Às vezes é difícil resistir a um chocolate depois da janta ou a um clássico macarrão no almoço de domingo. Alguns alimentos realmente trazem a sensação de prazer, a exemplo dos açúcares e carboidratos. Porém, na busca pelo prazer, algumas pessoas tendem a obter compensação emocional através da comida e acabam ingerindo alimentos desse tipo sem mesmo ter necessidade de come-los. O alimento, então, vira combustível para apaziguar emoções e dar tranquilidade aos sentimentos em desequilíbrio, tornando a missão de controlar a compulsão alimentar cada vez mais difícil.

Comer feijão gelado, um pote inteiro de maionese pura ou duas pizzas inteiras em uma única refeição parece extremo? Para quem tem transtorno de compulsão alimentar (TCA) essa é a realidade. Esse transtorno acomete 3,5% das mulheres e 2% dos homens. O TCA traz grandes riscos à saúde física e mental. É bastante comum que pessoas com TCA apresentem comorbidades como depressão, TDAH, aumento do risco de transtornos psiquiátricos em geral e risco de obesidade e sobrepeso.

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No III Congresso de Obesidade e Síndrome Metabólica” da Abeso, o médico José Carlos Apolinnario palestrou sobre o Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA). “O TCA é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão com pelo menos 3 indicadores de perda de controle”.  Os sintomas de compulsão alimentar citados pelo médico envolvem:

  • Comer mais rápido do que o normal;
  • Comer até se sentir cheio;
  • Comer grandes quantidades mesmo sem fome;
  • Comer escondido;
  • Sentir repulsa por si e deprimido após o episódio;
  • Sentir desconforto relacionado ao episódio.

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Os episódios ocorrem pelo menos por 1 semana nos últimos 3 meses e não necessariamente ocorre somente durante o curso de anorexia e bulimia nervosas. Caso o indivíduo possua pelo menos 3 desses sintomas, é preciso dar início ao acompanhamento médico seguido de tratamento.

Compulsão alimentar e psicologia:  A terapia cognitivo-comportamental

Um dos maiores aliados no tratamento da compulsão alimentar é o acompanhamento psicológico, afinal, muitas das causas e gatilhos desse transtorno são os aspectos emocionais e psicológicos. Esses pacientes possuem uma contínua vontade de comer e que chega ao ponto do descontrole.

Porém, o que resta depois dos episódios compulsórios é a culpa. A maioria das pessoas que sofrem do transtorno sabem que extrapolaram e sentem peso na consciência. Isso acontece ainda mais com quem passa por dietas restritivas e perdem o controle profundamente pelo desespero de ficar sem comer.

Muitas pessoas que sofrem de doenças psicológicas como depressão e ansiedade, ou que estão passando por momentos difíceis na vida, encontram na comida a válvula de escape para todas as angústias emocionais. A fome emocional vem pra suprir a falta, seja ela de emoções positivas, de afeto ou de vontades. Quem sofre de doenças psicológicas como depressão ou ansiedade, tem uma grande propensão ao comer compulsivo.

No III Congresso de Obesidade e Síndrome Metabólica, a psicóloga Débora K.Kussonoki aponta a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como uma das melhores linhas para combater o transtorno. A TCC surgiu em 1960, criada pelo psicanalista e professor de psiquiatria da Universidade da Pennsylvania, Dr. Aaron Beck, juntamente com seus colaboradores.

Principais características da TCC:

  • Busca eliminar estratégias compensatórias, distorções cognitivas, pensamentos automáticos e crenças;
  • Pode ser realizada individualmente ou em grupo;
  • O paciente é agente direto e participativo do tratamento;
  • Se preocupa com os ventos presentes em busca da transformação do comportamento problemático;
  • Possui tempo determinado e metas específicas;
  • Geralmente é de curto prazo;

A TCC voltada para o transtorno de compulsão alimentar é derivada do modelo proposto para bulimia nervosa. Tem foco na identificação da relação entre pensamentos, sentimentos e comportamentos alimentares e posterior mudanças dos padrões patológicos. Pode ser usada por diversos profissionais da saúde.

Segundo Kussonoki, a TCC foca na detecção do problema através de muitas vias:  relacionadas ao tratamento, à doença, ao profissional de saúde, ao paciente (falta de conhecimento sobre a doença,culpa, dificuldade de percepção da eficacia do tratamento, dificuldade no manejo de medicamentos por esquecimento, melhora dos sintomas, custo, etc) e aos problemas sociais envolvidos.

O que a TCC trata no TCA, segundo Kussonoki?

– Aspectos subjetivos que impacta os objetivos;

– Mudanças no estilo de vida, cognição, postura social e superação de desafios;

– Quantificação da motivação: diferenciar vontade de perder peso e controlar a compulsão alimentar. A motivação deve vir do paciente e da equipe que o acompanha;

– Definição de objetivos: Toma cuidado com expectativas irreais do paciente e do próprio profissional da saúde;

– Reestruturação nutricional assistida e atividade física;

– Transformação da percepção da imagem corporal que o paciente tem de si, diminuindo o papel dela na avaliação do sucesso pessoal;

– Desencoraja o ideal de que a imagem corporal como determinante de escolhas de atividades, como por exemplo exercícios físicos;

– Alterações comportamentais;

– Tratamento de padrões alimentares patológicos relacionadas a fome e saciedade, já que muitos gatilhos podem ser ambientais.

No desfecho de sua palestra, a psicóloga conclui: “A TCC conduzida por terapeuta foi relacionada a várias melhorias, incluindo a abstinência, a redução na frequência de compulsão alimentar e a psicopatologia relacionada à alimentação (alto grau de evidência para todos os desfechos). Em contraste, as reduções de IMC e nos sintomas de depressão não foram tão significativas”. A hipótese para melhorar os dois últimos aspectos é atrelar a TCC com acompanhamento nutricional e medicação em casos de depressão severa como comorbidade.

Outro grande inimigo do tratamento do transtorno de compulsão alimentar é que, embora o paciente saiba que tem algo de errado, ele quase nunca associa ao psicológico. Ele sempre conclui que o ganho de peso e a relação obsessiva com a comida tem uma origem física metabólica, e foca toda a sua tentativa de emagrecimento nos exercícios físicos e dietas malucas sem acompanhamento psicológico. Assim, a fonte do problema não é tratada e aumenta as chances desse paciente piorar psicologicamente, afinal, ele tenta de tudo para emagrecer ou parar de comer compulsivamente, mas não consegue, o que gera frustração e, consequentemente, margem para o aparecimento de outros transtornos psicológicos.

Cristiane Evangelista Machado é mestre em psicóloga hospitalar pela Faculdade de Medicina da USP e profissional cadastrada na Telavita. Ela afirma que “a pessoa que já tem predisposição depressiva por questões genéticas ou do próprio histórico de vida, encontra na ingestão alimentar uma compensação desse sofrimento emocional. E aí essa compulsão alimentar gera o aumento de peso. O comportamento alimentar vem como compensação ao sofrimento emocional e causa todo o tipo de transtorno psicológico, como estresse, ansiedade e depressão”, explica Cristiane.

Caso tenha se identificado com as informações aqui abordadas, procure um especialista. Jamais realize o autodiagnóstico. A psicóloga especializada em Transtorno de Compulsão Alimentar, Cristiane Evangelista Machado, é uma das profissionais cadastradas na Telavita que pode te ajudar. Acesso o nosso site e veja como marcar uma consulta!

 

 

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