60%. Esse foi o salto do número de obesos no Brasil em um período de 10 anos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Estima-se que em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo assusta pois ele tende a crescer e chegar nos 75 milhões, caso nenhuma medida seja tomada.

A obesidade e a saúde estão intimamente ligadas. O estilo de vida que atualmente levamos não colabora com a alimentação saudável. “É inegável que há um acesso cada vez maior (e mais rápido) à comida, seja ela calórica ou não. E aqui mora o desafio: como buscar equilíbrio em um mundo cheio de apelos e comodidades sem tentar regressar ao tempo das caverna e virar refém de métodos de emagrecimento rápido pré-formatados?”, questiona o cientista, professor e especialista em emagrecimento, Antonio Herbert Lancha Jr.

Em busca do rápido emagrecimento e na ilusória solução de todos os problemas que emagrecer pode trazer, mais e mais pessoas buscam a cirurgia bariátrica como procedimento. Mas o que muita gente esquece é que não é qualquer pessoa que pode fazer a bariátrica.

Quem pode fazer bariátrica? O  IMC para a cirurgia bariátrica é indicada para “indivíduos que apresentem IMC≥50 Kg/m2, IMC≥40 Kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado, na Atenção Básica e/ou na Atenção Ambulatorial Especializada, por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos e indivíduos com IMC>35 kg/m2 e com comorbidades, tais como pessoas com alto risco cardiovascular, diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial sistêmica de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos”, explica o Ministério da Saúde.

Recentemente, um transtorno psicológico foi inserido na lista de indicações para a bariátrica: a depressão. A mudança aconteceu em 2016 pelo  CFM (Conselho Federal de Medicina), na resolução n° 2.131/15, que “altera o anexo da Resolução n° 1.942/10 e acrescenta outras doenças associadas à obesidade como depressão, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva, infertilidade masculina e feminina, entre outras”, explica a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

A obesidade e o sobrepeso são perigosas na vida de um indivíduo, pois elevam a incidência de diabetes, AVC, infarto, adenocarcinoma de esôfago, câncer colorretal e câncer endométrico. Assim, a cirurgia bariátrica se faz necessária nesses casos em que a saúde do paciente é colocada em risco.

Entrevistamos Cristiane Evangelista Machado, mestre e psicóloga hospitalar pela Faculdade de Medicina da USP e profissional cadastrada na Telavita. A especialista comentou os aspectos psicológicos que envolvem a bariátrica e por que fazer terapia pré e pós-cirurgia bariátrica é fundamental!

Compreende a vivência do paciente obeso

“Não podemos dizer que a obesidade não gera sofrimento psicológico porque a pessoa fica limitada fisicamente e socialmente. Existe, sim, exclusão e preconceito. Embora exista conscientização e políticas de inclusão, ainda temos muito preconceito, mas normalmente o paciente que vem ao consultório não admite que vem por questões emocionais. Eles chegam falando de frustrações por não conseguirem emagrecer de outra forma, o que faz com que se sintam fracassados por terem de fazer a cirurgia, tudo porque não conseguiram emagrecer por conta. Eles dizem se sentir impotentes. Sempre existe a queixa de autoestima, não só da imagem, mas da sensação do fracasso e limitação”, aponta Cristiane.

Desconstrói expectativas irreais dos pacientes

“A obesidade é um bode expiatório para os pacientes. É o problema direto que eles lidam todos os dias. Eles possuem muitos obstáculos por estarem obesos e parece que todos os problemas da vida são por conta da obesidade. Pessoas magras não são traídas, não têm problema de dinheiro, não sofrem? Eu entendo o paciente que tem essa expectativa, mas o que fazemos no pré-bariátrica é desconstruir essa imagem de que todos os problemas desaparecerão porque o paciente emagreceu”.

Realiza a avaliação psicológica para realizar a bariátrica

Para poder realizar a cirurgia bariátrica é preciso que uma avaliação psicológica seja feita. Somente através do laudo psicológico para cirurgia bariátrica dessa avaliação é que o paciente pode fazer a bariátrica. Mas como essa avaliação funciona? “A avaliação psicológica é realizada para saber se o paciente tem condições psicológicas de arcar com os riscos da cirurgia. Se o paciente não tiver condições cognitivas e emocionais para passar pelas restrições ou não tiver um quadro estável, a cirurgia não é realizada”, explica Cristiane.

Acompanha o paciente e suas dificuldades no pós-operatório

O paciente bariátrico é colocado sob uma cirurgia de risco, sim, mas o que também é avaliado é o pós-bariátrica, já que a dieta extremamente restritiva e os incômodos físicos do procedimento podem causar muito estresse. “Um paciente que faz cirurgia bariátrica leva algum tempo para se recuperar. Coisas simples, como tomar um copo d’água, para eles, é uma tarefa extremamente complicada pois a capacidade gástrica fica comprometida. Ele sente dor e incômodo. A própria dieta é difícil. Imagine uma pessoa que ingeria meio quilo por dia e passa a comer somente 150 gramas. A alimentação pós-bariátrica muda completamente. Às vezes o paciente não tem noção da seriedade da cirurgia e o quão protocolar a dieta é. Ela envolve capacidade de disciplina e compreensão do risco que existe se o paciente não seguir as recomendações à risca”, conta Cristiane.

Identifica e trata a Compulsão Alimentar

O comer compulsivo é um padrão recorrente, ou seja, acontece com frequência e está associado à perda de controle. Quando pensamos em compulsão alimentar ou comer compulsivo, estamos nos referindo à pessoa que come grande quantidade de alimentos rapidamente, perde o controle e não consegue interromper a refeição mesmo quando se sente estufada ou plenamente saciada. Para caracterizar esse comer como doença é preciso que ocorra pelo menos duas vezes por semana”, define o médico Alexandre Azevedo em entrevista para o portal do dr. Dráuzio Varella.

Após a cirurgia bariátrica, esse  comer compulsivo é um dos maiores vilões do reganho do peso antes da cirurgia. “Tratar a TCA ajuda a diminuir essa ingestão por impulso. A cirurgia atua na fome e na saciedade, ou seja, o paciente não sente fome depois da cirurgia, mas pode continuar a comer se tiver vontade, pois o desejo é o que impulsiona o comportamento compulsório”, explica Cristiane

Investiga as causas da compulsão alimentar

O comportamento mais comum no cenário em que o paciente não consegue seguir as recomendações do pós-operatório e tem o reganho de peso é que ele dificilmente vai continuar com os procedimentos. “Operei, não resolveu”. O paciente para de se cuidar, para de procurar acompanhamento e  consultoria nutricional,  psicólogo e médicos. “É fundamental que o paciente saiba dos objetivos e o que a cirurgia pode fazer por ele. Eles não admitem que procuram a cirurgia por questões emocionais, a questão emocional é sempre secundária, mas no processo de avaliação sempre descobrimos se ele tem expectativas secundárias além das principais, que são a saúde e de sair do risco”, explica Cristiane.

A ajuda psicológica na cirurgia bariátrica é imprescindível, tanto antes quanto depois da cirurgia, pois pode implicar em todos os problemas acima citados. Além disso, o paciente pode sentir dificuldade em enxergar a sua nova realidade, afinal, indivíduos com obesidade sempre tiveram atrelados a si diversos estigmas e se livrar deles de um dia para o outro, não é uma tarefa fácil. Para que problemas futuros não sejam desenvolvidos ou que a obesidade não retorne, é preciso o auxílio psicológico para lidar com todas essas questões.

 

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