43% das crianças brasileiras sofrem com o bullying infantil, segundo pesquisa divulgada pela ONU.

“Baixinha, gorducha, dentuça”. A icônica fala pertence a Cebolinha, personagem da “Turma da Mônica” que vive a perseguir e provocar sua amiga Mônica, a líder do grupo de amigos da vizinhança. Achamos a zoação engraçada e normal, mas, na realidade, ela retrata um clássico episódio de bullying infantil, que, ao contrário da ficção, não pode ser tomada como engraçado e normal.

“Pesquisa realizada pelas Nações Unidas no ano passado com 100 mil crianças e jovens de 18 países mostrou que, em média, metade deles sofreu algum tipo de bullying por razões como aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem”, declara a ONU (Organização das Nações Unidas).

A pesquisa ainda revela que o percentual de crianças que sofrem bullying no Brasil é de 43%, número semelhante a países vizinhos como Argentina (47,8%), Chile (33,2%), Uruguai (36,7%) e Colômbia (43,5%). O desenvolvimento e condições que os países oferecem à população interferem nas taxas, mas, de modo geral, não é o fator determinante, já que em países desenvolvidos, o número também é alto: Alemanha com 35,7%, Noruega com 40,4% e Espanha com 39,8%.

O que é Bullying?

O bullying é uma forma de violência que se manifesta através de humilhação, agressão, desrespeito, terror psicológico, assédio e medo constantes. Os agressores geralmente escolhem suas vítimas por diversos motivos com o intuito de usá-las com objeto de diversão e soberania. Mas o que significa a palavra bullying? O termo oriundo da língua inglesa está na raíz “bully”, cuja tradução é “valentão” ou “brigão”. Portanto, “bullying”, é o comportamento realizado por um ou mais agressores, ou seja, o “bully”, com o objetivo de realizar atitudes violentas de cunho físico ou psicológico com suas vítimas.

O bullying na escola e na internet são os tipos mais comuns quando falamos de crianças, já que são os ambientes aos quais estão expostos diariamente e onde estabelecem suas redes de comunicação e amizade. Quando o bullying é praticado no ambiente virtual denomina-se “cyberbullying”. Hoje, esse é um dos maiores exemplos de tipo de bullying que mais cresce em quantidade de casos e, consequentemente, vítimas.  Antes, o bullying era restrito à um só ambiente, como a escola. Porém, com o advento da tecnologia, a vida social escolar se expande para outros lugares e, a todo o tempo. Ou seja, as barreiras físicas e temporais do bullying foram quebradas e, hoje, quando a vítima do bullying na escola sai dessa esfera, ela também é atacada via redes sociais quando chega em casa.

Saiba quais são os tipos de bullying aqui em nosso blog

O bullying na escola existe desde que essas instituições de ensino nasceram. É no ambiente escolar que as crianças e adolescentes estabelecem relações interpessoais, sendo estas, essenciais para o crescimento, amadurecimento e inserção na sociedade. A psiquiatra e autora de “Bullying – Mentes perigosas nas escolas”, Ana Beatriz Barbosa Silva, observa que “os jovens estão colocando em xeque o papel educacional da sociedade, da família e da escola. Testemunhamos diariamente a multiplicação e o aumento da intensidade dos comportamentos agressivos e transgressores na população infantojuvenil. As instituições educacionais se veem obrigadas a lidar com a prática do bullying, que, embora sempre tenha existido nas escolas de todo o mundo, hoje ganha dimensões muito mais graves. Tal fato expõe não somente a intolerância às diferenças, como também dissemina os mais diversos preconceitos e a covardia nas relações interpessoais dentro e fora dos muros escolares”.

Por que acontece? O bullying e a educação infantil

O conceito de infância se transformou ao longo do tempo. Com as forte mudanças no papel da família e da escola na educação das crianças, atreladas ao advento da tecnologia cada vez mais presente na rotina, a infância está em processo de reconfiguração. Assim, a educação das crianças está vivendo tempos difíceis, já que esse papel, que sempre pertencera aos pais, está sendo jogado no colo dos professores.

Vivemos a era do “é tudo permitido” por parte dos pais quando confrontados com as necessidades, birras e desejos de seus filhos. “As consequências desses exageros podem ser vistas nos dias atuais ao observarmos que uma grande parcela de pais age de forma excessivamente tolerante com seus filhos. São os pais do ‘deixa pra lá’, ou que costumam passar a mão na cabeça de seus rebentos diante de comportamentos francamente transgressores. Tais pais costumam fingir que nada ocorreu, adotam uma postura de falso entendimento ou, pior que isso, censuram os filhos de maneira tão débil que suas reprimendas e orientações educacionais são praticamente ignoradas’, afirma Barbosa Silva.

Sinais de bullying com crianças

Alguns sinais podem chamar a atenção de pais, professores e familiares de que a criança está sofrendo bullying.

  • Insônia;
  • Irritação;
  • Baixa imunidade (adoecem com frequência);
  • Perda de apetite;
  • Sintomas de transtorno de ansiedade;
  • Tristeza, desanimo e desmotivação constantes e aparentes;
  • Choro constante;
  • Dores principalmente de cabeça e barriga;
  • Aparecimento de aftas com frequência;
  • Perdas de objetos;
  • Machucados no corpo;
  • Não possui muitos amigos;
  • Não tem motivação para sair de casa;
  • Isolamento;
  • Raramente é convidado por amigos para eventos sociais;
  • O rendimento escolar cai;
  • Não tem vontade de ir à aula e sempre arruma desculpas;
  • O humor altera-se frequentemente.

Bullying infantil: Consequências

Apelidos ferem. Perseguições machucam. Ameaças amedrontam. O bullying é um dos maiores causadores de estresse infantil, depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico e suicídio. Uma pesquisa publicada na revista científico “Pediatrics”, apresentou um resultado preocupante:  o número de crianças e adolescentes hospitalizados pela tentativa de suicídio dobrou em menos de uma década.

A depressão na infância, por exemplo, é algo que não recebia a devida atenção no passado, até pela dificuldade de diferenciar os sintomas da doença de outros quadros, como a ansiedade e as fobias. Entre os pequenos, ela aparece por meio de pesadelos, choro excessivo, dificuldade de aprendizagem, entre outros.

Saiba mais sobre a depressão infantil aqui!

Além das patologias, a criança que sofre ou sofreu bullying “encontramos, ainda, aqueles jovens que carregam consigo os traumas da vitimização para a vida adulta. Eles se tornam adultos ansiosos, inseguros, depressivos ou mesmo agressivos. Tendem a reproduzir, em seus relacionamentos profissionais e/ou familiares, a violência que sofreram no ambiente escolar”, afirma a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa. Isso reflete até na nutrição de sentimentos vingativos que resultam em casos triste e violentos que param nas manchetes de jornais.

Cada vez mais, crianças e adolescentes se vingam de seus agressores com armas na mão e vítimas ao redor. Um dos casos mais famosos foi o massacre de Columbine, em que dois adolescentes vítimas de bullying, planejaram o ataque à escola em que estudavam no Colorado, Estados Unidos, e mataram 12 alunos, 1 professor e deixaram 21 vítimas. No final do ataque, os dois garotos cometeram suicídio.

Como combater o bullying?

O combate ao bullying teve início de forma ampla e intensa na década de 90 após uma densa pesquisa do pesquisador norueguês Dan Olweus, da universidade de Berger, e a publicação de seu livro “Bullying at School”. Isso gerou grande repercussão e campanhas contra o bullying foram criadas, o que diminuiu o problema em 50% em pouco tempo.

Uma das principais formas de conduzir e derrubar as práticas de bullying e é a participação ativa das escolas na conscientização e preparação de professores aptos para identificar o bullying entre os alunos e traçar estratégias de como acabar com o bullying nas escolas. Porém, no Brasil, ainda pecamos no incentivo de preparo de profissionais para amparar os alunos que demonstram algum tipo de problema. “Essa situação se deve em parte ao desconhecimentos, mas, sobretudo, à omissão, ao comodismo e a uma dose considerável de negação da existência do fenômeno”, explica Ana Beatriz Barbosa Silva.

A base familiar é vital. A família e pessoas próximas precisam conviver com os filhos e sempre apostar na comunicação, diálogo e espaço para eles se expressarem. “Antes de repreender os filhos, é preciso ouvi-los com sincera disposição de ajudá-los”, aponta Barbosa Silva.

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