Mãe. Trata-se da primeira figura e pessoa que possuímos contato na vida. Por conta disso, as palavras parecem ser insuficientes para descrever a importância desse ser para a nossa existência.

Essa é a pessoa que nos acompanha desde o nascimento e é responsável pela nossa sobrevivência. A convivência inicial molda a personalidade e traz consequências capazes de serem rastreadas para o resto da vida.

Por outro lado, a maternidade também é uma experiência capaz de transformar a mulher. Essa pessoa não é a mesma, afinal, agora é mãe. E precisamos também entender o que isso significa para as mulheres e os seus filhos.

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Mommy brain e como surge uma mãe

Virar mãe é algo difícil de explicar. Qualquer relato sobre essa experiência será diferente, porém, existe uma certeza: a mulher muda. E essa não é somente uma percepção, pois, estudos indicam que, realmente, o cérebro da mãe sofre uma transformação nessa nova fase.

Inclusive, a Scientific American relatou ainda em 2006 que quase todas as fêmeas de mamíferos sofrem “mudanças fundamentais” durante a gravidez e após o nascimento. Além disso, a revista apontou que os hormônios da gravidez e da lactação podem alterar o cérebro.

Segundo a pesquisadora Pilyoung Kim, “nas novas mães há mudanças em muitas áreas do cérebro”. Durante seu estudo, ela conseguiu perceber um “crescimento em regiões do cérebro envolvidas na regulação emocional, regiões relacionadas à empatia, mas também no que chamamos de motivação materna”.

Inclusive, isso corrobora com as descobertas realizadas pela pesquisadora do cérebro Ruth Feldman. Segundo ela, ocorrem diversas mudanças nos níveis hormonais e cerebrais da mulher.

“Os níveis maternos de ocitocina – o sistema responsável pela ligação materno-infantil em todas as espécies de mamíferos – aumentam drasticamente durante a gravidez e o (período) pós-parto e quanto mais a mãe está envolvida nos cuidados infantis, maior o aumento da ocitocina”, complementa Feldman.

E essa mudança ao virar mãe não termina somente no parto. Os efeitos que isso gera na mulher permeiam toda a vida dessa pessoa e, inclusive, são muito benéficos para a saúde e bem-estar.

De acordo com a pesquisadora Winnie Orchard, “nossas descobertas recentes sugerem que a maternidade remodela física e funcionalmente o cérebro por toda a vida e é potencialmente benéfica para o envelhecimento do cérebro materno”.

A importância da mãe na construção da personalidade

De acordo com Winnicott, a mãe é responsável pela construção da saúde mental dos filhos. Nesse sentido, ela é a atenuadora dos processos que envolvem o desenvolvimento emocional e físico do bebê.

Além disso, o cuidado da figura materna com a criança é fundamental na construção do sujeito dessa nova vida. Sendo assim, o bebê irá iniciar sua jornada desenvolvendo um ambiente capaz de proporcionar desafios para conceber sua personalidade.

Nesse sentido, a psicanálise possui como pilar fundamental da construção de personalidade a interação do bebê e a mãe. Dessa forma, é necessário compreender como essa relação influencia na formação do sujeito.

De acordo com Maciel e Rosemburg, “a condição de desamparo em que o recém-nascido chega ao mundo estabelece uma necessária relação de dependência com sua mãe. Devido a esse tipo de relação, necessária no início da vida, o bebê é intensamente afetado na construção de sua personalidade pela natureza dos laços maternos”. 

Inclusive, Freud, em “Inibição, sintoma e angústia”, comenta que “a situação biológica da criança, como feto, é substituída para ela por uma relação de objeto psíquico com sua mãe”. Além disso, “essa condição de extrema e prolongada dependência é determinante na formação da personalidade do ser humano”, complementa.

Nesse sentido, Klein reforça que “as relações entre o bebê e sua mãe, construídas principalmente no primeiro ano de vida, período de extrema plasticidade do recém-nascido, acabam estabelecendo desde muito cedo o modelo básico de como ele se relacionará consigo mesmo e com os outros, durante a sua vida”. 

A psicóloga ainda complementa dizendo que, no geral, essa estrutura básica criada no início da vida nos acompanha até a fase adulta. Entretanto, é importante ressaltar que também podemos viver experiências capazes de trazer e transformar nosso sujeito.

Mãe e o desenvolvimento saudável da criança

A saúde mental e o desenvolvimento das crianças é influenciada por diversos fatores. Entretanto, o apoio e cuidado parental é uma das condições psicossociais fundamentais para o crescimento saudável das pessoas.

Segundo a psicóloga Natalie Reiss, “a maioria das pessoas com altos níveis de apoio dos pais durante a infância desenvolve níveis mais altos de auto-estima, um maior senso de controle pessoal e melhores relacionamentos familiares na idade adulta”. 

“Além disso, as pessoas com apoio parental precoce desenvolvem menos problemas psicológicos e físicos ao longo da vida adulta e até mesmo na velhice”, complementa a psicóloga.

A influência da mãe na vida da pessoa percorre toda a nossa trajetória. Apesar de toda interação ser importante, a relação construída nos primeiros anos é fundamental para o desenvolvimento pessoal.

Nesse sentido, um estudo publicado no Journal of Marriage and Family apontou que interações positivas com a mãe nos nossos primeiros 16 anos estavam associadas a diversos benefícios, entre eles: permanecer mais tempo na escola, ter melhor memória episódica e melhor satisfação conjugal na idade adulta.

Por outro lado, uma relação problemática também reflete no nosso desenvolvimento ao longo da vida. De acordo com o pesquisador Pasco Fearon, “crianças com apegos de insegurança em relação às suas mães, principalmente meninos, tiveram significativamente mais problemas comportamentais, mesmo quando esses problemas foram medidos anos depois”.

Saúde mental materna

Ser mãe implica em diversas mudanças na vida e, consequentemente, o estado emocional também é transformado. As mulheres que passam por essa experiência precisam lidar com novos desafios em um curto espaço de tempo, o que pode sobrecarregá-las.

Infelizmente, esse assunto ainda não é tão falado, prejudicando a ajuda necessária às mães. De acordo com estimativas do World Maternal Mental Health Day (WMMHD), 7 em 10 mulheres não relatam ou minimizam os sintomas de saúde mental que sentem.

Falar sobre a saúde mental materna é fundamental, pois trata-se do bem-estar diretamente da mulher, do bebê, do casal e da família. Dessa forma, esse novo contexto precisa ser acolhedor e saber lidar com as alterações que esse novo período traz.

A maternidade é para a vida toda. Sendo assim, a saúde mental das mães é uma base fundamental para o desenvolvimento dessa mulher, além de ser um aspecto importante que irá influenciar no crescimento saudável da criança.

LEIA MAIS: Precisamos falar sobre saúde mental materna

Burnout materno: o esgotamento da mãe

O burnout materno é caracterizado pelo estresse crônico e exaustão relacionados a demandas do cuidado parental. Nesse sentido, refere-se ao esgotamento mental das mães, distanciamento emocional de seus filhos e sentimentos reduzidos de realização e eficácia da maternidade.

Apesar das implicações diretas na figura da mulher, a criança também sofre bastante por conta dessa questão. O desenvolvimento cognitivo do bebê depende da relação estabelecida com os pais, portanto, é fundamental prezar pelo bem-estar da mãe.

Nesse sentido, é possível notar alguns sinais do esgotamento materno. Entre eles, podemos citar: tristeza, afastamento, cansaço, irritação, isolamento, despersonalização, desmotivação e não cumprimento de tarefas diárias.

LEIA MAIS: Burnout Materno – O esgotamento mental e físico da maternidade

O que é puerpério?

O puerpério, também conhecido como quarentena ou resguardo, é uma fase que inicia logo após o parto, em que as alterações fisiológicas maternas relacionadas à gravidez retornam ao estado não-gestacional. 

Não existe uma duração específica para o puerpério, pois depende de cada mulher, entretanto, no geral, ocorre por cerca de seis semanas. Trata-se de um período intenso, portanto, é necessário prestar apoio.

Durante esse período, a mulher passa por diversas mudanças. E elas vão desde alterações hormonais e perda do corpo gestacional até o início da amamentação e o cuidado em tempo integral do bebê.

Nesse sentido, é necessário ter um cuidado com as necessidades psicológicas da puérpera nessa transição. As mudanças são tamanhas e o estado emocional é afetado, por isso, é importante lidar com sensibilidade a situação.

Depressão pós-parto

A depressão já pode ser um assunto sensível para muitos, então, falar sobre sua modalidade que ocorre logo após o parto pode ser mais difícil. E, infelizmente, esse é um problema mais comum do que imaginamos, afinal, afeta mais de uma em cada dez mulheres dentro de um ano após o parto.

O ato de gerar uma nova vida é marcante, entretanto, pode também deixar marcas. Segundo o Ministério da Saúde, a depressão pós-parto “é uma condição de profunda tristeza, desespero e falta de esperança que acontece logo após o parto”.

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Obviamente, a depressão pós-parto exerce um fardo muito grande sobre a mãe, porém, ela também traz consequências ao vínculo com o bebê. Isso pode ser observado, principalmente, na questão afetiva, que, caso não seja tratada, pode gerar sequelas duradouras na vida da criança.

Aliás, é fundamental deixar claro que a depressão pós-parto não é nenhuma fraqueza ou falha de caráter. Trata-se de um problema que, inclusive, existe tratamento. Por conta disso, é importante falar sobre o assunto para que mais pessoas possam buscar ajuda.

Dessa forma, é necessário buscar acompanhamento profissional para lidar corretamente com a questão. Geralmente, o tratamento é realizado através de terapia, para lidar com questões comportamentais, e medicamentos, para lidar com aspectos biológicos.

LEIA MAIS: O que é depressão pós-parto?

Mãe solo

Por muito tempo, utilizou-se a expressão “mãe solteira” para chamar as mulheres responsáveis por criar os seus filhos sozinhas. Entretanto, tal designação contém uma carga de preconceito, pois, indiretamente, está condenando a atitude dessas mães de criar as crianças sem um companheiro.

Nesse sentido, hoje fala-se em “mãe solo”. Trata-se de uma maneira mais adequada de se referir a essas mulheres cuidadoras e provedoras do lar. Ser “mãe solo” não é algo ruim e, por isso, não podemos colocar essa situação relacionada ao seu estado civil.

E essa é uma situação que afeta parte significativa da população. Aliás, são 57,3 milhões de mães solo no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, 38,7% das mulheres chefiam os seus lares.

Os desafios são enormes, seja por conta da situação econômica ou pelo aspecto psicológico. O preconceito ainda impera contra tais mulheres e, por isso, é fundamental entender a condição em que se encontram.

Seja por escolha própria ou por acaso do destino, ser mãe solo não é nada fácil. Nesse sentido, é necessário muita força, paciência e resiliência. A saúde mental dessas mulheres, então, não pode ser negligenciada. Falar sobre o assunto é o início, mas não podemos parar por aqui.

LEIA MAIS: Mãe solteira? Não, mãe solo! Os desafios e o impacto psicológico de criar filhos sozinha

Síndrome do ninho vazio

A síndrome do ninho vazio corresponde a dor e sofrimento que os pais sentem pela saída definitiva dos filhos de casa. Nesse sentido, é possível perceber um período de luto pela perda da responsabilidade em cuidar da prole.

Trata-se de uma etapa da vida dos filhos e diferentes pais encontram dificuldades para entender e processar esse novo momento. Aliás, muitos vivenciam sentimentos de perda, medo, incapacidade, dificuldade de ajuste de papéis e mudança das relações parentais.

Além disso, estudos apontam que a mãe pode ser a que sofre mais com essa perda. Isso acontece, principalmente, em cenários em que ela é a principal figura familiar e dedica a sua vida à criação dos filhos.

LEIA MAIS: A forte saudade do filho e a Síndrome do Ninho Vazio

Mães de segunda viagem

A maternidade sempre é uma surpresa. Não importa se você possui um, dois ou três filhos, sempre haverá experiências novas para vivenciar. Aliás, são pessoas diferentes na sua vida e que, com certeza, farão toda a diferença.

As mães de segunda viagem possuem uma maior experiência para lidar com as situações que aparecerão durante a rotina. Não é algo fácil, afinal, mais de uma vida está sob a sua responsabilidade.

A dinâmica familiar é diferente, não necessariamente melhor ou pior. E não pense demais sobre o que vai ser melhor para o seu filho: crescer sozinho ou com irmãos. Afinal, existem diversos estudos apontando os benefícios de ambas as criações.

LEIA MAIS: Segundo filho – Será que é o momento certo?

Dificuldade de engravidar e o aspecto psicológico

O desejo pela maternidade é algo que muitas possuem, entretanto, certas pessoas possuem dificuldade para conseguir engravidar. O sonho está ali, porém, algo parece não encaixar para materializar essa vontade.

E essa questão afeta um grande número de pessoas. Dois em cada dez casais encontram dificuldade para engravidar e, no geral, 30% dos casos estão relacionados a fatores dependentes da mulher.

Não existe um fator determinante para essa dificuldade, porém, é possível listar algumas causas, sendo a principal a idade. O adiamento da maternidade para depois dos 35 anos diminui as chances de reprodução, por exemplo.

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Além disso, é possível observar questões biológicas, como disfunções de ovulação e alterações nas trompas uterinas. Ainda, estudos recentes apontaram que a obesidade e até a poluição no ar colaboram com a infertilidade.

Trata-se de uma questão sensível e que afeta a saúde mental da mulher. Por conta disso, é importante ter empatia e respeito para saber lidar com a situação. A terapia também é um espaço importante para lidar com certas frustrações decorrentes desse processo.

Apesar disso, a maternidade não precisa ser necessariamente biológica. Existem outros caminhos para tal, como a adoção. Não é uma gravidez que define quem é mãe ou não, portanto, é interessante olhar também para alternativas.

Não quero ser mãe

Enquanto a maternidade é cobiçada por algumas, existem mulheres que não desejam essa vida para elas. Aliás, de acordo com uma pesquisa realizada pela Bayer, 37% das mulheres brasileiras não querem ter filhos.

A não maternidade é uma opção e uma escolha que precisa ser elucidada. Desde pequenas, as meninas são “convidadas” a brincarem de bonecas e de casinha. Esse pequeno gesto reflete uma cultura ainda voltada na mulher como uma figura materna.

Entretanto, essa é uma decisão que somente aquela mulher pode tomar. Infelizmente, ainda existe um enorme preconceito com as pessoas que não desejam ter filhos. A pressão pela maternidade existe, porém, é preciso entender a escolha de cada um.

Toda pessoa possui o seu contexto e os seus objetivos na vida. As mulheres carregam historicamente e culturalmente essa figuração de mães, mas devemos respeitar a trajetória que cada uma escolhe para si.

LEIA MAIS: “Não quero ser mãe” – A pressão psicológica em não querer filhos

1 COMENTÁRIO

  1. Eu diria que acompanha a pessoa para a vida toda: a memória fetal, inclusive há iniciativas como o pré natal psicológico as gestantes que residam em favelas, para que o dia a dia vivido pelas gestantes Não prejudique a tranquilidade necessária ao bom desenvolver fetal! E as últimas gerações, começando na Década de 80, começaram a ter contato com o mundo exterior a partir do 4. mês de nascimento e, mesmo as que não iam as creches ficavam nos chamados “chiqueiros”, onde muitas vezes os brinquedos nem eram guardados pelas mães que no dia seguinte voltavam a por as crianças naquele espaço delimitado a elas! Portanto, pensar muito antes de gerar filhos, afinal o feto gerado com contrariedade (não desejado) “sentirá” essa rejeição por toda vida, manifestado através da tristeza, baixa estima, desânimo e como dizem os jovens, terão o “estilo” largadao!!!

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