Modelo, rainha de bateria e ícone dos anos 80 e 90, Luiza Brunet sempre foi símbolo de beleza e sensualidade. Mas e quem disse que aos 57 anos ela ainda não carrega todos esses títulos? Embora envelhecer seja um processo natural, muitas mulheres têm um medo danado das rugas, dos cabelos brancos e de outras mudanças normais e que acontecem à todos. Uma dessas fases da vida da mulher é a menopausa, nome dado à última menstruação da mulher, caracterizando, assim, o fim de seu ciclo reprodutivo.
Em entrevista à revista “TPM”, em 2012, Luiza Brunet contou que o que mais lhe incomodava no envelhecimento era a menopausa. A modelo utilizou os termos “chato e desconfortável” para designar o período que, para a grande maioria das mulheres, é uma fase bem delicada. “Você fica deprimida, com calores, dor de cabeça, se sente velha e totalmente fora do eixo. Você tem que fazer reposição hormonal, mais exercício. É muito difícil”, conta a modelo.
O que é menopausa?
O Ministério da Saúde define: “A menopausa corresponde ao último ciclo menstrual, somente reconhecida depois de passados 12 meses da sua ocorrência. Ao falar dos sintomas da menopausa, algumas pessoas podem encará-la como como um problema de saúde. Mas a verdade é que menopausa não é doença e também não precisa ser encarada com sofrimento”.
Muita gente confunde os termos “menopausa” e “climatério” pois ambos dizem respeito à mesma fase, porém acontecem em momento diferentes. “O climatério é o conjunto de sintomas que surgem antes e depois da menopausa, causados, principalmente, pelas variações hormonais típicas desse período, e que podem ocasionar uma série de flutuações no ciclo menstrual. Nessa fase de transição, é comum que as menstruações fiquem mais espaçadas. Por isso, a menopausa só é “diagnosticada” após a mulher passar pelo menos 12 meses sem menstruar”, explica artigo da Pfizer.
A idade da menopausa chegar é lá pela casa dos 50 anos de idade, porém o climatério geralmente vem antes.”O climatério começa por volta dos 41 anos de idade, estende-se até mais ou menos os 65 anos e é marcado por pequenas alterações físicas e psicológicas. Dentro dessa grande margem de tempo, ocorre a menopausa”, aponta o Dr. Joel Rennó Jr. em entrevista ao portal do Dr. Drauzio Varella.
Menopausa e sintomas
Como funciona a menopausa? Toda mulher produz os hormônios sexuais estrogênio e progesterona nos ovários. Porém, com o envelhecimento dos deles, a produção dos hormônios sexuais chega ao fim e a mulher pára de menstruar. Essa fase em que há uma insuficiência ovariana e menstruações irregulares é o período chamado climatério, que explicamos logo acima. A fase caracteriza-se por sintomas muitas vezes incômodos e alterações significativas no corpo e mente da mulher.
- Muito calor nas regiões do pescoço, tronco e face;
- Sudorese;
- Fadiga muscular.
- Vertigens;
- Palpitações;
- Irregularidades na duração dos ciclos menstruais e na quantidade do fluxo sanguíneo;
- Dificuldade para esvaziar a bexiga;
- Dor para urinar;
- Incontinência urinária;
- Infecções urinárias e ginecológicas;
- Ressecamento vaginal;
- Dor à penetração;
- Diminuição da libido;
- Irritabilidade;
- Labilidade emocional;
- Choro descontrolado;
- Depressão;
- Distúrbios de ansiedade;
- Melancolia;
- Perda da memória;
- Insônia;
- Perda do vigor nos cabelos e nas unhas, que ficam mais finos e quebradiços;
- Alterações na distribuição da gordura o corpo;
- Perda de massa óssea característica da osteoporose e da osteopenia;
- Risco aumentado de doenças cardiovasculares.
FONTE: Dr. Draúzio Varella
O Impacto psicológico da menopausa
A menopausa é um período de muitas mudanças e, se a mulher não tiver o preparo e o acompanhamento necessários, pode estar suscetível ao desenvolvimento de doenças psicológicas. A labilidade emocional, ou seja, o desequilíbrio de emoções, é bastante comum, isso porque a produção de hormônios importantes começam a diminuir já no climatério. Nessa fase de alterações hormonais conhecida como perimenopausa, a mulher fica extremamente sensível, com grandes flutuações de humor, melancolia, insônia e até lapsos de memória.
Além desses impactos, as alterações hormonais também provocam a dispareunia, ou seja, dor nas relações sexuais, devido à diminuição do estrogênio, responsável pela lubrificação da vagina. O desconforto físico também é atrelado ao estresse, frustração e ansiedade que a mulher sente por não conseguir sentir prazer com o(a) parceiro(a), o que pode ocasionar em problemas conjugais. É muito importante que o(a) parceiro(a) dessa mulher que está passando pela fase da perimenopausa a ajude e incentive a procurar aconselhamento médico e psicológico para ambos, assim, qualquer problema na vida a dois tem menos chances de ocorrer.
Entrevistamos a psicóloga da Telavita, Cristiane Machado, mestre em Ciências da Saúde especialidade em saúde da mulher e feminilidade.
Juliana Sonsin: Sabemos que a menopausa acarreta em labilidade emocional e sensibilidade. Como esses fatores podem ser um caminho para transtornos psicológicos como a depressão?
Cristiane: Em psicologia, quando estudamos o desenvolvimento humano, não podemos negar que corpo e psique são integrados: qualquer alteração no corpo interfere na psique, e alguma alteração emocional interfere no corpo. O que percebemos na menopausa é que são uma série de alterações emocionais que terão alterações psicológicas. No caso da depressão, não podemos negar o histórico de vida dessa pessoa, se essa pessoa já tem uma predisposição à depressão ou teve depressão ao longo da vida, instabilidade severa de humor. Tudo isso se intensifica na menopausa.
Também podemos entrar em uma questão social que é a percepção da mulher em relação ao envelhecimento. Em culturas, como a nossa, é uma cultura de valorização da juventude e da beleza eterna, então, a parada no ciclo reprodutivo pode representar um certo vazio, uma perda de sentido, uma perda de função e papel feminino na sociedade, e isso pode culminar na depressão.
Juliana Sonsin: Tem uma certa despersonalização, certo? Elas se sentem perdidas.
Cristiane: O que acontece com alguns cuidados em saúde da mulher é a falta de escuta e a medicação de qualquer sintoma e labilidade emocional. Falta escuta, informação, interação com outras mulheres que estão passando pela mesma fase e falar abertamente sobre a fase, desde a falta de libido, até a síndrome do ninho vazio, que acontece geralmente nesse período. E aí a mulher vai no ginecologista ou no endócrino e passam uma medicação para abafar os sintomas, ao invés de focar no que seria uma oportunidade para ressignificar a feminilidade dessa mulher, entrar em contato com essa fase de revisão de vida. Se você apenas medica essa fase e não dá espaço da fala, você perde a oportunidade de elaboração, passar pelas dificuldades e posicionamento frente à maturidade.
Juliana Sonsin: Você diria que a terapia é essencial nesse período?
Cristiane: Perguntar isso para uma psicóloga é o mesmo que perguntar a um dentista se é preciso escovar os dentes todos os dias. Eu entendo que a psicoterapia é indicada em qualquer fase de vida. Mulheres que vão trabalhando o seu amadurecimento, envelhecimento e questões conjugais desde a fase jovem-adulta, ela vai chegar na menopausa com maiores oportunidades de ressignificar a si mesmas nessa fase. O importante não é necessariamente uma psicoterapia. Para pessoas que gostam e se identificam, ótimo! É essencial que as pessoas fazerem algo terapêutico, que gere autoconhecimento, algo em que elas consigam falar sobre isso e olhar para essa fase com mais naturalidade. Ela pode se beneficiar da terapia, mas também de atividades que se identifiquem.
Juliana Sonsin: Você diria que a terapia é essencial nesse período?
Existe uma busca constante pelo prazer a qualquer custo e não existe espaço para falar do sofrimento, então insônia, ganho de peso, perda de memória que algumas mulheres têm nesse período, ninguém fala. E essas questões são naturais do envelhecimento.
Falar sobre o envelhecimento assusta e, por isso, muitas mulheres sofrem o impacto psicológico da menopausa pois é o sinal biológico de que ela ingressou em uma nova fase de vida, uma mais madura e longe dos trinta e poucos anos. É por isso que a luta contra esse padrão de que é proibido envelhecer seja constante desde jovem, assim, o autoconhecimento e a consciência de que envelhecer é normal torna qualquer mulher pronta para enfrentar os desafios físicos e mentais da menopausa.