“Falar com um amigo e psicólogo é a mesma coisa, não é? Afinal, é só uma conversa”. Não é incomum encontrar pessoas que pensem dessa maneira. Na superfície, o acompanhamento psicológico pode parecer uma simples conversa.

Sim, na superfície, pois uma vez compreendido o papel da terapia, não é possível mais realizar essa analogia. Aliás, a confusão entre amizade e terapia pode ter efeitos drásticos para o relacionamento das pessoas – e essa questão é pouco levantada quando vamos desabafar com alguém constantemente.

Amizade e psicoterapia: o que são?

Amizade é um conceito fluído e possui diversas acepções ao longo do tempo, entretanto, para efeitos do presente artigo utilizar os estudos do sociólogo Graham Allan. Segundo ele, a amizade e a sua manutenção dependem de três características chaves: interesses compartilhados, igualdade e reciprocidade.

Dessa forma, as amizades só persistem se ambas as partes compartilharem uma perspectiva comum, forem aproximadamente iguais em termos de status social e econômico, e forem capazes de dar e receber apoio mútuo. O como conversar é fundamental.

A psicoterapia, por outro lado, é definida pela Associação Psiquiátrica Americana como “uma maneira de ajudar pessoas com uma ampla variedade de doenças mentais e dificuldades emocionais. A psicoterapia pode ajudar a eliminar ou controlar os sintomas problemáticos, para que uma pessoa possa funcionar melhor e aumentar o bem-estar e a cura”.

O psicoterapeuta Jeffrey Sumber ressalta a importância da terapia em ajudar os pacientes a se conhecerem e crescerem pessoalmente. “A terapia, no seu melhor sentido, é um processo de desdobramento de nossa sabedoria inerente que muitas vezes é aprisionada sob camadas de condicionamento, medo e reatividade”, diz.

Em relação a diferença entre conversar com amigos e realizar a psicoterapia, Sumber comenta que “nossos amigos muitas vezes ficam felizes por nós ou temem por nós, mas normalmente não estão elaborando seus comentários para apoiar nosso crescimento e a mudança a longo prazo”.

A diferença entre conversar com um psicólogo e um amigo

Conversar com alguém, seja um amigo ou psicólogo, é imprescindível à saúde mental, entretanto atuam em esferas separadas da nossa vida. As conceituações evidenciam uma primeira diferença, porém é necessário esclarecer os pontos em que elas são distintas.

A amizade envolve uma troca mútua. O encontro é algo mais pontual e ambas as partes se beneficiam da convivência. O aspecto positivo é o que mantém o elo entre as pessoas. Ajudar e escutar o amigo em dificuldade faz parte desse acordo social, porém há um limite para que a relação não se desgaste.

Descarregar constantemente nossa carga negativa nos amigos não é uma boa opção, pois todos temos os nossos problemas. É importante ter alguém para conversar, mas é importante separar os momentos. Quando realizamos isso deixamos de tratar a amizade como algo positivo e mútuo, mas vemos uma relação “benéfica” somente para uma das partes.

O psicólogo é importante nesse contexto, alguém para desabafar. A relação profissional permite que a terapia seja um espaço focado somente no paciente. O espaço é um ambiente reservado para discutir os problemas que a pessoa possui. Além disso, a recorrência do acompanhamento psicológico é fundamental para o tratamento dessas questões – o que vai na direção contrária dos encontros pontuais da amizade.

Estamos tratando também de um profissional, ou seja, alguém que passou por toda uma graduação e atua de forma especializada no tema. O psicólogo é a figura correta para tratar de questões psicológicas, pois ele irá focar no crescimento a longo prazo do paciente. Os amigos procuram soluções mais imediatas e raramente possuem conhecimento no assunto apresentado à eles.

Outro ponto a ser considerado é a imparcialidade do terapeuta. Nesse sentido, podemos nos sentir desconfortáveis com o julgamento das pessoas mais próximas sobre as nossas ações e pensamentos. Já no acompanhamento psicológico não há essa preocupação, pois esse é o ambiente para a pessoa se abrir sem restrições. Ela precisa disso para compreender o que aconteceu e, assim, aprender e crescer com isso. Conversar com um psicólogo ajuda nesse quesito.

A confidencialidade é um aspecto fundamental na conduta do psicólogo. Enquanto amigos podem espalhar informações que não gostaríamos – mesmo sem segundas intenções -, o psicólogo possui uma ética profissional de reter as informações somente para o espaço da terapia. Está precisando desabafar? Talvez o psicólogo online seja a pessoa correta para isso.

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