Cultura do cancelamento: entenda o que é e a sua origem

cultura do cancelamento

Provavelmente, você já viu alguma pessoa sendo “cancelada”. E basta um comentário ou atitude contra os ditames da sociedade para isso ocorrer. Saia do que é considerado correto e um turbilhão de mensagens podem trazer à tona o cancelamento.

Bem, o tema vem ganhando destaque nos últimos anos e sendo debatido, principalmente, nas redes sociais. Por conta da regularidade dessas situações e aumento de exposição, tal fenômeno ficou conhecido como “cultura do cancelamento”.

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Dessa forma, ela serve como uma “régua moral” que vigia ações e atitudes de artistas, políticos, marcas, produtos e empresas em relação às pautas identitárias contemporâneas, que visam a nobre missão de desconstruir antigos preconceitos intrínsecos na sociedade.

O comportamento das pessoas, em especial dos famosos, está sendo cada vez mais analisado e visto como algo passível de alguma “punição”. Dessa forma, quando alguém é “cancelado” ocorre uma rotulação de que essa pessoa não deve ser mais considerada no âmbito público.

Muito disso acontece, pois esse fenômeno está pautado no que foi denominado de “politicamente correto” e ocupa um lugar importante para as minorias e movimentos sociais discriminados.

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O cancelamento é contra atitudes que antes poderiam passar como corriqueiras ou normalizadas na nossa sociedade. Dessa forma, passam a ter mais apoio e são bastante difundidas por meio da poderosa internet.

Cancelar é uma reação. Então, como é complicado denunciar certas situações diretamente à autoridades responsáveis, ao menos podemos usar as redes sociais como um “Reclame Aqui” e ajustar o comportamento de “pessoas públicas” em questão. É como um “linchamento virtual em praça pública”.

Contexto histórico do cancelamento

O cancelamento é um fenômeno que acontece na atualidade, porém suas raízes podem ser rastreadas há muitos séculos. Aliás, podemos notá-la inclusive na famosa parte bíblica em que Jesus diz para atirar a primeira pedra quem não tivesse nenhum cometido pecado.

Tal sistema de “punição” foi observado por meio de vários fatos ao longo da história, como: linchamentos, fogueiras da inquisição, fuzilamentos, campos de concentração, guilhotinas em praças públicas e etc. Eles serviam como exemplo do que não deveria ser feito em nome de uma moral totalitária vigente. Portanto, era uma forma de controle social e exercício de poder.

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Cancelar e o controle do comportamento social

O controle do comportamento social é algo bem antigo, conforme visto, e ocorre desde os primórdios dos tempos. O filósofo francês Michel Foucault já mencionava em seus estudos o sistema de vigilância para descrever tal fenômeno, conhecido como panóptico. Aliás, esse aparato de controle e segurança foi citado também pelo filósofo inglês Jeremy Bentham.

O termo panoptismo, como foi denominado posteriormente, aplica-se ao sistema de vigilância de outros tipos de instituições que surgiram na época. Nelas, haveria uma torre de observação localizada no pátio central não só da prisão, como também do manicômio, escola, hospital, quartel e fábrica. Desse modo, aquele que estivesse sobre esta torre, poderia observar todos os presos da cadeia (ou os funcionários, loucos, estudantes, etc), tendo-os sob seu controle.

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O conceito desse desenho arquitetônico permite a um vigilante observar todos os prisioneiros sem que estes possam saber se estão ou não sendo observados. Ou seja, quem é vigiado, adquire o olhar de quem vigia, pois a partir disso começa a se vigiar.

O tríplice aspecto do panoptismo: vigilância, controle e correção; fundamentam as relações de poder em nossa sociedade. Câmeras de vigilância que vigiavam apenas presidiários, agora estão presentes em estabelecimentos comerciais, universidades, igrejas, ruas, parques e diversos outros lugares. Tornaram-se parte da paisagem, em nome da segurança de todos.

A internet e a cultura do cancelamento também se tornaram parte do panoptismo no mundo contemporâneo. As pessoas passam a vigiar umas as outras e, principalmente, a si mesmas. O medo de ser cancelado mexe com a autoestima e narcisismo de cada um.

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Desde que me formei em Psicologia em 2002, já iniciei meus atendimentos em consultório, onde estou até hoje. Logo em seguida fiz cursos na área clínica em Gestalt-Terapia e Psicoterapia Existencial. Dediquei-me também aos estudos de mestrado e doutorado voltados a Psicologia Social, Sexualidade e Envelhecimento. Além disso, sou plantonista voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 1998, prestando apoio emocional, psíquico e prevenção do suicídio. É importante mencionar que atuei cinco anos como Psicólogo Clínico no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Quando solicitado, palestro em escolas, ONGs, etc. Em 2013 lancei o livro "Travestis Envelhecem?" e em 2017 o meu segundo, intitulado "Homofobia Internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo" ambos pela editora Annablume. Atuo como Psicólogo voluntário em uma ONG que presta amparo ao LGBTQIAP + idoso dentre outras. Também leciono no Centro Universitário São Roque. Atendimento a partir dos 18 anos de idade.

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