Assumir uma orientação afetiva-sexual que não esteja dentro do padrão vigente na sociedade ainda pode ser uma questão bem delicada, principalmente, quando falamos sobre ela no ambiente de trabalho.

Sendo assim, devemos considerar que existem muitos ramos de atividades laborais e cada uma delas irá lidar com a situação de uma forma diferente. Mesmo assim, tornar essa informação pública não é uma tarefa fácil.

Vivemos numa sociedade religiosa, voltada para o domínio racional sobre as paixões e a constituição de famílias é baseada nos dogmas cristãos, monogâmicos, cisgêneros e heteronormativas.

As questões LGBTQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queers, intersexuais, assexuais, pansexuais) ainda sofrem muita hostilidade, pois são consideradas como algo fora da norma social estabelecida.

Contexto histórico

Desse modo, é fundamental entendermos como chegamos aonde estamos. Nesse sentido, podemos remeter o embrião dessa situação para a Grécia antiga. Por volta do século III antes de Cristo, a corrente filosófica denominada de Estoicismo já pregava o domínio da razão sobre as paixões do corpo.

Um século antes, o Epicurismo já trazia que o prazer era prescrito para ser vivido de forma equilibrada por meio da temperança, ou seja, qualquer forma de excesso ou falta era vista como dor. A busca pelo equilíbrio entre dor e prazer resultava naquilo que era considerado como sendo a felicidade. Dessa forma, era necessário o autoconhecimento para que cada um pudesse ter mais domínio sobre si mesmo.

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Com a instalação do cristianismo, muito da filosofia grega e romana foram sendo incorporadas. Juntamente com os conceitos religiosos, a razão foi a grande aliada no domínio dos desejos do corpo. O sexo foi associado exclusivamente à procriação. Então, caso não fosse possível uma vida casta e totalmente dedicada a Deus, era preferível que houvesse o casamento.

Nesse sentido, Santo Agostinho, que viveu por volta do século III, incentivava o casamento voltado a formação da família abençoada pela igreja. Além disso tudo, a sociedade já era bem patriarcal, machista e competitiva.

Durante esse período, características consideradas masculinas foram sendo construídas e associadas à força, luta, dominação e poder. Já as características consideradas femininas têm sido formadas e associadas à fraqueza, submissão e debilidade.

Estigmatização da atração afetiva-sexual

Ao longo de séculos as mulheres e seus corpos foram sendo desqualificados e completamente usados à serviço da dominação masculina. Com base exclusiva na visão religiosa do sexo voltado somente à procriação, os modelos de gênero estabeleceram que elementos tidos como femininos se atraem por elementos masculinos e vice-versa.

Portanto, se um homem sentir atração afetiva-sexual por outro corpo de homem, por exemplo, logo se presume que um deles tenha elementos femininos (desqualificação, fraqueza e submissão). Por outro lado, se uma mulher sentir atração por outra mulher, supõe-se que uma delas tem elementos masculinos (valorização, força, competitividade, dominação, etc).

Nosso mundo está cada vez mais competitivo e globalizado. Nas empresas e organizações, além de todo o preconceito histórico e social, homens gays podem ser vistos como portadores de características femininas (fraqueza).

Por outro lado, as mulheres lésbicas podem ser consideradas detentoras de características masculinas (força). Dessa forma, lésbicas representam ameaça aos homens cisgêneros heterossexuais. Tais questões são transpassadas por lutas feministas por igualdade de gênero e combate às opressões advindas da nossa sociedade patriarcal e machista.

Ambiente profissional para os LGBTQIAP+

Infelizmente, por absoluta falta de educação sócio-histórica e psicossexual, muitas pessoas ainda associam identidade de gênero à orientação afetiva-sexual. Há muitos anos são formados estereótipos e preconceitos de como um homem e uma mulher devem ser. Desse modo, pessoas LGBTQIAP+ são vistas como inadequadas.

É verdade que o ambiente profissional vai definir o quanto aqueles que são considerados LGBTQIAP+ podem ou não “sair do armário”. Há ambientes mais abertos que outros, porém, muito depende também da posição e cargo que o funcionário ocupa.

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As associações feitas entre homens gays serem iguais a femininos e mulheres lésbicas a masculinas ainda são muito fortes. Dessa forma, um galã de novela, o CEO de uma empresa, um mecânico, um jogador de futebol ou um político, por exemplo, não podem assumir sua homossexualidade, pois logo sua imagem de profissional será associada ao feminino – geralmente associado à fraqueza e submissão. Ou seja, tais características “não combinam” com os cargos que ocupam.

Além disso, mulheres lésbicas também podem sofrer preconceito, pois é esperado que tenham características do gênero masculino (competitivas, não submissas, fortes, etc) pelo fato de serem homossexuais. Enfim, trata-se de uma ameaça ao modelo estabelecido há muito tempo em organizações.

Felizmente esse cenário vem mudando. Já é possível observar movimentos de empoderamento em muitas organizações, além da adoção de programas que amparam as diversidades, não somente sexuais, mas também de etnia, nível socioeconômico e pluralidades culturais.

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Desde que me formei em Psicologia em 2002, já iniciei meus atendimentos em consultório, onde estou até hoje. Logo em seguida fiz cursos na área clínica em Gestalt-Terapia e Psicoterapia Existencial. Dediquei-me também aos estudos de mestrado e doutorado voltados a Psicologia Social, Sexualidade e Envelhecimento. Além disso, sou plantonista voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 1998, prestando apoio emocional, psíquico e prevenção do suicídio. É importante mencionar que atuei cinco anos como Psicólogo Clínico no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Quando solicitado, palestro em escolas, ONGs, etc. Em 2013 lancei o livro "Travestis Envelhecem?" e em 2017 o meu segundo, intitulado "Homofobia Internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo" ambos pela editora Annablume. Atuo como Psicólogo voluntário em uma ONG que presta amparo ao LGBTQIAP + idoso dentre outras. Também leciono no Centro Universitário São Roque. Atendimento a partir dos 18 anos de idade.

1 COMENTÁRIO

  1. No último setor que trabalhei, houve uma espécie de assédio moral com sindrome de bournout, no sentido de me darem função operacional e eu vindo de area técnica, nem deixavam eu colaborar em projetos! Um setor vizinho, o chefe de lá percebeu o ambiente tóxico que eu estava. Quando começamos a nos relacionar, mesmo carinhoso, percebi ele analisando o meu relax com a penetracao, como tenho formação em Administração, perguntei a ele um certo espanto de homem cisgenero sentindo prazer em ser penetrado e finalizei ou o chefe de setor buscando saber se eu estaria como submisso em transa com outro homem! Ele disse que buscava ter relação comigo, mas em duvida se aceitaria ser penetrado por ele. Mas feliz de perceber meu emocional, equilibrado, e que estava por prazer, sendo penetrado!

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