São cerca de 70 milhões de autistas no mundo. Mesmo o número sendo tão grande, o preconceito e as barreiras para inclusão também são.

Ser autista é naturalmente desafiador. O distúrbio psiquiátrico chamado Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) afeta a comunicação, a cognição, o aprendizado e os relacionamentos interpessoais, o que faz com que essas pessoas aparentem viver em um mundo isolado e à parte, como se não estivessem conectados com as pessoas e o meio em que vivem. Dentre os sintomas do autismo, também estão a hipersensibilidade aos sons, barulho e toque, o que torna a rotina dessas pessoas bem complicada, já que a infraestrutura das cidades e o pensamento da sociedade ainda não estão adequados para abraçar todas as diferenças e necessidades dos autistas.

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“Conviver com o autismo é abdicar de uma só forma de ver o mundo — aquela que nos foi oportunizada desde a infância. É pensar formas múltiplas e alternativas sem, contudo, perder o compromisso com a ciência (e a consciência) — com a ética. É percorrer com um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma outra linguagem, é criar oportunidades de troca e espaço para os nossos saberes e ignorância”, aponta
Cleonice Bosa, psicóloga e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O que Bosa sabiamente explica é que o autismo é mais uma maneira de enxergar o mundo e que, ao invés de excluir, devemos incluir. Porém, não é bem isso que acontece, pois boa parte da sociedade acredita que é mais fácil segregar e excluir quem é diferente, do que pensar e implementar novas medidas para amparar uma “parcela menor” da sociedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais de 70 milhões de autistas no mundo, o que equivale, aproximadamente, à população total da França. Não é uma parcela tão pequena assim, não? E, mesmo que fosse, a inclusão se faz necessária em qualquer situação e quantidade.

No âmbito escolar, as barreiras ainda são grandes. Tanto a infraestrutura das escolas quanto o preparo de professores e profissionais das instituições são escassos devido à falta de investimento e incentivo. Já vimos no início desse artigo que as pessoas autistas possuem dificuldades de comunicação, socialização e aprendizagem, ou seja, a metodologia pedagógica de ensino que é aplicada a todos, não é a mesma que deve ser aplicada no espectro autista.

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É preciso muito conhecimento sobre o que é o autismo por parte dos profissionais e também dos alunos, afinal, com conhecimento é possível quebrar o preconceito, além de aprender a lidar com cada indivíduo e suas particularidades dentro do espectro. Por exemplo, um autista com TDAH será bem agitado, irritado e agressivo, o que pode gerar algum desconforto ao meio. Porém, se profissionais especializados estão presentes, a situação pode ser encarada de modo a amparar o autista e explicar ao restante da turma os motivos daquele aluno se comportar daquele jeito.

Cada grau de autismo possui uma característica. Alguns, ainda mais complicados, apresentam comorbidade, ou seja, a presença de duas doenças simultaneamente, como o autismo em TDAH, TOC, depressão, ansiedade, entre outras doenças. A dificuldade em encontrar profissionais capacitados e especializados dentro das instituições de ensino dificulta a integração dos autistas ao meio, já que sem a inclusão, eles são vistos como diferentes.

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Infelizmente, ainda existem muitas escolas que negam a matrícula de alunos autistas, o que é contra a lei  12.764, de 2012, artigo 3o , que defende os direitos da pessoa com transtorno do espectro autista, como “ o acesso à educação e ao ensino profissionalizante;  à moradia, inclusive à residência protegida; ao mercado de trabalho, à previdência social e à assistência social”. Para ler o documento completo dos direitos resguardados às pessoas autistas, acesse o site oficial do Governo Brasileiro.

Vamos pegar outro ambiente e analisar o seu impacto no autismo: o transporte público. O transporte público é um direito social garantido pela Constituição Federal desde 2015, mas é um direito para quem? Viver no caos das cidades grandes é estressante para todos nós: o barulho das buzinas, das pessoas e dos carros não é agradável para os ouvidos de ninguém, mas para o autista, ela é insuportável.

Além disso, pegar ônibus e metrô requer contato físico com as pessoas, afinal, a lotação desses transportes é absurdamente grande. Os autistas têm hipersensibilidade ao toque e ao barulho, então, andar de metrô ou pegar ônibus, para eles, é quase uma missão impossível. E aí retomamos a pergunta: o transporte público é um direito à todos?

Ir ao shopping, viajar, passear no parque e ir ao cinema são tarefas simples e prazerosas para muitos, mas para os autistas, também pode ser bem estressante. Os cinemas, com suas salas escuras e volume extremamente alto, não oferecem lazer aos autistas. Foi pensando nisso que a Sessão Azul foi criada. Como esse cinema inclusivo ao TEA funciona? “Durante toda a exibição do filme, a sala de cinema ficará com as luzes acesas, o som ficará mais baixo e a plateia poderá andar, dançar, gritar ou cantar à vontade. Não serão exibidos trailers comerciais – a menos que já façam parte do filme”, explica o portal do projeto.

No setor tecnológico, também já existem aplicativos dedicados ao espectro do autismo, como o Livox, aplicativo brasileiro vencedor premiado pela ONU como o desenvolvimento mais inclusivo do mundo. Carlos Pereira é o responsável pela criação e desenvolvimento do app. Ele sentiu a necessidade de um app inclusivo pois nenhum outro era bom o suficiente para ajudar sua filha, Clara.

“A Clara não fala, não anda, mas tem a inteligência normal. Ela é prisioneira do próprio corpo.Quando fui procurar um software de comunicação alternativa para ela, vi que nenhum prestava. Foi então que decidi fazer um, e decidi que faria o melhor, porque seria para Clara”, contou Carlos em entrevista para o Estadão.

Ainda é preciso muita evolução por parte da sociedade no que diz respeito à inclusão, seja através da modificação das áreas urbanas, do transporte e da infraestrutura ou da reformulação das metodologias de ensino, apps e lazer. Isso sem contar nas outras milhares de pequenas e grandes mudanças que fazem parte da rotina e da vida de um autista que necessitam do nosso olhar atento, empático e sempre inclusivo.

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