O Transtorno de personalidade antissocial é o nome científico da psicopatia e sociopatia, uma condição psicológica complexa e que afeta 1% da população mundial.

O filme “O Silêncio dos Inocentes”, lançado em 1991, foi responsável por eternizar um dos personagens mais assustadores e, ao mesmo tempo, fascinantes: Hannibal, o médico canibal. Ele consegue conquistar a todos com sua inteligência, persuasão e sedução, por isso, faz com que seus crimes sejam sempre bem articulados. E, se você pensa que o médico sente algum remorso após assassinar suas vítimas, está muito enganado. Ele não sente empatia ou culpa por nenhuma delas. Todos esses traços são característicos de alguém que sofre de transtorno de personalidade antissocial.

Existe diferença entre psicopatia e sociopatia?

Não é que todas as pessoas diagnosticadas com o transtorno antissocial são como Hannibal e cometem crimes, mas são extremamente sedutores, articulados e não nutrem  empatia pelo outro. Eles também têm a tendência de desprezar e violar os direitos das outras pessoas em prol deles mesmos. Mas isso não é psicopatia? Sim! É que o nome oficial e que engloba tanto a sociopatia, quanto a psicopatia, é transtorno de personalidade antissocial (TPA).

No livro A Máscara da Sanidade, publicado em 1941, o psiquiatra norte-americano Hervey M. Cleckley popularizou o termo “psicopata” ao descrevê-los como homicidas charmosos e calculistas. Os manuais oficiais de transtornos mentais evitam o termo, pois os psicopatas não necessariamente cometerão crimes. Eles podem ser grandes empresários ou políticos, ou mesmo alguém com quem você convive.

Os psicopatas são o tipo mais perigoso do transtorno de personalidade antissocial e compreendem 1% da população mundial. Embora pareça um número pequeno, 1% engloba milhões de indivíduos que andam por aí, fingindo serem quem não são. “É mais comum entre homens do que entre mulheres (6:1), e há um forte componente hereditário. A prevalência diminui com a idade, sugerindo que os pacientes podem aprender ao longo do tempo a mudar seus comportamentos mal-adaptativos e tentar construir uma vida”, explica o Manual MSD.

O transtorno antissocial nos personagens de Game Of Thrones! Confira!

A confusão entre termos

Quando utilizamos o termo oficial, “transtorno de personalidade antissocial”, muita gente confunde ter o transtorno com a característica comportamental de ser antissocial. O que é ser antissocial? Popularmente, ser antissocial está associado à introspecção. O indivíduo prefere ficar sozinho a socializar com um grupo de pessoas. Mas esse comportamento nada tem a ver com um indivíduo que é diagnosticado com o transtorno de personalidade antissocial, afinal, um é uma característica do indivíduo, enquanto o outro, se caracteriza por um distúrbio mental.

Sintomas do transtorno de personalidade antissocial

  • Optam pelo descaso pelos outros e pela lei
  • Assediam os outros;
  • Enganam, exploram, fraudam ou manipulam as pessoas para conseguir o que querem;
  • São impulsivos, não planejam com antecedência e não consideram as consequências para a segurança deles mesmos ou dos outros;
  • Trocam de emprego, casa ou relacionamento com frequência;
  • .São imprudentes. Podem dirigir em alta velocidade e embriagados, às vezes levando a acidentes.
  • Propensos ao abuso de álcool ou usar drogas ilegais que podem ter efeitos nocivos;
  • São social e financeiramente irresponsáveis;
  • São irritados e fisicamente agressivos;
  • Nas relações sexuais, eles podem ser irresponsáveis e explorar seu parceiro e não conseguirem permanecer monogâmicos.
  • Não demonstram remorso por suas ações;
  • Explicam suas ações culpando aqueles que prejudicam (p. ex., eles mereciam) ou a forma como a vida é (p. ex., injusta).
  • São dificilmente intimidados;
  • Agem conforme o que acham que melhor para si mesmos a qualquer custo;
  • Não têm empatia pelos outros;
  • São desdenhosos ou indiferente aos sentimentos, direitos e sofrimento dos outros;
  • Tendem a ter uma opinião elevada de si mesmos;
  • Podem ser muito teimosos, autoconfiantes ou arrogantes;
  • São charmosos, volúveis e verbalmente superficiais em seus esforços para conseguirem o que querem.

FONTE: Manual MSD

Desdobramentos do TPA

O transtorno de personalidade antissocial possui alguns desdobramentos, como a psicopatia e a sociopatia. Muitos psicólogos, psiquiatras e criminologistas utilizam ambos os termos sem distinção, mas especialistas afirmam que existe diferença entre psicopatia e sociopatia. Vamos a elas!

O que é ser psicopata?

Segundo o criminologista Dr. Scott Bonn, os psicopatas são incapazes de criarem laços emocionais e terem empatia pelos outros, por isso, quando cometem crimes como assassinatos, eles não conseguem sentir remorso pelos seus atos. Eles são incrivelmente calculistas e planejam suas ações com muito cuidado para não serem descobertos. Por serem muito manipuladores, geralmente conseguem o que querem e como querem, pois sua natureza manipuladora e irresistível faz com que ninguém desconfie de sua verdadeira personalidade.

O que é ser sociopata?

Diferentemente do psicopata, o sociopata tende a ficar nervoso e agitado com facilidade. “São voláteis e suscetíveis a explosões emocionais, incluindo episódios de raiva”, explica o Dr. Bonn. Não conseguem parar em emprego algum ou se estabelecer em um só lugar por muito tempo. Acerca dos laços sociais, esse é uma dificuldade da personalidade sociopata. “Muitos sociopatas são capazes de formar uma ligação com indivíduos em particular ou até mesmo grupos, mas não em relação à sociedade em geral ou às suas regras”.

Confira mais sobre as diferenças entre psicopatia e sociopatia

A quinta edição do DSM-5, publicado pela American Psychiatric Association em 2013, listou tanto sociopatia como psicopatia como transtornos de personalidade antissocial. Ambas têm as características a seguir em comum:

  • Apresentam desprezo por regras, leis e código moral;
  • Apresentam desprezo pelo direito dos outros;
  • Incapacidade de sentir remorso e culpa;
  • Tendência em ter comportamentos violentos.

Diagnóstico diferencial

O Manual MSD chama a atenção para o fato de que o  transtorno de personalidade antissocial pode ter algumas características semelhantes a outros transtornos. Por isso, a realização de um diagnóstico diferencial por parte dos médicos especialistas é vital.

  • Transtorno por abuso de drogas: determinar se a impulsividade e irresponsabilidade resultam do uso de drogas ou do transtorno de personalidade antissocial pode ser difícil, mas é possível com base em uma revisão do histórico do paciente, incluindo histórico inicial, para verificar se há períodos de sobriedade. Às vezes, o transtorno de personalidade antissocial pode ser diagnosticado mais facilmente após um transtorno coexistente de uso de droga ser tratado, mas transtornos de personalidade antissocial podem ser diagnosticados mesmo quando o transtorno de uso de drogas está presente.
  • Transtorno de conduta: transtorno de conduta tem um padrão generalizado semelhante de violação de normas sociais e leis, mas o transtorno de conduta deve estar presente antes dos 15 anos de idade.
  • Transtorno de personalidade narcisista: pacientes são igualmente exploradores e não têm empatia, mas eles tendem a não ser agressivos e enganosos como ocorre no transtorno de personalidade antissocial.
  • Transtorno de personalidade borderline: pacientes são igualmente manipuladores, mas fazem isso para que sejam cuidados, em vez de para conseguir o que querem (p. ex., dinheiro, poder), como ocorre no transtorno de personalidade antissocial.

Tratamento do TPA

Embora o TPA não tenha cura, a terapia cognitivo-comportamental funciona como uma das mais indicadas para o TPA. Estabilizadores do humor e antidepressivos também podem funcionar, porém a prescrição deles deve ser realizada pelo médico especialista que irá analisar o quadro do paciente.

Entenda os benefícios da terapia cognitivo-comportamental aqui!

“Não há evidências de que qualquer tratamento específico resulte em uma melhoria de longo prazo. Assim, o tratamento visa alcançar outro objetivo a curto prazo, como evitar consequências legais, em vez de mudar o paciente. Manejo de contingência (i. e., dar ou recusar o que os pacientes querem com base em seus comportamentos) é indicado.

Pacientes agressivos com impulsividade proeminente e afeto variável podem se beneficiar do tratamento com terapia cognitivo-comportamental ou medicamentos”, explica o MSD.

Tanto as pessoas psicopatas, quanto as sociopatas estão sob o espectro do transtorno de personalidade antissocial. Embora sejam uma parcela pequena no que diz respeito à porcentagem global, eles ainda sim são milhões de pessoas. A mente psicopata e sociopata já pode ter cruzado o seu caminho, mas o difícil é saber identificá-la, já que essas pessoas dominam a arte da atuação.

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