O comportamento suicida é uma realidade complexa e dolorosa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Trata-se de um tema delicado e de extrema importância, exigindo compreensão, empatia e esforços conjuntos para sua prevenção.

Muitos fatores podem contribuir para o surgimento desses sentimentos extremos, desde desafios emocionais e psicológicos até pressões sociais e problemas de saúde mental.

Suicídio e morte

A morte é a única certeza do fim da existência humana e, mesmo assim, ainda é pouco discutida. O tabu impede a assimilação do luto e preferimos evitar o assunto como uma maneira de fugir da dor e da tristeza. Entretanto, tal atitude atrapalha a forma como lidamos com as perdas.

No entanto, falar sobre morte é falar sobre a vida. Trata-se de compreender a finitude da existência e exaltar o tempo presente. Contudo, não existe problema em debater sobre o tema, aliás, somente aumenta a percepção da realidade e ajuda a evitar o encerramento da vida por vontade própria.

O suicídio, por sua vez, é o tipo de morte que rompe de forma violenta o vínculo do desenvolvimento humano. Ele foge da construção natural do morrer imposta pela sociedade, intensificando, assim, a dificuldade de aceitação e elaboração do luto para quem convivia com a pessoa falecida. Nesses casos, a posvenção é interessante.

O que é uma posvenção?

A posvenção refere-se ao conjunto de ações e apoio oferecidos a indivíduos que foram afetados pela perda de alguém por suicídio. É um compilado de medidas que visam ajudar as pessoas enlutadas a enfrentar a dor, o luto, a culpa e as emoções complexas que podem surgir após a morte de alguém por suicídio.

Quando o suicídio ocorre, seus efeitos reverberam não apenas na vida do indivíduo perdido, mas também nas pessoas ao seu redor. A posvenção, muitas vezes negligenciada, é um processo que pode ser feito em grupos de apoio, terapia individual e recursos online que podem oferecer um espaço seguro para compartilhar emoções.

Comportamento suicida: o início do perigo

O comportamento suicida envolve o ato intencional de infligir dano a si mesmo, com o objetivo final de pôr fim à própria vida. Nesse sentido, é importante destacar que esse comportamento pode manifestar-se tanto em casos de suicídio consumado quanto em tentativas de suicídio.

Todavia, é importante entender que esse comportamento suicida é algo multifatorial. Dessa forma, tudo englobado na existência do indivíduo reflete de alguma forma na atitude e pensamento existente. Sendo assim, é necessário analisar fatores ambientais, psicológicos, culturais, biológicos, religiosos e políticos quando falamos de suicídio.

Entretanto, um ponto essencial para destacar é que o comportamento suicida nem sempre dá em morte. Geralmente, a pessoa vê nos impulsos um caminho mais rápido para alcançar o seu desejo, que, muitas vezes, é o fim do sofrimento, assim, podendo ocasionar de fato a morte.

Por que mortes por suicídio não são divulgadas?

O suicídio é frequentemente considerado um assunto delicado e complexo, e a decisão de notificá-lo ou não envolve uma série de fatores que variam de país para país e de contexto para contexto.

No entanto, há preocupações legítimas de que a cobertura sensacionalista e detalhada de suicídios possa levar a um fenômeno conhecido como “efeito de contágio” ou “suicídio por imitação”.

Isso ocorre quando a divulgação de suicídios pode levar a um aumento nos comportamentos suicidas em outras pessoas vulneráveis, que podem ser influenciadas pela exposição a essas histórias.

A dor de perder alguém por suicídio

O suicídio não afeta somente o indivíduo que tira a própria vida, mas todas as pessoas que estão à sua volta, especialmente a família. Dessa forma, para os mais próximos da pessoa que cometeu o ato, a vida fica radicalmente transformada.

Sendo assim, a partir do momento que isso faz parte da história de alguém, essa pessoa tem sua vida irremediavelmente marcada. Os principais sentimentos dos familiares do suicida são o medo, a culpa, a raiva, a tristeza, a ansiedade, a vergonha e a saudade.

As pessoas mais próximas do suicida pode também passar pelo transtorno pós-traumático, pois vivenciam o luto da perda e o trauma provocado pelo ato. A morte de um ente querido por suicídio, geralmente, traz conflitos, muitas vezes encobertos, pois a estigmatização acrescenta um processo de estresse ao luto.

Fatores de risco e sinais do suicídio

Clinicamente, é necessário compreender o sofrimento para entender como determinada pessoa chega ao ato suicida. No entanto, temos que prestar muita atenção para que o suicídio não se efetive, uma vez que o comportamento suicida pode ser evitado.

Dessa forma, a pessoa que pretende cometer o suicídio apresenta uma classe de fenômenos antes do ato. Então, é fundamental prestar atenção nos sinais que essas pessoas apresentam para conseguir prevenir o desfecho da história.

Sendo assim, vale ressaltar os sinais e fatores de risco presentes na vida de uma pessoa que influencia na tomada de decisão rumo ao suicídio. Confira a seguir os sintomas do comportamento suicida:

  • Histórico de tentativas anteriores;
  • Depressão;
  • Transtornos de personalidade;
  • Doenças mentais;
  • Isolamento social;
  • Frustração da vida moderna;
  • Relacionamentos afetivos abusivos ou fracassados;
  • Histórias de tentativa ou suicídio na família;
  • Dependência química e medicamentos psicoativos;
  • Doenças físicas crônicas em estágio avançado.

Identificar esses sinais pode ser o fator determinante para conseguir ajudar e prevenir o comportamento suicida na pessoa. Entretanto, também é imprescindível tomar cuidado com outros aspectos subjacentes da questão, principalmente, se houver qualquer suspeita.

Nesse sentido, quando nos deparamos com uma tentativa de suicídio é muito importante sabermos o método utilizado pela pessoa e ter rápido acesso aos serviços de emergência. Afinal, todas essas questões somadas com a vulnerabilidade da vítima, interferem no resultado final, independente da intenção ou não de morrer.

Um problema de saúde pública

A cada 40 segundos ocorre uma morte por suicídio. A cada caso de suicídio, estima-se que há 20 tentativas de suicídio. As informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) assustam e refletem o grave problema de saúde pública mundial.

Todavia, no Brasil, o país registra uma morte a cada 45 minutos, além de ocupar o décimo primeiro lugar no ranking dos países que apresentam mais casos de comportamento suicida.

Dessa forma, é possível observar diversas lacunas no sistema. Não existem grupos de apoio suficientes, falta capacitação para atender tais casos, existe uma ausência de programas socioeducativos em escolas e universidades, além de possuir pouco investimento na produção de pesquisas sobre a temática.

Tal negligência aumenta o número de casos e reflete o descaso da realidade. Nesse sentido, é fundamental instituir políticas públicas de saúde, contemplando a prevenção e o tratamento do comportamento suicida.

Como prevenir o comportamento suicida

Bem, não existe uma estratégia única de prevenção do comportamento suicida. Dessa forma, é mais interessante apostar em intervenções multidisciplinares para combater esse problema. Sendo assim, algumas formas de prevenção necessárias e que devem ser observadas quando ocorrer o comportamento suicida são:

1. Estabelecendo um diagnóstico efetivo

Identificar e tratar as causas subjacentes do comportamento suicida é essencial para a prevenção. Nesse sentido, é crucial diagnosticar e tratar transtornos psiquiátricos e patologias associadas.

Além disso, é necessário dar uma atenção especial ao transtorno da depressão, especialmente em grupos vulneráveis como idosos e dependentes químicos.

2. Aderir uma abordagem Individualizada

Adotar uma abordagem sistêmica e multidisciplinar é uma etapa fundamental. Estabelecer um vínculo solidário com o paciente não só aumenta a continuidade do tratamento, mas também facilita a implementação de intervenções psicossociais.

Essas abordagens holísticas são, por outro lado, essenciais para tratar as complexidades subjacentes ao comportamento suicida.

3. Redução de métodos letais

Uma estratégia altamente eficaz é a redução dos métodos letais. Isso visa diminuir as tentativas impulsivas e a gravidade das lesões associadas ao comportamento suicida. Isso inclui a implementação de medidas para controlar o acesso a armas de fogo, facas, medicamentos e substâncias tóxicas.

4. Conhecer os serviços de emergência

Estar ciente dos serviços de emergência disponíveis para casos de tentativa de suicídio é uma etapa vital na prevenção. Profissionais de saúde e indivíduos próximos ao paciente devem conhecer os procedimentos adequados para lidar com essas situações urgentes.

Logo, ter acesso rápido a ajuda especializada pode fazer a diferença na intervenção eficaz e no suporte imediato.

A terapia para casos suicidas

A terapia desempenha um papel crucial na abordagem dos casos suicidas, oferecendo um suporte vital para indivíduos que enfrentam sentimentos de desespero e ideações suicidas.

Ao empregar abordagens terapêuticas adequadas e sensíveis, os profissionais de saúde mental podem ajudar os pacientes a enfrentar seus desafios emocionais e encontrar estratégias para uma vida mais saudável e significativa.

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Psicóloga formada em 1982, me especializei em Psicoterapia Breve e Psicologia Hospitalar, tendo feito mestrado em Psicologia da Saúde. Toda minha vida profissional foi fundamentada numa postura ética humana, tendo trabalhado como psicoterapeuta (analítica dinâmica) em meu consultório, psicologia oncológica e psicologia hospitalar (UTI de adultos - politrauma, cardiologia e neurologia), sala de Emergência (atendendo tentativas de suicídio por intoxicação e dependência química) e também atuado como professora de Psicologia Educacional, em escolas estaduais no início de carreira, nas Faculdades Oswaldo Cruz (curso de especialização em Oncologia) e na UNICID (matéria de toxicologia clínica na Faculdade de Medicina e Psicologia Forense na Faculdade de Direito). No hospital fui Chefe da clínica de Psicologia Hospitalar (por três anos) e na clínica de oncologia coordenei a equipe multiprofissional. Atualmente atendo clinicamente, e desenvolvo um trabalho de mentoria.

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