Em média, metade das crianças e jovens já sofreram algum de tipo de bullying. Os dados são referentes a pesquisa “Pondo fim à tormenta: combatendo o bullying do jardim de infância ao ciberespaço” realizada pelas Nações Unidas, em 2016. No Brasil, o percentual é de 43%.

Onde ocorre o bullying, então? Nos mais diferentes países e níveis socioeconômicos. A amostragem contou com 100 mil crianças e jovens de 18 países. As pessoas identificaram agressões seja por questão de gênero, orientação sexual, etnia, aparência física ou país de origem.

Mesmo assim, quando nos deparamos com uma reportagem sobre bullying já sabemos onde a história se passa. Casos de bullying na escola permeiam os noticiários, mas raramente aprofundam o tema ou tem o cuidado de explicar os conceitos.

Bullying não é brincadeira, mas será que isso é difundido na sociedade? Muitas pessoas ainda acham que as vítimas são sensíveis demais ou que estão de “mimimi”. “Não passa de brincadeira de criança”, alguns dizem. Bem, brincadeira não envolve agressão.

Sendo assim, abrimos esse espaço para explicar, de fato, o que significa a palavra bullying, quais as consequências do bullying e como ela é bem diferente de uma brincadeira.

Conceitos

Para compreendermos melhor as diferenças entre o bullying e a brincadeira, é necessário entender os conceitos de cada um deles.

Bullying: o que é?

A origem da bullying deriva do substantivo inglês bully, que significa “valentão” ou “brigão”. Já o significado de bullying – a agressão como a conhecemos -, pode ser entendido como todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo. Ele requer um comportamento agressivo de uma ou várias pessoas contra a vítima.

Dessa forma, conseguimos listar três características essenciais para uma agressão ser considerada bullying:

– As ações devem acontecer de forma reiterada e repetitiva contra a mesma vítima num período de tempo prolongado;

– Existe um desequilíbrio de poder na relação, ou seja, o agressor está numa posição de vantagem, o que dificulta a defesa da vítima;

– Não há motivos aparentes que justifiquem os ataques.

Mas, quais são as consequências do bullying? Para a vítima, a agressão afeta diretamente o psicológico. Ela possui dificuldade de se relacionar com as pessoas e possui problemas para confiar nos outros de novo, além disso, a autoestima é abalada. Bullying não é brincadeira.

O que é brincadeira?

Brincadeira é algo que todos sabemos o que é. Brincamos muito quando crianças e continuamos praticando no dia a dia. Porém, qual a sua definição? Difícil, não é? Pois bem, essa dificuldade não ocorre somente conosco. Acredite, pois esse também é tema de embates acadêmicos sobre a sua conceituação.

Ao fazer uma análise de diversas definições, a pesquisadora Norma Lucia Neris de Queiroz propõe “a brincadeira é cada vez mais entendida como atividade que, além de promover o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, a formação de um cidadão crítico e reflexivo”.

Dessa forma, podemos entender a brincadeira como algo positivo, em que as pessoas envolvidas conseguem desfrutar dela. Há desenvolvimento pessoal e conhecimento adquirido durante a brincadeira, além disso, é possível se divertir durante o processo.

Bullying não é brincadeira: entenda a diferença

Mesmo após a conceituação, ainda pode haver discrepância de entendimento sobre eles. Afinal, é possível existir uma linha tênue entre os dois extremos. Então, como saber quando uma brincadeira deixa de ser uma atividade saudável e passa a ser configurada como bullying?

Para o pesquisador Alessandro Costantini, a mudança ocorre “quando deixam de serem conflitos normais ou brigas que ocorrem entre estudantes, mas começam a se tornar verdadeiros atos de intimidação preconcebidos, ameaças, que, sistematicamente, com violência física e psicológica, são repetidamente e impostos a indivíduos particularmente mais  vulneráveis e incapazes de se defenderem, e causa danos psicológicos, isolamento e marginalização, se tem um caso propriamente de bullying”.

A brincadeira é ocasional e positiva, além disso, as pessoas estão num mesmo patamar de poder dentro da relação. Mesmo um ato “maldoso” pode ser considerado como uma brincadeira. Vamos para um exemplo. João e Carlos são amigos. Um dia, João resolve dar um apelido engraçado para Carlos. Ele não gosta e retribui João com outro apelido. Os dois se divertem e a ação acaba aí. Os dois estão em pé de igualdade.

Por outro lado, o bullying apresenta uma relação desigual entre o agressor e a vítima. Vamos voltar para o mesmo exemplo. João e Carlos são colegas de sala. João dá um apelido engraçado para Carlos e o espalha para sala. A sala começa a chamá-lo por esse apelido todos os dias. Carlos não consegue reagir e passa a ser chamado por algo que não gosta e o faz mal.

A diferença está no tratamento e na balança de poder. No bullying somente o agressor está se divertindo, enquanto que na brincadeira ambas as partes saem felizes no final da ação. O bullying machuca e deixa cicatrizes emocionais nas pessoas. Bullying não é brincadeira.

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