A síndrome acomete cerca de 75% de mulheres e tem efeitos alarmantes na vida de quem luta diariamente contra ela.

Dona de uma das vozes mais marcantes da atualidade e de atitudes polêmicas, a cantora Amy Winehouse morreu em 2011, aos 27 anos de idade, após uma intoxicação alcoólica. Mas, o que muita gente não sabe é que, por trás das tatuagens, do álcool, das drogas e de seu comportamento controverso, a diva inglesa sofria de um transtorno pouco falado: A Síndrome de Borderline.

O filme “Garota Interrompida”, dirigido por  James Mangold e baseado no livro de Susanna Kaysen, mostra a história da própria autora diagnosticada com o transtorno na década de 60.

“Sei exatamente como é querer morrer, como dói sorrir, como você tenta se encaixar e não consegue. Como você se fere por fora tentando matar o que tem dentro.” – Garota Interrompida, 1993.

O que é Borderline?

Também conhecida por Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Transtorno de Personalidade Borderline, a Síndrome de Borderline é caracterizada por um padrão de mudanças súbitas de humor, comportamentos impulsivos e autodestrutivos, deturpação da autoimagem, compulsões, descontrole emocional, entre outros.

Essa condição gera episódios intensos de raiva, ansiedade, depressão e dificuldade em criar laços, já que seus relacionamentos são instáveis. Os acessos de fúria de Amy Winehouse viraram piada na mídia, assim como seu relacionamento conturbado com o Blake Fielder-Civil.

O que significa Borderline?

O primeiro teórico a utilizar o termo “borderline” foi o o psicanalista alemão Adolf Stern na obra “Terapia e investigação psicanalítica do grupo das neuroses borderline”. A palavra “borderline” vem do inglês e significa “na fronteira”, fazendo uma alusão aos portadores da condição que vivem no limite entre a neurose (perturbações sensoriais, motoras, emocionais e/ou vegetativas de origem psíquica que conservam a referência à realidade) e a psicose (há perda de noção da realidade).

Sinais e Sintomas do Borderline

Os indivíduos com  Borderline apresentam incertezas sobre quem são, além de mudanças súbitas e extremas de humor e interesses. Conheça mais alguns sintomas e sinas sobre o que o Borderline causa.

  • Autoimagem distorcida: O borderline possui instabilidade sobre seu próprio ser, ele não sabe ao certo quem é, e essa falta de si gera baixa autoestima. Amy não apenas gostava de tatuagens, mas cobriu seu corpo com elas, uma atitude desesperada em se esconder e tentar suprir a falta de identidade que possuía sobre si mesma.

  • Relações instáveis, intensas e turbulentas: Não é segredo algum a relação conturbada entre Amy e Blake. As idas e vindas, o abuso de drogas e alcóol e a prisão de Blake, separando marido e mulher, era longe de ser calmo e sadio. O padrão dessas relações intensas e instáveis ​​com familiares, amigos e entes queridos, é uma das características de quem sofre de Borderline. As emoções são fortes e passam do controle, resultando em episódios de extremo afeto e de extrema fúria ou desvalorização. As paixões são fulminantes, mas passageiras.  

  • Impulsividade:  Agem muitas vezes sem pensar nas consequências, seja com compras, abuso de substâncias ilícitas, sexo, etc. A impulsividade é um dos traços do Borderline e gera ações imprudentes e com tendências à compulsão. 

  • Alterações de humor: As mudanças repentinas de humor variam entre momentos de extrema euforia e de profunda melancolia. 

  • Automutilação e comportamento suicida: Aliviar a angústia emocional no próprio corpo através de ferimentos, cortes, queimaduras, entre outros, é um traço muito comum entre os pacientes. Por terem uma noção deturpada de sua própria imagem, os indivíduos que sofrem do transtorno praticam a automutilação para aliviar as dores emocionais a fim de tentarem minimazá-las e controlá-las. Esse comportamento auto-destrutivo pode chegar ao nível de suicídio, por isso o diagnóstico é de vital importância. 

  • Sentimento de abandono e solidão: O medo de ficar sozinho e de ser abandonado por aqueles a quem ama é extremamente intenso em quem sofre da síndrome. Por isso, se tornam muito possessivos e pouco compreensivos com a falta das pessoas amadas.

  • Descontrole: Domar as emoções é uma tarefa muito complicada para eles. As emoções estão frequentemente à flor da pele, então episódios de fúria, descontrole, irritabilidade, pânico e agressividade podem acontecer, e se não for tratado, pode ser extremamente perigoso, tanto para o paciente quanto para aqueles que o cercam. 

Entenda a diferença entre Borderline e Bipolaridade aqui!

Tipos de Borderline

Não existe uma classificação oficial e científica sobre os tipos de Síndrome Borderline. Porém, alguns autores se empanharam em estudar possíveis diferenças entre os indivíduos com o transtorno. 

Fatores de Risco

As origens do Transtorno de Personalidade Borderline ainda são pouco conhecidas. Sabe-se que existe uma predisposição genética para ela acontecer e fatores psicobiológicos acerca do descompassado cerebral do neurotransmissor serotonina.

Outro possível causador do transtorno pode ser gerado por eventos traumáticos vividos pela pessoa durante a infância ou adolescência, tais como  abandono,  diagnóstico de doença, orfandade, morte de entes queridos, abuso psicológico e/ou sexual, negligência, terror psicológico, separação dos pais, entre outros.

Gênero

De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), acredita-se que o transtorno seja mais predominante em mulheres (75%) e que os sintomas apareçam entre 18 e 25 anos de idade.

Borderline e Relacionamentos

O Borderline no amor possui um perfil extremamente intenso. O medo do abandono os torna possessivos e incompreensíveis: nenhuma justificativa é plausível para a falta do outro. Desconfiança os cerca e a insegurança toma conta.

O que os(as) parceiros(as) de pessoas com Borderline podem fazer é ter paciência, saber ouvir e insistir em seu acompanhamento psicológico. O apoio e presença são fundamentais.

Teste e Diagnóstico

Ainda pouco discutido, o Borderline por vezes é erroneamente diagnosticado ou não investigado. Quem pode diagnosticar a síndrome são os psiquiatras ou psicólogos através de análisesentrevistas completas durante a sessão psicológica, além de pedirem uma série de exames médicos.

A análise clínica pode ser uma ferramenta para descartar outras doenças e transtornos. É essencial realizar exames fisiológicos. O borderline no exame de sangue, ou hemograma, é identificável, assim como a sorologia. Ambos são utilizados na comparação e descarte de outras doenças mentais como depressão ou esquizofrenia, por exemplo. 

Tratamento

Na década de 60, o Borderline era pouco conhecido e seu tratamento difícil de ser feito, como mostra o filme “Garota Interrompida“, onde a jovem Susanna foi diagnosticada com o transtorno e levada à sessão de psicanálise e, induzida pelos pais,  internada em um hospital psiquiátrico.

Psicoterapia

Hoje os estudos sobre o transtorno são mais abrangentes e há outras medidas para serem tomadas antes de qualquer internação. O acompanhamento psicológico é o primeiro passo para tratar do Transtorno de Personalidade Limítrofe. O Borderline e esquizofrenia são muito associados, assim como o Borderline e depressão, por isso o diagnóstico e acompanhamento com o psiquiatra são fundamentais para distinguir as doenças e propriamente tratar a síndrome. Há também quem confunda Borderline e bipolaridade. São duas doenças distintas que requerem tratamentos específicos.

Medicamentos

A indicação de medicamentos aos pacientes com Borderline ainda não são primariamente feitas, já que não são concretas as melhorias e efeitos. Entretanto, o psiquiatra pode recomendar remédios para curar sintomas específicos, como alterações de humor, depressão, etc, fazendo uso de estabilizadores de humor e antidepressivos.

O que fazer para ajudar?

Existem diversas maneiras de ajudar o indivíduo com a síndrome. 

  • Pesquise e se informe sobre o transtorno. O conhecimento é essencial para identificar os sintomas e auxiliar o borderline em crise.
  • Incentive a pessoa a procurar ajuda profissional;
  • Procure um psicólogo para receber dicas de como lidar com a síndrome;
  • Não banalize a condição e as frases ditas pelo borderline. Elas contem pedidos de ajuda inconscientes ou avisos que podem ser transformados em atos, como o suicídio. Em situações de emergência, ligue para o psiquiatra ou para o Disque 188 do Centro de Valorização da Vida (CVV). 

Famosos com Borderline ou com indícios do problema

  • Amy Winehouse;
  • Princesa Diana (Lady Di);
  • Angelina Jolie;
  • Marilyn Monroe;
  • Lindsay Lohan;
  • Britney Spears;
  • Monique Evans.

Amy Winehouse, em seu single “Rehab”, cantou “Eles tentaram me levar para a reabilitação e eu disse não”. Uma das características do Borderline é a compulsão. Amy tinha problemas com o abuso de drogas e álcool, porém todas as suas tentativas de reabilitação e tratamento falharam. 

Quando o paciente se recusa a ter o tratamento adequado, é importante ter o apoio da família. A cantora e o pai, Mitch Winehouse, sempre tiveram um relacionamento conturbado. Os mais próximos da família dizem que ele tentou pegar carona na fama de Amy e se aproveitar de seu talento para ganhar dinheiro e o próprio estrelado. Tal abuso só piorou a situação da cantora.

Nenhuma doença psicológica deve ser banalizada. Sem o tratamento psicológico adequado, o sofrimento só aumenta, assim como as chances de mais destinos trágicos, como foi o de Amy Winehouse.

1 COMENTÁRIO

  1. Bom dia
    Estou pesquisando sobre o TPB e li aqui : “É essencial realizar exames fisiológicos. O borderline no exame de sangue, ou hemograma, é identificável, assim como a sorologia. ” Não encontrei em lugar algum referência sobre esse fato de que é possível identificar o sintoma com exames de sangue. Poderia me dar uma referência ou falar mais sobre isso.
    Obrigada

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