Contar ou não contar, eis a questão. Acreditar no Papai Noel faz bem?

É na infância que o mundo da fantasia e imaginação reina: fadas, dragões, lendas de mundos distantes e personagens míticos fazem a cabeça dos pequenos. Uma das lendas mais populares é a história do papai noel, que de tão forte, sobreviveu séculos e atravessou fronteiras. Hoje, o papai noel que conhecemos é retratado na figura do bom velhinho que veste trajes vermelhos e entrega presentes para crianças do mundo inteiro na noite de Natal. Mas, o fato é que ele nem sempre foi assim.

A origem do papai noel possui muitas versões. Uma delas é a cristã e que remonta ao século 4, com o bispo Nicolau da cidade de Mira, na Ásia Menor. Associa-se a ele diversos milagres e atitudes caridosas, o que fez com que fosse canonizado, se tornando, então, um santo e símbolo do Natal. Nas raízes nórdicas, acredita-se que o deus Odin tenha sido o precursor do mito do papai noel e vestisse roupas rústicas e de outras cores.

Mas, sob a ótica psicológica, será que estimular as crianças a acreditar em papai noel faz bem? Muitos pais se questionam se devem ou não incentivar a crença no bom velhinho. Outros, que escolhem dizer que o papai noel existe, têm imensa dificuldade de contar a verdade conforme os anos passam.

Como quase tudo na vida, existem sempre os prós e os contras de tornar a lenda presente na vida das crianças. Até os 7 anos, a imaginação dos pequenos ainda é bem fértil e cria os mais variados cenários, por isso, fica mais difícil a decisão de incentivar ou não mais uma história fantasiosa.

Prós em acreditar em papai noel

Impulsiona a imaginação

A professora de psicologia Alison Gopnik, da Universidade da Califórnia, Berkeley, estuda a forma como construímos nossa imaginação. Ela descobriu, por exemplo, que as crianças que brincam “acreditando no impossível” tendem a desenvolver uma cognição mais avançada. Elas desenvolvem o pensamento hipotético muito melhor do que quem não imagina tanto, além da tendência em ter uma “teoria da mente” mais avançada, ou seja,  possuem uma compreensão maior sobre os motivos e intenções dos outros. “Muito do que elas fazem na brincadeira é formar uma hipótese e segui-la até a conclusão lógica”, diz Gopnik.

E quem mergulha em histórias de fantasia e ficção? Também tem poderes mágicos de cognição? O pesquisador Travis Proulx, da Universidade de Tilburg, na Holanda, estudou a forma com que a as histórias fantásticas influenciam a nossa cognição. Quando nos aventuramos com dinossauros, lutamos contra monstros ou acreditamos que papai noel existe, rompemos com as nossas expectativas, tornando o cérebro mais flexível e, aquele que lê, mais criativo e ágil para compreender novas ideias. “Não tenho nenhuma dúvida de que estimular esses estados mentais contribui para o desenvolvimento da aprendizagem e origina novas conexões”, explica Proulx.

Promove o sentimento de união e fraternidade

Se Noel é chamado de “papai”, então entende-se que todos nós somos irmãos, não é mesmo? Essa ideia promove o sentimento de união entre as crianças do mundo todo que, como iguais, receberão os presentes do papai noel. “Essa relação de filiação é muito interessante, evoca a ideia de que somos todos irmãos, favorecendo um vínculo mais afetuoso e próximo com o outro, mesmo que ele seja um estranho. Nos dias de hoje, alimentar esse tipo de sentimento é muito positivo”, afirma Tânia Ramos Fortuna, professora de psicologia da educação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Incentiva a doação ao próximo

O significado do papai noel está muito atrelado aos presentes. O Natal evoca valores como amor ao próximo e gratidão, portanto, se os pais fortalecerem esses ideais, o simbolismo que o papai noel traz pode ser atrelado à doação aos outros, seja com presentes materiais ou com gestos de caridade.

“Se acham que não lemos, estão enganados; mas se acharem que não chegaram muitas coisas que pediram, e talvez nem na mesma quantidade em que chegavam outras vezes, lembrem-se que neste Natal há em todo mundo um número imenso de pessoas pobres e famintas. Eu (e também meu Irmão Verde) fizemos uma coleta de comida e roupas, e brinquedos também, para as crianças cujos pais, mães e amigos não podem lhes dar nada, às vezes nem um jantar. Sei que vocês não serão esquecidos pelos seus.”  (Cartas do Papai Noel – J. R. R. Tolkien)

Ajuda a construir a paciência

Se você já acreditou em papai noel um dia, sabe que o bom velhinho só chega à meia-noite. É preciso esperar e ir dormir, pacientemente, para receber os presentes no dia 25 de dezembro. A tradição ajuda a criar consciência de que as vontades da criança têm limite e tempo para acontecerem e que nada é ditado no horário que eles querem. Por isso, o conceito da paciência pode ser construído e enfatizado pelos pais a fim de que seus filhos saibam a hora certa para ter as coisas.

“O tempo é mais precioso que ouro, mais precioso que diamantes ou quaisquer tesouros. É o tempo, o que nunca temos em quantidade suficiente. É o tempo que causa a guerra dentro de nossos corações. Devemos usá-lo com sabedoria.  O tempo não pode ser embrulhado para presente e deixado embaixo de uma árvore na manhã de Natal. O tempo nao pode ser dado. Mas pode ser compartilhado.” (O Presente – Cecelia Ahern)

Ensina a superar frustrações

A verdade sobre papai é um momento muito delicado e deve ser tratado com muita atenção pelos pais, a fim de evitar qualquer trauma. Quando a criança descobre que papai noel não existe, a frustração é inevitável. Porém com ela, também são desenvolvidos o amadurecimento e a capacidade de superação, afinal, a realidade é dura mas ensina.

Contras em achar que papai noel é de verdade

Deturpa a noção sobre questões financeiras

Sabemos que a situação econômica de cada família é diferente e que uma pode ter condições de presentear os filhos com objetos caros, enquanto outras, não. Por isso é essencial estabelecer limites e deixar claro que os presentes serão de acordo com a renda da família, assim, a frustração fica menor.

Um dos questionamentos que podem surgir é ao de que o coleguinha da escola ganhou um super aparato tecnológico do papai noel e a outra criança, algo mais simples. Essa é uma situação perigosa pois pode alimentar conceitos de merecimento e até autoestima, já que usa-se muito a premissa de que somente as crianças comportadas e boas recebem presentes. Se a criança perceber que existe uma diferença, pode pensar que não é boa o bastante como o amiguinho que ganhou algo caro e que o papai noel está decepcionado com ela.

“É possível trabalhar esses limites sem estragar a fantasia da criança. Uma alternativa é pedir ao filho que faça uma cartinha e coloque diversas possibilidades de presente, tendo o cuidado de informar à criança que o Papai Noel fará a escolha”, afirma Tânia.

Ensina que os adultos mentem

Seja da maneira que for, um dia a criança descobrirá que papai noel não existe. Essa revelação pode engatilhar diversos sentimentos e questionamentos, e um deles é acerca dos motivos pelos quais os pais esconderam a verdade por anos. Essa consciência de que os adultos podem mentir gera muitas problemáticas, dentre elas, o exemplo a ser seguido. Se a criança perceber esse tipo de comportamento, pode tentar copiar os adultos e, assim, dar início às suas próprias invenções.

Prejudica os valores e significado do natal

Ganhar presentes é muito bom, mas se a família não fortalecer o sentimento de amor, doação e gratidão que o natal promove, a criança pode atrelar a data somente aos ganhos materiais. A sociedade de consumo em que vivemos bombardeia anúncios e propagandas o tempo todo, principalmente na época natalina, em que tudo gira em torno dos presentes. É preciso fortalecer os vínculos da criança com os valores que o natal sempre plantou e que os presentes são apenas coadjuvantes na história.

Seja qual for a decisão, contar ou não contar, o papai noel sempre trará magia e brilho nos olhos de adultos e crianças na época do Natal.

 

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