“Isso é bobagem”. “Tudo coisa da sua cabeça”. “A pessoa está de frescura”. Quantas vezes já não ouvimos essas frases sendo utilizadas para descrever um caso de transtorno psicológico? Bem, apesar do tema estar cada vez mais em alta, o preconceito é evidente, principalmente quando observamos o que deixa de ser feito e os impactos negativos disso na vida da pessoa. Ignorar a saúde mental pode custar caro.

Segundo dados da Pesquisa Vigitel, cerca de 11,3% de brasileiros foram diagnosticados com depressão nos últimos anos. Dados que, por sua vez, ainda estimam um número mais alto, pois nem todos procuram a ajuda necessária.

Para as empresas, esses dados podem ser alarmantes. É preciso compreender que há uma grande conotação histórica negativa da procura por ajuda por questões psicológicas e isso afeta o indivíduo, e também a sua produtividade e criatividade, elementos importantes para o trabalho.

Como o estigma social afeta a saúde mental?

O desconhecimento das doenças mentais e a subnotificação atrapalham a vida dos indivíduos. Então, vamos utilizar a depressão como um exemplo. Afinal, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ela será a principal razão mundial de incapacitação no trabalho.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%, ou seja, aproximadamente 32 milhões de pessoas irão sofrer com a doença em algum momento.

De acordo com um estudo, apenas 57% dos funcionários com sintomas de depressão grave disseram ter recebido tratamento de saúde mental nos últimos 12 meses. Entretanto, daqueles em tratamento, menos da metade – cerca de 42% – estava recebendo tratamento considerado adequado.

Porém, a situação é ainda mais complicada, pois cerca de 40% das pessoas com depressão não sabem sequer que possuem a doença. Tal conjuntura problemática acarreta em diversas consequências para a saúde da pessoa, além de incorrer em tempo e gastos nunca recuperados.

Sinais do surgimento de um transtorno psicológico

É normal que o indivíduo, alheio à depressão, procure uma solução para os diversos sintomas físicos que sente, mas não consegue encontrar uma resposta, pois a questão é psíquica. Tal fato eleva os custos com exames laboratoriais, já que se trata de uma doença mental, excedendo com isso os níveis de sinistralidade impostos pelos convênios.

Então, mesmo com tantos casos de depressão divulgados na mídia, as pessoas ainda vêem a doença como algo relacionado a fraqueza de caráter. Aliás, acham que podem resolvê-la apenas com força de vontade e buscando apoio em tratamentos alternativos.

No entanto, a depressão envolve uma base bioquímica e comportamental, que precisa ser analisada e cuidada. Por isso, os tratamentos, geralmente, abrangem medicação adequada e acompanhada por um médico especialista e psicoterapia realizada por um psicólogo.

Os principais sinais do surgimento de um transtorno psicológico são:

  • Níveis altos de ansiedade;
  • Estresse incomum;
  • Dores de cabeça e enxaqueca;
  • Alterações no sono;
  • Cansaço;
  • Apatia.

O problema dentro das empresas

O preconceito, o estigma e o tabu ainda persistem, o que acarreta numa intimidação e impede a busca por uma ajuda especializada. No entanto, essa questão fica ainda mais evidente dentro do ambiente corporativo.

O ser humano, sem sombra de dúvida, é o instrumental mais importante das empresas. Esse capital intelectual não é físico e não pode ser visto, mas está transformando rapidamente o mundo dos negócios: ter as pessoas certas e mantê-las bem emocionalmente é vital para as organizações.

Entretanto, a prática demonstra que as corporações não estão conseguindo tratar sobre a saúde mental dos indivíduos com excelência. Além disso, a confiança dentro da organização também continua sendo um problema. Nesse sentido, a maioria dos indivíduos com distúrbios psicológicos não se sentem confortáveis para conversar com seu empregador sobre o assunto.

Dessa forma, é possível perceber que existe um descompasso entre o sentimento das pessoas e o que está sendo feito pelas instituições. Os problemas de saúde mental estão ocorrendo, porém, não estão sendo reportados, seja pelo tabu do tema ou pela própria falta de conhecimento. O resultado: prejuízo em termos de produtividade e dificuldade em resolver o problema em questão.

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Ignorar a saúde mental dentro das empresas é um prejuízo

Uma empresa é um conjunto de pessoas, recursos e tecnologias que visa o alcance de um objetivo comum. A coletividade e o trabalho em equipe são, portanto, as principais características de uma companhia para alcançar a lucratividade, competitividade e produtividade.

Por essas questões, é importante que a empresa cuide e esteja aberta às necessidades dos indivíduos dentro de seu contexto organizacional. Não pensar na saúde emocional das pessoas pode acarretar em prejuízos não percebidos imediatamente, mas que podem ao longo do tempo comprometer o futuro.

Dessa forma, cuidar da saúde mental dos profissionais deve ser uma das prioridades. Afinal, é preciso que os funcionários estejam bem e tenham prazer em desenvolver as suas funções. Todos dentro do ambiente corporativo devem perceber que não precisam ter medo de descobrir, assumir e desenvolver sua própria potencialidade.

Como ter colaboradores saudáveis psicologicamente?

Para impulsionar a saúde emocional dos funcionários, é interessante trabalhar campanhas de conscientização e educação sobre um estilo de vida saudável (físico e mental). Além disso, é fundamental que a organização cuide da saúde emocional desses indivíduos, através de atendimento psicoterápico.

A manutenção da saúde mental do trabalhador é importante não somente pelos aspectos econômicos, mas também pelo incremento na qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, uma vida equilibrada possibilita que os colaboradores lidem melhor com as adversidades, além de respeitar com integridade a si e aos outros.

Sendo assim, abordar o assunto deve ser algo normal dentro do ambiente corporativo. Falar é conscientizar. Conscientizar é tratar com eficiência. As pessoas precisam estar confortáveis em comentar os seus problemas e procurar ajuda quando precisam. A saúde delas agradece e o trabalho também.

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Psicóloga formada em 1982, me especializei em Psicoterapia Breve e Psicologia Hospitalar, tendo feito mestrado em Psicologia da Saúde. Toda minha vida profissional foi fundamentada numa postura ética humana, tendo trabalhado como psicoterapeuta (analítica dinâmica) em meu consultório, psicologia oncológica e psicologia hospitalar (UTI de adultos - politrauma, cardiologia e neurologia), sala de Emergência (atendendo tentativas de suicídio por intoxicação e dependência química) e também atuado como professora de Psicologia Educacional, em escolas estaduais no início de carreira, nas Faculdades Oswaldo Cruz (curso de especialização em Oncologia) e na UNICID (matéria de toxicologia clínica na Faculdade de Medicina e Psicologia Forense na Faculdade de Direito). No hospital fui Chefe da clínica de Psicologia Hospitalar (por três anos) e na clínica de oncologia coordenei a equipe multiprofissional. Atualmente atendo clinicamente, e desenvolvo um trabalho de mentoria.

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