Nossa mente é o tempo todo requisitada para tentar entender aquilo que capta. Sendo assim, quando nos deparamos com algum acontecimento impactante ou passamos por uma grande transição, a mente precisa fazer um “esforço extra” para processar e incorporar essa nova experiência.

Porém, sabemos que pensamentos sobre um determinado evento podem gerar ansiedade ou melancolia. Nesses casos, são capazes de atrapalhar o sono e prejudicar o foco e as conexões com ambientes e com outras pessoas.

Entretanto, tais emoções provocadas por conflitos e traumas não resolvidos precisam ser descarregadas através de algum tipo de expressão. Caso contrário, elas permanecerão presas no corpo, o que pode ocasionar diversos problemas.

Nesse sentido, traduzir tais experiências em linguagem é uma ótima maneira de torna-la visível, palpável e mais compreensível. As emoções liberadas através da expressão ajudam a aliviar os sintomas atrelados e dissipam sua força negativa.

Desse modo os impactos nocivos sobre a saúde poderão ser controlados ou neutralizados. Por isso, as terapias enfatizam o valor da expressão de emoções reprimidas e o uso da catarse como ferramenta para a cura.

Então, nossa proposta para que o processo de psicoterapia seja melhor aproveitado é que você crie um “diário das emoções”.

A importância da escrita como expressão

É comum nos referirmos à psicoterapia como a “cura pela fala”. A maior parte das terapias em psicologia envolve conversas, diálogos, reflexões e narrativas. Ou seja, elas trabalham com linguagem. Nesse sentido, a escrita é uma forma de linguagem que também pode ser utilizada para os mesmos efeitos, especialmente quando ela é direcionada à expressividade afetiva.

A palavra escrita passa, então, a ser um meio de comunicação interpessoal e intrapessoal. Ela aparece como um elemento criativo, um recurso terapêutico e uma ferramenta de autoajuda.

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A escrita é utilizada há milênios para explorar e expressar emoções, entretanto, só recentemente que pesquisas têm fornecido evidências sobre elas. Nesse sentido, as descobertas apontam que a saúde pode ser influenciada quando as pessoas transformam seus pensamentos e sentimentos em palavras grafadas.

Uma das hipóteses para a percebida melhora dos sintomas clínicos, refere-se à catarse promovida pela escrita. Diferente da expressão verbal da emoção, a narrativa que emerge do uso da escrita favorece os insights a partir das palavras cognitivamente encadeadas e associadas.

Como o diário das emoções pode ajudar

A construção de uma história coerente junto com a expressão de emoções negativas, dá novos sentidos aos eventos passados e atuais. Isso ocorre, pois exige uma grande capacidade de introspecção, um exame dos acontecimentos a partir de vários ângulos e a ressignificação do valor e do sentido da experiência.

Afinal, não se trata de escrever frases bonitas, mas sim destacar experiências, eventos e pessoas que contribuíram para o desenrolar dos fatos. Os processos psicológicos que envolvem a compreensão dessa narrativa podem potencializar o caminho do autoconhecimento. As coisas tornam-se mais claras, padrões de comportamentos podem ser melhor observados e explicações diferentes podem emergir.

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O ato de escrever pode ser libertador, principalmente, quando provoca algum compromisso de mudança, como é no caso do “diário das emoções”.

Escrever sobre nossos sentimentos é um mecanismo de enfrentamento do estresse e das angústias, pois ficamos diante daquilo que nos machuca. A experiência promove além da catarse, uma reorganização de ideias e uma nova forma de compreende-las. É como recontar uma história, dando-lhe um sentido diferente e mais construtivo.

Como fazer um diário das emoções

A técnica é simples: elege-se um caderno para desenvolver ali, ao longo dos dias, uma escrita expressiva. E o que seria isso exatamente? Você é convidado a expressar pensamentos e sentimentos sobre os acontecimentos do seu dia, em palavras, semelhante à manutenção de um diário.

É importante frisar que não se trata de ficar descrevendo os fatos em si, mas sim tentar trazer as emoções ligadas a esses fatos. Só descrever os acontecimentos pode provocar até um aumento da ansiedade e tornar-se muito desgastante.

Além das situações da rotina, você também pode escrever sobre traumas específicos ou eventos emocionalmente significativos do passado. Geralmente, o foco é dissertar sobre o que é considerado importante por quem viveu aquela situação. Sendo assim, deixe fluir os pensamentos, sem esconder e sem barrar nada do que vier a mente. Explore livre e completamente as próprias emoções.

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A ideia aqui é promover a reflexão sobre o que está sendo precipitado à superfície da consciência. Depois desse primeiro passo, é interessante compartilhar essas reflexões com o terapeuta, uma vez que isso gera uma profundidade de vinculação, mais discernimento e compreensão da própria vida.

Esse material deve ser “levado” ocasionalmente às sessões de terapia para que você e seu terapeuta possam debulhar sobre as narrativas e refrigerá-las com novos olhares e sentidos. Dessa forma, será possível reorganizar as ideias e descompensar afetos ali reprimidos.

Vantagens do diário das emoções

Escrever sobre nossas próprias experiências, sentimentos e pensamentos auxilia-nos a fazer reflexões. Dessa forma, conseguimos examinar cada situação a partir de ângulos diferentes, ao invés de, por exemplo, ficarmos transferindo culpas aos outros.

Nesse exercício reflexivo podemos identificar questões e eventos que moldaram e impactaram nossa vida e entender os motivos que nos levaram a ser quem somos. Fomenta-se, então, um conhecimento mais profundo sobre o significado pessoal de experiências estressantes ou marcantes, transformando o impacto – muitas vezes nocivo – de nossas memórias afetivas no nosso presente.

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Sendo assim, o modo de interagir com as situações externas pode ser aperfeiçoado. A escrita permite uma melhora na nossa capacidade de concentração, pois neutraliza ideias fixas, perturbadoras e autocentradas que, muitas vezes, insistem em povoar nossos pensamentos.

Outra vantagem terapêutica do “caderno” é que a pessoa pode trabalhar a evolução de seu potencial expressivo em seu próprio tempo e ritmo. Naqueles momentos em que não queremos interagir com outras pessoas, escrever pode ser meditativo e edificante.

O poder da escrita expressiva

Escrever com esse nível de comprometimento e envolvimento ajuda a pessoa a reencontrar sentidos para a vida e a explorar e compreender melhor os próprios sentimentos e pensamentos. A escrita organiza e materializa. Ela influencia na aceitação de realidades do passado, nas decisões do presente e na elaboração de objetivos para ajustar o caminho para o futuro.

Desse modo, a escrita expressiva mobilizada no “caderno terapêutico” estimula a projeção de novas ideias e novas perspectivas. A experiência proporciona soluções criativas e originais, num contexto em que antes não se via saída ou sentido.

E essa é a pedagogia do trauma. Quando damos um significado e um lugar às experiências de dor, o que antes era sofrimento passa a ser uma força e um estímulo à nos catapultar à frente, ao futuro, à novos objetivos e conquistas na vida.

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