Segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH), 70 milhões de pessoas no mundo sofrem de algum tipo de transtorno alimentar. 

A voz potente de Demi Lovato canta: “Vá em frente e tente me derrubar|Eu vou me levantar do chão|Como um arranha-céu!” A música “Skyscraper” da cantora norte-americana fala sobre superação, e superação é realmente a palavra para definir Demi. 

Demetria Devonne Lovato começou a sua carreira artística aos 7 anos de idade no programa infantil “Barney e seus amigos”. Hoje, aos 26, ela afirma que gostaria de ter começado mais velha, por conta das pressões que a mídia impunha a ela. Essa exposição a fez, desde muito pequena, tentar se enquadrar nos padrões hollywoodianos, o que causou alguns problemas de saúde à cantora.

Diagnosticada com Transtorno Bipolar e Transtorno Alimentar, Demi lutou contra a anorexia e a bulimia durante anos, e vez ou outra ainda tem algumas recaídas.

O que é Transtorno Alimentar?

Os transtornos alimentares são caracterizados por alterações e perturbações psicológicas referentes à alimentação que interferem na saúde física e mental do indivíduo. Essas alterações referem-se ao excesso de comida ou à falta dela.

Através da história e da literatura, diversos estudiosos relataram casos de transtornos alimentares. Maria Stuart, Rainha da Escócia e Rainha Consorte da França no século 16, sofria de úlcera gástrica seguida de perda excessiva de peso, o que levou médicos e historiadores a acreditarem que a rainha possuía anorexia.

Diversas freiras e santas, como a italiana Santa Catarina de Siena no século 14, realizavam longos jejuns por conta da crença de expurgar os demônios e do milagre da salvação. A prática era muito comum nesse período. Embora controverso por ser atrelado às crenças religiosas, muitos estudiosos acreditam ter sido um dos primeiros casos de anorexia nervosa.

O que causa Transtorno Alimentar?

Não existe uma causa específica para a enfermidade, e sim um conjunto de fatores que podem engatilhar o transtorno. 

Fatores genéticos: Embora ainda não se tenha uma confirmação da etiologia genética nos transtornos alimentares, pesquisas relatam que eles são mais frequentes em parentes de primeiro grau. Pesquisas sobre agregação familiar demonstram a existência de mecanismos de transmissão da doença em famílias. Através de estudos com gêmeos monozigóticos e dizigóticos também apontaram a genética como possível participante das causas dos distúrbios alimentares.

Fatores biológicos:  Acredita-se que modificações em neurotransmissores do cérebro como a serotonina, a reguladora do nosso sono, humor, ritmo cardíaco e apetite, pode estar por trás das causas dos transtornos.

Fatores psicológicos: A presença de doenças como depressão e ansiedade, ou baixa autoestima e traumas, dão força ao aparecimento dos distúrbios, pois distorcem a imagem que o indivíduo tem de si mesmo.

Fatores sociais:  Essa é uma das principais causas do problema. Os padrões de beleza são os maiores vilões dos transtornos alimentares, pois desencadeiam frustrações, baixa autoestima e necessidade de aceitação perante à sociedade. Os padrões de beleza mudam conforme o período histórico, mas as pressões e as consequências delas não mudam nunca: o indivíduo está sempre em dívida com a balança.

Tipos de Transtornos Alimentares

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID), os Transtornos Alimentares são divididos da seguinte maneira: Anorexia Nervosa (inclui Anorexia Nervosa Atípica), Bulimia Nervosa (inclui Bulimia Nervosa Atípica), Hiperfagia associada a outros distúrbios psicológicos, vômitos associados a outros distúrbios psicológicos e outros Transtornos da Alimentação.

Além dos transtornos listados oficialmente pelo CID, vamos tratar também de outras disfunções decorrentes da alimentação de forma não saudável.

Anorexia Nervosa 

O primeiro a denominar o termo como “anorexia nervosa” foi o inglês Sir William Gull, um dos médicos da Rainha Vitória, século 19.   

A anorexia nervosa ocorre quando há perda de peso excessiva de forma intencional, ou induzida, por parte do paciente, sendo que tal perda seria decorrente da distorção da imagem corporal. Os indivíduos que sofrem desse distúrbio podem fazer uso de anorexígenos, laxantes, vômitos propositais, purgação e exercícios físicos exagerados a fim de chegar à magreza esperada.

O distúrbio comumente acomete mulheres adolescentes e jovens, mas adolescentes do sexo masculino, embora em menor número, também entram na equação.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o diagnóstico da anorexia nervosa pode ser baseado na seguinte premissa: o peso corporal é mantido abaixo dos 15% esperados, isso de acordo com cada indivíduo. Os sintomas citados acima são primordiais para diagnosticar o paciente.

Outro indicador do transtorno em mulheres pode ser a amenorreia, ou seja, a ausência de menstruação quando deveria acontecer.

Anorexia nervosa atípica

São os pacientes que apresentam alguns sintomas da anorexia nervosa, como o pensamento constante em perder peso, restrições alimentares, amenorreia, entre outros, mas que não se enquadram no quadro clínico do transtorno. É um grau mais ameno de anorexia mas que deve ser acompanhado por profissionais da saúde. 

Bulimia Nervosa

A palavra vem do grego, boûs (boi), e limós (fome). Ou seja, “bulimia” significa, literalmente, fome de boi. O transtorno se caracteriza por fome excessiva e descontrolada, seguida de comportamentos compensatórios, como indução do vômito, uso de laxantes e diuréticos, períodos de jejum e prática de exercícios em excesso.

Os principais sintomas da bulimia são:

  • refluxo gástrico;
  • sensibilidade nos dentes e erosão do esmalte dentário;
  • dor de garganta e inflamação na garganta;
  • desidratação;
  • comer compulsivamente e em grandes quantidades;
  • métodos compensatórios;
  • pensamento frequente em perder peso.

Bulimia Nervosa Atípica

Algumas características e sintomas da bulimia nervosa aparecem, mas não se enquadram no quadro clínico global, mesmo que o paciente tenha preocupação excessiva com o peso e alguns episódios de hiperfagia tenham ocorrido. Para o diagnóstico preciso, procure um médico.

A diferença entre anorexia e bulimia está na manutenção do peso considerado saudável pela OMS. Os que sofrem de anorexia estão sempre abaixo dele, mas os pacientes com bulimia conseguem mascarar o transtorno na balança pois mutias vezes conseguem manter o peso considerado ideal.

Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)

Esse transtorno alimentar compulsivo periódico se dá quando há a perda de controle sobre o consumo de alimentos, ingerindo-os de forma compulsiva. É o mais comum dos transtornos e muitas vezes causam sobrepeso ou obesidade, quadro preocupante pela predisposição à doenças cardiovasculares.

Comer rapidamente, em grandes quantidades e até sentir-se cheio é um dos sinais do transtorno de compulsão alimentar periódica. Ás vezes, o paciente prefere fazer suas refeições sozinho por vergonha e culpa e também costuma comer mesmo sem estar com apetite.

Diferentemente da bulimia e da anorexia, aqui não há comportamento compensatório, como indução de vômito.

Hiperfagia

A hiperfagia, segundo a OMS, é um transtorno mental causado por eventos traumáticos como acidentes, perdas de entes queridos, entre outros, cujo resultado é o consumo excessivo de alimentos. Geralmente, desencadeia o aumento rápido de peso e pode levar à obesidade.
 

Transtorno Alimentar Noturno

Também conhecido por “Síndrome do Comer Noturno”, o transtorno se caracteriza pela ingestão de alimentos de forma compulsiva no período da noite. 

Um dos sintomas do transtorno alimentar noturno é quando o indivíduo evita comer durante o dia, ou pratica jejum, mas assalta a geladeira de forma compulsória durante a noite, comendo em grandes quantidades. Outro sinal da síndrome é a insônia após a refeição.

Alotriofagia 

Também chamada de “Síndrome de Pica”, se dá através do consumo de  substâncias não alimentares e não nutritivas, como: terra, tecido, tijolo, batom, carvão, etc.  É considerado um transtorno mental.

Ortorexia

Relativamente novo na lista de transtornos alimentares, e ortorexia caracteriza-se por uma preocupação excessiva pelos alimentos que serão ingeridos. É a obsessão em comer de forma saudável

Obesidade

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID), a obesidade (E66.0, no CID) pode ser uma consequência dos transtornos alimentares. Isso vai depender muito do caso do paciente, pois a obesidade tem diversas origens.

Segundo a OMS, obesidade é definida como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura que representa riscos para a saúde, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.

Pelo menos 2.8 milhões de pessoas morrem todo ano em consequência da obesidade e sobrepeso. O problema é mais comum em países desenvolvidos, concentrando-se principalmente nas áreas urbanas.

Transtorno alimentar e suas faixas etárias

Embora os transtornos alimentares sejam mais comum em adolescentes e jovens adultos, eles podem dar as caras logo nos primeiros anos de vida.  O transtorno alimentar infantil existe e pode ser causado pelos mesmos motivos que os de qualquer outra faixa etária: as imposições da sociedade quanto aos padrões de beleza.

Aqui, vale ressaltar também a influência dos pais com dietas restritivas ou permissivas demais, a ingestão de alimentos sem qualquer valor nutritivo – junk food – e o bullying como possíveis gatilhos para os distúrbios.

Mas, geralmente, os transtornos são mais evidentes e diagnosticados a partir dos 13 anos.  O transtorno alimentar na adolescência é preocupante. 

Segundo a pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde, 77% das jovens em São Paulo têm tendência a terem distúrbios alimentares. Em média, a cada 2 dias, uma pessoa é internada por anorexia ou bulimia nos hospitais que atendem pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em São Paulo.

Como tratar Transtorno Alimentar?

Os tratamentos em tipos de transtornos alimentares têm uma coisa em comum: restaurar a nutrição adequada. Toda a compulsão e exagero devem ser reduzidos de forma que o hábito alimentar do paciente se torne algo prazeroso, sem culpa e, principalmente, saudável.

Mas, como lidar com o transtorno alimentar? O que fazer para tratar?

A psicoterapia é um dos métodos mais eficazes pois ajuda a entender os motivos psicológicos que transformaram a alimentação em vilão. 

Transtornos alimentares e psicologia estão muito atrelados, já que os distúrbios não aparecem sozinhos. São motivados por doenças, traumas e outros. A ansiedade nos transtornos alimentares é muito frequente, já que, além de ser um gatilho para os distúrbios, também dá as caras durante eles. A ansiedade em comer, em emagrecer, em se adequar. Os transtornos alimentares e depressão são bem comuns também e podem ser outro fator determinante no início de um distúrbio.

Monitoramento, cuidados médicos e aconselhamento com nutricionistas são fundamentais no processo de tratamento dos distúrbios. Medicamentos podem ser prescritos para combater a origem de alguns transtornos, como os antidepressivos para a depressão.

Em alguns casos, os pacientes podem precisar de internação a fim de garantir que mantenham o peso ideal para a saúde. No filme, “O mínimo para viver”, a protagonista estrelada por Lily Colins sofre de anorexia e procura ajuda psicológica para reverter seu quadro e vai para uma casa de reabilitação. 

A arte imita a vida. Daniel Johns, vocalista da banda Silverchair, lançou a música “Ana’s Song”, em 1999. O nome da canção pode parecer como uma declaração de amor à mulher que ama, mas, na verdade é um relato da vida ao lado de Ana…anorexia. 

“Por favor Ana, morra|Pois enquanto você estiver aqui, nós não estamos|Você faz o som do riso|E de pregos afiados parecerem mais suaves|E você é minha obsessão|Eu te amo até os ossos|E Ana destrói sua vida|Como uma vida de anorexia.”

 

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