Vício em pornografia: entenda como e o que acontece

vício em pornografia

Foi se o tempo que acessar pornografia era por meio de uma revista desenhada em preto e branco. Com o tempo vieram as revistinhas com fotos reais coloridas, filmes pornográficos da videolocadora, além dos programas de “entretenimento adulto” que já eram exibidos em determinados cinemas.

Dessa forma, o acesso à pornografia foi ficando cada vez maior, mas a coroação contemporânea veio com a internet. O consumo desse material aumentou centenas de vezes, gerando desejos insaciáveis. O descontrole se instalou. Tudo ficou fácil, na palma da mão, pelo celular na hora e onde quiser.

Como surge o vício em pornografia?

A energia sexual é algo muito forte, pois está ligada ao instinto básico de procriação e preservação da vida. Não que o sexo seja algo exclusivo para a reprodução. Claro que os seres humanos também fazem sexo por prazer. Sempre fizeram.

A sexualidade também é uma construção social. Quem fez pensar que não, foram as prescrições religiosas de controle, que dizem que o sexo só pode ser para procriação. Dessa forma, diversas práticas sexuais que visam o prazer foram consideradas como desvios e pecados, além de questões fora da hetenormatividade ainda são vistas como “possessões demoníacas”.

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Entretanto, quanto maior a repressão, maior o desejo. E os filmes pornôs aproveitam essa incongruência para crescer. Sendo assim, vamos observar alguns pontos que fazem entender como surge o vício em pornografia na sociedade atual.

Desinformação sexual

Vivemos em uma sociedade que não está interessada em educar sobre nada, especialmente quando abordamos a sexualidade. A hipocrisia religiosa em relação ao sexo continua a ditar regras, pois ele ainda é visto como sujo e pecaminoso.

A falta de conhecimento e debate geram distorções na forma de vivenciar o prazer sexual. O resultado: uma visão de sexo bem deturbada que pode gerar o vício e a compulsão.

Além disso, podemos ver vários efeitos dessa problemática na sociedade, como: infecções por doenças, gravidez indesejada, casamentos impulsivos, estupros, traições, filhos abandonados, desestruturadas perpetuadas e etc.

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Sociedade dos exageros

Ainda, precisamos considerar também as várias pressões da vida. Vivemos verdadeiros festivais de exagero, competição, consumismo, estímulo ao hedonismo, liberdade irracional, extremismo, falso moralismo e hipersexualização.

Dessa forma, somos tratados como se todos fossem robôs que precisam apenas executar ordens. Recebemos sempre as seguintes mensagens sociais: compre, seja, veja, faça, produza, transe e goze muito.

A questão dos relacionamentos atuais

Somando-se a tudo isso, vem a liquidez dos relacionamentos. O mundo está veloz, descartável e utilitário. Dessa forma, vivemos para servir de instrumento para que nós e o outro atinja um determinado fim: o gozo egoísta.

Então, relações vão se tornando verdadeiras drogas com o objetivo de alienar e anestesiar. Aliás, de acordo com a experiência do viciado nunca está bom, pois sempre poderá haver estímulos mais fortes e mais intensos em relação a sua “droga” de escolha.

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O que é o vício em pornografia

Por conta disso, a pornografia aparece como uma alternativa atraente nessa sociedade. Imersa em tamanha oferta de prazer ilimitado, os filmes pornôs exibem grandes desempenhos sexuais, corpos considerados perfeitos, órgãos sexuais avantajados e uma sensação de que os atores estão tendo muito prazer.

Dessa forma, o pornô representa a culminação das distorções presentes atualmente na sociedade. A entrada nesse meio acaba sendo atraente, pois trabalha com os exageros que as pessoas estão acostumadas a buscar e também chega como uma oferta mais volátil e rápida, ou seja, que acaba logo após a exibição do filme.

O comportamento viciado justamente pode se instalar por causa dessa vida irrefletida e automática, baseada em performances, massificações e falta de autoconhecimento. O sujeito não consegue encontrar outras formas de satisfação, pois não sabe quem é.

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Além disso, a pornografia se aproveita da desinformação sexual geral para apresentar performances e corpos que estão longe do habitual. Entretanto, é chamativa exatamente por isso.

A indústria pornográfica lucra cifras bilionárias todos os anos por conta desses motivos, porém, ainda vai um passo além. Os filmes chegam até a ditar normas de como o corpo, a vida sexual e os desejos devem ser para atingirem êxtase e plenitude. Ou seja, o modelo “perfeito” a ser seguido e replicado.

Como lidar com esse vício em pornografia?

O problema dessa cultura é a desilusão e o desencontro com a realidade. Nesse sentido, o prazer sexual das relações cotidianas começa a ser comparado com as performances realizadas nos pornôs, o que traz frustração e repressão.

Sendo assim, o autoconhecimento por meio da psicoterapia e psiquiatria se faz extremamente necessário para lidar com essa situação. Outras especializações ligadas à área da saúde também são muito bem-vindas. Além disso, é urgente discutirmos essas questões desde cedo com nossas crianças e jovens, por meio das ciências humanas, biológicas e a filosofia.

Não há educação social, filosófica, política, emocional e, principalmente, sexual nas escolas. Isso deveria ocorrer desde o ensino fundamental. Infelizmente estamos vivendo uma agenda baseada no tabu e atraso. Quando há uma proposta séria de educação nesse sentido, há sempre uma distorção sugerindo que haverá estímulo ao sexo, imposição de determinada orientação sexual ou de gênero, além de muitos outros absurdos.

Chega de tabus, mistificações, dogmas, medos, preconceitos, hipocrisias ou falso moralismo. Tal processo educativo precisa ser uma política pública de educação de Estado e não de governo. Vamos praticar a saúde e educação de qualidade.

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Desde que me formei em Psicologia em 2002, já iniciei meus atendimentos em consultório, onde estou até hoje. Logo em seguida fiz cursos na área clínica em Gestalt-Terapia e Psicoterapia Existencial. Dediquei-me também aos estudos de mestrado e doutorado voltados a Psicologia Social, Sexualidade e Envelhecimento. Além disso, sou plantonista voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 1998, prestando apoio emocional, psíquico e prevenção do suicídio. É importante mencionar que atuei cinco anos como Psicólogo Clínico no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Quando solicitado, palestro em escolas, ONGs, etc. Em 2013 lancei o livro "Travestis Envelhecem?" e em 2017 o meu segundo, intitulado "Homofobia Internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo" ambos pela editora Annablume. Atuo como Psicólogo voluntário em uma ONG que presta amparo ao LGBTQIAP + idoso dentre outras. Também leciono no Centro Universitário São Roque. Atendimento a partir dos 18 anos de idade.

2 COMENTÁRIOS

  1. Gostei muito da orientação sobre o vício em pornografia, entendo que a falta de uma vida sexual ativa levas as pessoas a viciar na pornografia, como que suas fantasias fossem realizadas. A fantasia cria situações de prazer, mas quando caímos na realizada ficamos frustrados, por ser apenas coisas do pensamento.

  2. As pessoas idealizam muito e na pornografia é como que extrapolam a imaginação! Na “vida real” tem cotidiano, boletos, conversar (já ouvi um irmão casado, na época casado há 20 anos, porque a esposa não ouvia sobre o dia de trabalho dele)! E foi a questão que trouxe o home office: parece haver mais entrosamento no cafezinho nos Escritórios das Empresas, do que marido e esposa, compartilhando sala do apartamento em horário comercial!

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