Adolescência tardia e o medo de ser adulto

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medo de ser adulto

Será que você está vivendo a adolescência tardia?

Boleto…essa é, com certeza, uma das palavras mais temidas do mundo adulto. E não é para menos, não é mesmo? Se você arca com alguma despesa, seja ela água, luz, faculdade ou o adorado — e temido — cartão de crédito, você sempre tem um encontro marcado com ele todo o mês. Comecei a trabalhar aos 18 anos e, consequentemente, a pagar alguns desses boletos. O sentimento de pertencimento ao mundo adulto logo apareceu pois, para mim, ser adulto era ter um boleto com o meu nome. Mas, a verdade é que, mesmo com 18, 20 ou 24, eu só fui me sentir próxima a um conceito de adulta por volta dos 26. Mas, afinal, o que é ser adulto?

Ser adulto é uma questão de perspectiva, e isso já começa pela própria definição da palavra. No dicionário Michaellis, por exemplo, o significado da palavra “adulto” é  “quem ou o que atingiu o máximo de seu crescimento e a plenitude de suas funções biológicas”, ou seja, numa visão ampla, passar para essa fase da vida é mais uma questão biológica e atrelada à idade. Já a definição de “se tornar adulto” sob a ótica da psicologia, o dicionário define “que ou aquele que possui maturidade emocional e intelectual e que apresenta adequada integração social ao pensar e atuar de maneira equilibrada e sensata”. Aqui, ser adulto não tem a ver com a idade em si, mas sim em como ter maturidade emocional.

Por isso, quando falamos em “amadurecer” devemos levar em conta os dois lados: o biológico e o psicológico. Em uma sociedade que preza o ideal de juventude eterna com cremes anti-idade e plásticas fica claro que nos preocupamos mais com o envelhecimento físico do que com o psicológico/emocional. Acredita que tem até uma fobia de envelhecer? A gerascofobia é o medo de virar adulto ou envelhecer, que também pode ser entendido como o medo de mudanças ou o medo da responsabilidade que ser biologicamente e socialmente mais velho implica. 

O que é adolescência?

O período da adolescência é relativamente novo. Os nossos avós ou bisavós, por exemplo, começavam a trabalhar muito cedo e os estudos, brincadeiras e processos de construção interpessoais e intrapessoais eram deixados em segundo plano, mas ainda assim, passaram a ser mais dependentes dos pais do que as gerações anteriores. “Com a escolarização prolongada e a introdução de um sistema de ensino segmentado, de acordo com as diversas áreas do conhecimento, o período de dependência dos jovens em relação aos pais cresceu. Estendeu-se o prazo entre a puberdade e o casamento e os jovens passaram a deixar a casa dos pais cada vez mais tarde”, aponta artigo da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). 

Já no século 21, a coisa muda de figura novamente quando a tecnologia e consumismo surgem e repercutem na vida do jovem nas mais variadas dimensões. “A adolescência hoje é marcada por desafios na construção de projetos futuros, pela busca por novas maneiras de se relacionar amorosa e sexualmente e pelo envolvimento por vezes problemático com drogas e situações de violência”, observa a psicanalista Luciana Gageiro Coutinho, professora da UFF (Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense) e autora do livro Adolescência e errância – destinos do laço social no contemporâneo (editora Nau, 2009).

A nova idade da adolescência

“O adolescente expressa o drama do sujeito contemporâneo. Ele é, por definição, um indivíduo errante, em pleno trabalho de elaboração e apropriação do laço social, entre o desamparo e a busca permanente por pontos de ancoragem”, define Coutinho. Como falamos anteriormente, o conceito de adolescência é mutável. Conforme o contexto histórico e as condições contemporâneas daquele período, as características da adolescência se adaptam e se reconfiguram. 

Até pouco tempo atrás a adolescência consistia no período entre 11 e 19 anos de idade. Porém, atualmente já se fala do alongamento desse período para 24 e 26 anos de idade. Isso por que com o avanço tecnológico e mudanças culturais e sociais, alterou-se também o modelo de vida em que se deveria casar e ter filhos antes dos 30. Antes, a adolescência terminava com o período escolar, que compreendia o Ensino Médio e, em alguns casos, a graduação na faculdade. Mas com a continuidade dos estudos para faculdade, pós-graduação, intercâmbio e outras possibilidades, o jovem não quer mais casar antes dos 30. Ele quer realizar outras formações, experiências e vivências até se estabelecer.

Puberdade tardia

Até aqui já conseguimos destrinchar que a adolescência é um período mutável e que existe uma diferença de conceito entre ser adulto no quesito psicológico e biológico. Também entendemos que o quando termina a adolescência  foi estendido até os 24 ou 26 anos de idade. Porém, existe um processo psicológico pelo qual alguns adultos passam chamado de adolescência tardia.

O que é essa tal de adolescência tardia? Bom, alguns adultos teimam em permanecer com a idade mental dos 18 anos para sempre e não passam pelas mudanças psicológicas na adolescência que deveriam ter passado, como o desenvolvimento da inteligência emocional, por exemplo. São adultos que não conseguem encarar responsabilidades, obrigações e papéis que devem cumprir quando chegam a uma certa idade. É aquela pessoa que se veste de maneira jovial, usa as gírias da época e se comporta como se tivesse 15 anos. A rebeldia e o desprezo por regras e imposições sociais são marcas registradas desses sujeitos.

Mas tem problema querer se vestir de forma jovem? Não, o que vestir e como falar só diz respeito ao indivíduo, mas se comportar como adolescente para sempre, é. É que esse indivíduo não desenvolve a maturidade emocional, ou seja, a capacidade de tomar decisões, cuidar da própria vida, refletir e reagir de forma emocionalmente inteligente aos estímulos externos, sem perder o  balanço interno.

Saiba o que é maturidade emocional aqui!

E quando essas pessoas mentalmente adolescentes têm filhos? Ihhh, aí o problema realmente toma forma, pois eles não conseguem impor regras aos filhos, já que eles mesmos não as seguem. São vistos pelos filhos mais como irmãos do que pais e crescem sem limites ou exemplos de como ter inteligência emocional. Isso explica a quantidade de crianças e jovens que não conhecem limite e respeito pelo ambiente, pelo outro e pela própria vida. 

Dica de leitura: inteligência emocional.

“Se você envelhecer sem amadurecer, certamente estará em débito com sua vida emocional, psíquica e física”, afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir em entrevista para a Superinteressante. Envelhecer é inevitável. Ainda não encontramos a fonte da juventude ou a Terra do Nunca. Por isso, é essencial que o processo de aceitação do envelhecimento ocorra de forma natural e amigável, afinal, crescer com maturidade faz toda a diferença. 

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