso, mas não conseguiu fugir da sombra de seu próprio pai alcoólatra. Seus filhos, Kevin, Kate e Randall, acompanharam a luta dele contra o álcool, e embora sofressem vendo as crises do pai, também trilharam sua própria jornada ao lado do vício: bebida, comida e trabalho, respectivamente.

O que a ficção nos conta acerca do tema é comprovado pela ciência. Além dos fatores externos, sabe-se que a genética tem muita influência na herança dos vícios. A Universidade de Fudan, em Xangai, China, divulgou uma pesquisa com roedores em que relata a propensão genética às drogas, por exemplo.  Os cientistas observaram que os animais cujos pais tiveram contato com a cocaína eram os mais propensos a ter o vício. Nos seres humanos, isso ocorre em cerca de 20%  das pessoas com esse histórico.

Em seu site, o Dr. Dráuzio Varella também explica: “O alcoolismo tende a ocorrer com mais frequência em certas famílias, entre gêmeos idênticos (univitelinos), e mesmo em filhos biológicos de pais alcoólicos adotados por famílias de pessoas que não bebem.”

O que é “vício”?

Quando falamos em vício, a primeira coisa que vem à cabeça é o álcool e as drogas. Porém, o que muita gente esquece é que o vício não se limita somente a isso, mas a uma série de fatores que fazem desse problema algo muito mais profundo do que pensamos.

A palavra vício tem origem do latim “vitium” e significa “falha ou defeito“. Para o dicionário Aurélio, a definição de vício é: Tornar mau, pior, corrompido ou estragado; alterar para enganar; corromper-se, perverter-se, depravar-se. Já para a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma doença física e psicoemocional.

No entanto, a psicologia vai mais à fundo e investiga não só as consequências, mas também as motivações, origens e características do vício e de seus dependentes. A área também entende o vício como um mecanismo de fuga emocional que visa a obtenção de prazer e extinção da dor. 

O que caracteriza um vício?

O limite entre um hábito e o vício está nas consequências que eles causam na vida da pessoa. O vício afasta o indivíduo de sua essência e faz com que foque mais na obtenção do prazer através da dependência do que na vida que antes levava, nem que isso signifique se afastar de amigos e familiares, mentir, se prejudicar no trabalho e mudar completamente o curso de suas ações, objetivos e sonhos. 

Tipos de vício

Vício em álcool

Mais de 2 milhões de pessoas sofrem com o alcoolismo no Brasil e 3.3 milhões morrem todo ano decorrente desse vício. Os homens são os mais suscetíveis, num total de 70% dos casos, enquanto as mulheres correspondem a 30%.

Mas, afinal, o que é alcoolismo? Segundo o Hospital Israelita Albert Einstein, alcoolismo, ou ainda, etilismo, como também é conhecido,”é caracterizado pela vontade incontrolável de beber, falta de controle ao tentar parar a ingestão, tolerância ao álcool (doses cada vez maiores para sentir os efeitos da bebida) e dependência física, que se manifesta com sintomas físicos e psíquicos nas situações de abstinência alcoólica”.

O que leva uma pessoa a beber?

Alguns problemas emocionais como ansiedade, angústia e insegurança podem ser grandes facilitadores para alguém começar a beber. Além disso, ter fácil acesso ao álcool e a própria genética, como já explicamos anteriormente, aumentam as chances de dependência ao álcool.  Uma das portas de entrada também pode ser a vontade de socializar, fazer amigos e ser aceito num grupo, já que alguns dos efeitos do álcool são a euforia e a desinibição.

Sintomas de Alcoolismo

O alcoólatra muitas vezes não tem consciência de que é mesmo dependente da bebida. Porém, existem alguns elementos que facilitam as pessoas ao redor, ou mesmo o dependente, a como identificar um alcoólatra. Dentre alguns sinais estão a falta de controle sobre o uso e  tolerância cada vez maior à bebida

A abstinência, ou seja, quando o dependente interrompe a ingestão da bebida, seja por vontade própria ou por falta dela no momento, causa alguns sintomas físicos e mentais, como:

  •  tremores nos lábios;
  • tremores nas mãos e pés;
  • náuseas e vômitos;
  • suor excessivo;
  • ansiedade e irritação;
  • confusão mental.

Essas são algumas consequências do alcoolismo. Mas, não são só os efeitos físicos e mentais que trazem estragos à vida das pessoas. Os danos nos relacionamentos pessoais e profissionais levam muitos alcoólatras à depressão e outras doenças.

Doenças causadas pelo álcool

  • hepatite ou cirrose hepática;
  • depressão;
  • impotência ou infertilidade;
  • gastrite;
  • infarto;
  • trombose;
  • anorexia alcoólica;
  • demência;
  • câncer.

Tratamento do alcoolismo

O tratamento para o alcoólatra deve, primeiro, ser um passo dado por ele mesmo. O dependente deve querer largar o vício. Em seguida, ele ou a família devem procurar um psicólogo ou psiquiatra, que entrará com o tratamento adequado. 

Por ser uma doença crônica, o alcoolismo não tem cura, porém é possível ter uma vida saudável e se afastar para sempre do vício!  Como ajudar um alcoólatra? Com apoio familiar, desintoxicação sob supervisão médica e a reabilitação, o indivíduo tem plenas chances de ter uma vida norma. 

Vício em tecnologia

A era da tecnologia criou um novo vício. Mais e mais pessoas tornam os aparelhos celulares, tablets, videogames, etc, extensões de seus corpos. 2018 foi o ano em que a Organização Mundial da Saúde incluiu o vício em videogame na sua lista oficial de doenças. Essa informação gerou muita controvérsia pois diversos pesquisadores acharam drástica a medida tomada pela organização.

A Universidade Estadual de São Francisco, na Califórnia (EUA), realizou um estudo no qual se constatou que o vício em smartphones, por exemplo, forma conexões neurológicas parecidas com as de viciados em opiáceos.

Com medo dos efeitos que o vício em jogos online estava causando aos jovens, a Coreia do Sul adotou um toque de recolher para menores de 16 anos, em 2011. A medida não funcionou, afinal, os jovens encontraram outras coisas para fazerem de madrugada além de jogar.

O vício em internet e em redes sociais assusta. A empresa de marketing Digital Clarity fez um levantamento em que  16% admitem gastar mas de 15 horas por dia na internet.

Mas por que estamos tão viciados?

Assim como muitas outras dependências, o vício em games, internet, e tecnologias em geral pode estar associado à baixa autoestima, depressão e mal-estar. Além disso, a conexão às redes sociais permite uma satisfação pessoal com o ego.

Eduardo Guedes, pesquisador e membro do Instituto Delete – primeiro núcleo do Brasil especializado em “desintoxicação digital” na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comenta esse vício em entrevista concedida à BBC: “Falar de si gera um prazer equivalente a se alimentar, ganhar dinheiro ou fazer sexo. E em 90% do tempo as pessoas estão falando de si nas redes sociais, com feedback instantâneo. Em uma conversa normal, em 30% do tempo normalmente se fala sobre si”.

Consequências

Segundo a Universidade da Coreia, em Seul, na Coreia do Sul,  adolescentes viciados em tecnologias como videogames, jogos online, internet e redes sociais, têm maior propensão para sofrerem com depressão, ansiedade, insônia e impulsividade. A dependência também provoca alterações no balanço químico no cérebro.

Outros vícios

1 em cada 5 pessoas no mundo fuma cigarros. Essa é a estimativa da OMS, que também complementa que a dependência da substância mata 7 milhões de pessoas por ano.

O tabagismo é um dos vícios mais comuns e banalizados do mundo. Apesar de ser legalizado, o cigarro é uma droga e pode causar diversas doenças.

Consumir alimentos compulsivamente também é vício, e é considerado um transtorno, de acordo com a OMS. Comer rapidamente, em grandes quantidades e até sentir-se cheio é um dos sinais do transtorno de compulsão alimentar periódica. Ás vezes, o paciente prefere fazer suas refeições sozinho por vergonha e culpa e também costuma comer mesmo sem estar com apetite.

Confira aqui os vícios mais comuns existentes:

  • drogas ilícitas;
  • trabalho;
  • jogos de azar;
  • pornografia;
  • sexo;
  • medicamentos;
  • entre outros.

Como se livrar de um vício?

Como tratamos anteriormente, o vício é um mecanismo de fuga em que o indivíduo passa a depender dos prazeres que sente ao consumi-lo. Ou seja, não necessariamente é o álcool ou as drogas que vai destruir a vida de alguém. A internet, o sexo, a pornografia, o trabalho…tudo em excesso prejudica e faz mal à saúde mental. Todo o vício é corrosivo.

Tratamento psicológico

Seja o vício em álcool e drogas ou vício em internet e trabalho, existem maneiras de controlá-los. O caminho mais recomendado é a procura de um psicólogo ou psiquiatra. Esse profissional, além de investigar as origens do problema, também irá traçar técnicas para que a dependência emocional termine. Essa dependência emocional é atrelada ao que o indivíduo sente quando consome a fonte de seu vício. Alguns alegam sentir-se mais confiantes, interessantes e sociáveis quando em contato com o álcool, drogas, etc.

É preciso desassociar a ideia positiva que o vício traz, e para isso, o psicólogo usará de muitos métodos para conseguir atingir esse objetivo. Além disso, irá tratar os efeitos causados pela dependência, como a depressão, ansiedade, baixa autoestima, dentre outras consequências psicológicas que o vício acarreta.

Grupos de apoio como o Alcoólicos Anônimos (AA) também é um passo importante e muito procurado por quem sofre com o alcoolismo, por exemplo. O importante é o dependente admitir para si mesmo e para os outros que tem um problema e que quer ser curado. Se você enfrenta algum tipo de vício, não lute sozinho. Procure ajuda!

 

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