Última atualização em 25 de junho de 2025

Se antes o vício em jogos estava associado a bingos enfumaçados, fichas de fliperama ou cassinos distantes, hoje ele cabe na palma da mão. Apostas esportivas, roletas online, aplicativos coloridos e altamente viciantes invadiram as redes sociais e tornaram-se parte da rotina de muitos jovens — especialmente homens entre 18 e 35 anos. 

Mais de 22 milhões de brasileiros apostaram online em setembro de 2024, segundo pesquisa do DataSenado.

Influenciadores códigos promocionais com naturalidade, como se o ato de apostar fosse apenas mais uma forma inofensiva de se divertir. Lives, jogos de futebol e até canais de humor se transformaram em vitrines para as chamadas “bets”, misturando entretenimento com um risco que nem sempre é percebido.

No entanto, por trás da aparência leve e tecnológica, o vício em apostas online é uma realidade crescente e silenciosa, que pode trazer consequências graves para a saúde emocional — não apenas de quem joga, mas também de quem convive com essa pessoa.

Hoje, no artigo da Telavita, vamos entender como as apostas afetam nossa química cerebral e como buscar a ajuda necessária para sair desse ciclo vicioso.

O ciclo do vício: como funciona no cérebro

Segundo a CNC, os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões às bets em 2024, resultando em perdas de R$ 103 bilhões para o varejo. E vendo essa quantia exorbitante de dinheiro sendo gasta, você deve se perguntar: Por que é tão difícil parar?

A resposta está na dopamina — o neurotransmissor ligado à sensação de prazer e recompensa. Toda vez que uma aposta parece promissora, ou quando o jogador está “quase ganhando”, o cérebro libera uma dose de dopamina. Essa descarga cria uma expectativa de vitória que prende o jogador num ciclo difícil de romper.

O “quase” acerta em cheio o sistema de recompensa: mesmo sem ganhar, o cérebro entende que vale a pena tentar de novo. Essa repetição constante — aposta, frustração, nova tentativa — gera uma compulsão. É diferente de um passatempo. No vício, não há mais controle; há urgência, ansiedade e uma sensação de vazio quando não se aposta.

Você já sentiu isso? Ou conhece alguém que parece não conseguir parar?

O impacto emocional de quem joga

O vício em bets online não é apenas uma questão de dinheiro. Ele impacta diretamente a saúde emocional e o cotidiano de quem aposta compulsivamente.

É comum que a pessoa sinta culpa após perder valores significativos, mesmo que prometa para si mesma que “da próxima vez vai ser diferente”. A ansiedade cresce à medida que dívidas se acumulam, e a impulsividade faz com que decisões precipitadas sejam tomadas. Há quem perca noites de sono monitorando resultados ou calculando chances de recuperação.

Com o tempo, surgem o isolamento, a baixa autoestima e a negação do problema. A pessoa tenta esconder o vício, mente sobre os gastos, e se afasta de amigos, parceiros(as) e familiares. E, quanto mais sozinha ela se sente, mais provável é que volte para o único lugar onde sente algum tipo de controle: a próxima aposta.

E quem está por perto? O sofrimento de familiares e parceiros

Conviver com alguém viciado em apostas é um desafio emocional intenso. Muitos familiares relatam sensação de impotência ao tentarem ajudar sem sucesso. Há desgaste, conflitos constantes, quebra de confiança e medo do futuro financeiro e emocional.

Algumas pessoas próximas se sentem culpadas: “Será que eu poderia ter feito algo antes?”. Outras se sentem exaustas, sem saber mais como abordar o assunto.

Importante dizer: quem está ao redor também precisa de cuidado. Apoiar alguém viciado em bets exige limites claros, suporte emocional e, muitas vezes, acompanhamento profissional. A dor de quem convive com a compulsão alheia é real e legítima.

O papel da influência digital

Boa parte do apelo das apostas online está na forma como elas são apresentadas. Influenciadores promovem o estilo de vida das bets como algo aspiracional — mostrando ganhos, carros, festas, promessas de liberdade financeira. Inclusive, uma pesquisa do Aposta Legal Brasil e OpinionBox indica que 50% dos apostadores escolheram a casa de apostas por indicação de influenciadores digitais, destacando o papel desses profissionais na promoção das bets.

Esse discurso glamuriza o risco e disfarça o sofrimento. O vício é banalizado, tratado como uma “fase” ou como parte do jogo. A repetição dessas mensagens — especialmente para jovens em formação — tem um poder enorme.

Precisamos refletir: quem promove esse conteúdo está sendo responsável? E quem consome, está consciente dos efeitos disso na própria saúde mental?

O que fazer: caminhos de apoio e tratamento

Nem todo comportamento de aposta é um vício, mas se você ou alguém próximo já perdeu o controle, acumulou dívidas, mentiu sobre valores gastos ou percebe que o jogo virou uma obsessão, é hora de buscar ajuda.

A psicoterapia é um espaço seguro e sem julgamentos, onde é possível entender as causas do comportamento, resgatar autoestima e reconstruir hábitos. Psicólogos especializados ajudam o paciente a lidar com a ansiedade, a impulsividade e o sentimento de culpa.

Além da terapia individual, há grupos de apoio, como os Jogadores Anônimos, que oferecem escuta e acolhimento. Estabelecer limites digitais, como bloquear apps e limitar o acesso a redes, pode ajudar. Mudar a rotina, retomar atividades prazerosas e contar com uma rede de apoio também são passos importantes.

Mesmo que a pessoa viciada ainda negue o problema, os familiares já podem iniciar o processo de ajuda — inclusive para si próprios. Cuidar da saúde emocional de quem está ao redor é parte do caminho de recuperação.

Conclusão: um convite ao cuidado

Falar sobre vício em apostas online é necessário, urgente e, acima de tudo, humano. Não se trata de fraqueza de caráter ou falta de força de vontade — trata-se de sofrimento real, que merece escuta e apoio.

É hora de quebrar o tabu: o vício em jogos é um problema de saúde mental, como qualquer outro. E como qualquer outro, pode ser tratado com acolhimento, empatia e informação.

Se esse texto te tocou, talvez seja hora de conversar com alguém. Na Telavita, você encontra psicólogos preparados para acolher situações como essa. O primeiro passo é reconhecer. O segundo, pedir ajuda.

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