Body positive: a importância do movimento na atualidade

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Nosso corpo nos situa, ou seja, é uma forma de ser e estar no mundo. Percebemos a tudo e a todos. A cultura nos constitui, assim como a constituímos. Nosso corpo nos compõe, assim como subjetivamente, compomos nosso corpo. Não temos como nos separar dele.

Por meio do corpo alcançamos o mundo. Somos o nosso corpo no mundo. Nosso corpo é condição necessária para percebemos nosso campo de presença no mundo. O corpo nos situa, limita e demarca tornando possível a relação com outros corpos. A subjetividade está tanto no corpo, como na própria mente. Isto é, somos nosso corpo com os outros corpos no mundo.

Percebemos nosso corpo não apenas como um objeto localizado no espaço. O corpo é a condição necessária para perceber, sendo esse, o campo de presença no mundo. Ele nos situa, pois nos relaciona com o espaço, tempo e outros seres. Ao mesmo tempo nos limita. Tal limite demarca, tornando possível a relação com o outro. Através dele desenvolvemos posturas.

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Entretanto, algumas questões problemáticas surgem quando a sociedade começa a associar valores subjetivos aos valores estéticos. Isto é, quando a beleza externa passa a ser compreendida como um reflexo direto da beleza interna.

A relação com o corpo na atualidade

Na atualidade, quem não tem um corpo bronzeado, malhado, magro, lipoaspirado e siliconado, é visto como alguém que fracassou inclusive em outras dimensões da vida, como finanças, profissão, família, vida sentimental, amizades, dentre outras. É determinado culturalmente que tenhamos um visual de corpo igual a uma máquina de produção.

Inclusive, as ciências biomédicas e demais mercados padronizadores fazem essa associação. Desse modo, relacionam a obesidade com preguiça, lentidão, acomodação, falta de saúde, baixa agilidade, pequena produtividade, falta de cuidado, desleixo, dificuldade de adaptação, falta de flexibilidade e predisposição à outras doenças fatais.

O culto ao corpo tem tido o objetivo de corporificar “identidades” pautadas em modelos inalcançáveis, em que cada um se torna individualmente responsável pelo corpo que possui. Quanto mais considerado apropriado, maior atribuída será sua capacidade de autodisciplina e cuidado. A disciplina corporal cria corpos padronizados e subjetividades controladas.

O “problema” de estar fora do padrão

As normas de funcionamento sociais, principalmente aquelas regidas pelos mercados capitalistas, estão pautados na disposição, rapidez, vigor, agilidade, produtividade, cuidado, flexibilidade, saúde, juventude e adaptação instantânea. Ou seja, propõem o oposto do que o corpo obeso simboliza socialmente.

As indústrias relacionadas ao emagrecimento, principalmente as que pertencem ao ramo da saúde, estética e moda, movimentam cifras bilionárias no mundo inteiro em nome da “saúde e estética física ideal”.

Diferenças de classe social, etnia, gênero e geração, historicamente criadas tendem a ser percebidas como naturais e corporalmente visíveis. Por isso mesmo, modificável por meio de técnicas de adequação corporal. O sistema socioeconômico molda nossos corpos para que eles sejam extremamente produtivos e consumistas.

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Desse modo, é como se alguém pudesse deixar de ser pobre, feio, obeso ou idoso apenas por meio de técnicas, cosméticos, drogas e cirurgias para se adequar ao “padrão de sucesso”. A ideia é que o corpo considerado “fora da forma” padrão é o reflexo direto de uma alma que também está “fora da forma” padrão.

Entretanto, tais preconceitos geram problemas psicológicos, psiquiátricos e, quando extremos, até resultam em homicídios e suicídios. Por conta disso, a retomada de uma narrativa capaz de abraçar todos os tipos de corpos é fundamental. Nesse contexto, aparece o body positive.

O que é body positive?

A positividade corporal é um movimento social focado em capacitar os indivíduos, não importa seu peso físico ou tamanho, ao mesmo tempo em que desafia as formas como a sociedade apresenta e vê o corpo físico. Tal pensamento defende a aceitação de todos os corpos, independentemente da capacidade física, tamanho, sexo, raça, etnia ou aparência.

O movimento body positive vem para resgatar a autoestima das pessoas discriminadas. Desse modo, propõe que elas possam se ver e considerar os demais como seres totais e não apenas como meros pedaços de carnes e ossos. Portanto, fica a questão: quem somos nós afinal? O processo de psicoterapia sempre pode ajudar nessa descoberta.

Nesse sentido, é interessante trazer os ensinamentos do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. O autor traz que o corpo humano não deve ser entendido somente pelo ponto de vista objetivo científico, pois ele é a base para a existência.

Merleau-Ponty defende que não há separação entre corpo e mente/alma, mas sim coexistência. Somos unidade única, duplicidade una e unidade ambígua. O conceito de experiência ainda define que somos consciência entre aquilo que foi denominado de espírito e o que foi apontado como matéria.

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Para Merleau-Ponty o corpo não é um objeto. Quer se trate do corpo de alguém quer se trate do próprio corpo. O único modo de conhecê-lo é vivenciando seu próprio drama e aquilo que lhe atravessa confundindo-se com ele.

No plano pré-reflexivo somos vivência; no plano perceptivo, somos experiência. Ora nos percebemos mais corpo, ora nos percebemos mais mente (conhecida também na filosofia como alma ou espírito).

Nesse sentido, o movimento body positive abraça essa ideia. O corpo, independente de qual seja, é válido e suficiente. Desse modo, a experiência que alguém possui com ele e a subjetividade que dará são aspectos que cada pessoa irá descobrir.

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Desde que me formei em Psicologia em 2002, já iniciei meus atendimentos em consultório, onde estou até hoje. Logo em seguida fiz cursos na área clínica em Gestalt-Terapia e Psicoterapia Existencial. Dediquei-me também aos estudos de mestrado e doutorado voltados a Psicologia Social, Sexualidade e Envelhecimento. Além disso, sou plantonista voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 1998, prestando apoio emocional, psíquico e prevenção do suicídio. É importante mencionar que atuei cinco anos como Psicólogo Clínico no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Quando solicitado, palestro em escolas, ONGs, etc. Em 2013 lancei o livro "Travestis Envelhecem?" e em 2017 o meu segundo, intitulado "Homofobia Internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo" ambos pela editora Annablume. Atuo como Psicólogo voluntário em uma ONG que presta amparo ao LGBTQIAP + idoso dentre outras. Também leciono no Centro Universitário São Roque. Atendimento a partir dos 18 anos de idade.

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